domingo, 31 de agosto de 2014

celulares e telemóveis

Mal necessário é uma música linda gravada por Ney Matogrosso na década de 1970. De autoria do médico Mauro Kwitko, a canção não tem muito a ver com o tema do que abordamos neste post. Mas, o título é da canção é a síntese de como me sinto em relação à telefonia móvel: uma mal necessário. O que encurta distâncias, evita desencontros, também causa dependências e invade privacidades. E mais uma vez, percebemos que o mal não é a tecnologia em si, mas o uso que se faz dela. Quando Santos Dumont criou o avião (e até sobre isso há controvérsias!), nunca imaginaria que o fantástico meio de transporte poderia ser uma máquina de morte em massa, seja na guerra ou na paz. Portanto, nada de hipervalorizar ou demonizar a tecnologia. Os deuses e demônios somos mesmo nós, ou como costumamos concluir lá na IES: o problema não é do sistema, é uma falha de PDO (P#*ra do operador). 

Pois bem, já abordei inúmeras vezes essa temática neste espaço, mas volto a esta porque temos uma jovem pré-adolescente sob nossa responsabilidade. E hoje em dia parece que esses ultra-jovens já vem de fábrica com os chips para facilitar a vivência com os eletrônicos. Mas, nessa vida, tudo tem limite. Como diria minha velha mãe "tudo de mais é exagero" e é preciso estabelecer regras para que seja possível a convivência normal entre seres humanos, bichos, bonecos e máquinas. Há mais ou menos um ano, Tony trocou o telefone dele. Justificável, pois na área de trabalho dele, não ter um carro decente e um telefone adequado perde-se contratos. Pesa muito a leitura social aos operadores do Direito. Afinal, quem contrataria um advogado de chinelinhas? Já para mim, as obrigatoriedades não estilísticas são mais flexíveis: como professora do ensino superior, da área de ciências humanas, já conquistei o direito de manter meu telefone sem nenhum blutoofizinho. Digamos que é excêntrico.  Enquanto ele fizer ligações e receber as chamadas, vai bem. Contudo, o nosso maior problema ao sul do Equador são as operadoras. Mas, isso é outra conversa. Pronto, então, Tony trocou o telefone dele, e passou antigo dele para mim. E eu passei o meu velhusco para Luiza. Quando começou o segundo semestre letivo de 2013, a menina começou a me consumir porque o telefone era muito limitado. Encheu tanto a minha paciência que eu comprei outro, um daqueles que tinha câmera, internet, teclado. Era até melhor que o antecessor que compráramos à 19 Euros no Pingo Doce, que chamamos de Titico. O  miserável do telefone durou até ela mudar de escola. Então, defasou. Tanto na escola nova quanto no inglês, os moleques estavam com androids e touch-não-sei-das-quantas. E o telefone começou a ficar esquecido na bolsa, na gaveta, até debaixo da cama. Até que um dia, foi esquecido numa mesa de algum restaurante popular. E ela voltou a usar o Titico do Pingo Doce. 

Ao mesmo tempo, ela começou a frequentar, e muito, o telefone do pai. Toda hora era: "me empresta teu celular?" E acabava com a bateria do outro, jogando, baixando jogos, músicas, e outros bichos. O telefone de Tony era cheio de Barbies e aplicativos de maquiagens. Então, um dia, Tony estava numa audiência, e esqueceu de desligar o telefone. Lá para as tantas, o Pou começou a pedir comida. Constrangido, desligou o telefone, sob o ar de riso do juiz, que conhecia muito bem o aplicativo, pois também tem criança pequena e já foi vítima de tal monstrinho faminto. Foi a gota d'água. Como estamos no mês dos pais e do aniversário de Tony, combinei com Luiza para que num sábado, ao final de um dia de aula na pós graduação, ela tomasse o ônibus e nos encontrássemos no centro da cidade para arranjarmos, de presente, um novo celular para o papai. Assim, todos lucravam. Tony, ganhou um telemóvel todo cheio das lérias. Luiza, herdou o telemóvel do pai, e todos os aplicativos que já havia baixado. Além dos jogos, o telefone é uma caixa de músicas sui generis: toca de Thiaguinho à Amália Rodrigues. Ainda comprou uma capinha toda 'tranchans' nos camelôs nigerianos lá do centro da cidade.  E eu fiquei com o Titico do Pingo Doce, pré-pago, e com minha paz de espírito.  

Então, depois de mais de quatro anos sem ir ao Banco do Brasil, na última quarta feira tive que ir enfrentar a fila para pagar impostos. E já havia percebido que há uma leitura social quanto ao tipo de telefone que o sujeito possui. Izabel comentava que numa reunião de trabalho quando o telefone tocou, pensou duas vezes antes de abrir a bolsa, atabalhoadamente para alcançar o aparelho pouco modernoso. E olhe que o dela não é dos piores. O meu é bem pior. Como ia dizendo, na porta giratória do banco (e os companheiros leitores europeus não saberão que as portas de bancos têm chatíssimos dispositivos detectores de metais que impedem a entrada de míseras moedas, chaves e telemóveis nas agências bancárias), percebi que a jovem que estava a minha frente hesitava em tirar algo da bolsa. Não tive dúvida: pedi-lhe licença, adiantei-me, e saquei o Titico do Pingo Doce da bolsa junto com as chaves com o chaveiro de metal da Mafalda que a Virgínia me trouxe da Argentina e joguei no depósito de acrílico. A jovem olhou para mim, com ar de riso, e tirou um telefone um pouco melhor que o meu, mas igualmente discriminado. Saímos rindo, cada uma para nossos compromissos. Eu, pensando que, somente quando eu puder, arranjarei um como aquele de Thayze, que vive indeciso se é um telefone ou um tablet! 

Até amanhã, fiquem com Deus.

Obs: Esse LG é o Titico do Pingo Doce. E o outro é o que tenho utilizado atualmente, que herdei de Tony Neto. Ambos, nem o ladrão aceita, mas funcionam para ligar (se tiver crédito!) e receber chamadas!



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