domingo, 24 de agosto de 2014

Comidinhas 8 - Tapioca

Tapioca, com créditos e tudo!
Então, nesses dias, temos corrido muito com nossas atividades. Luiza retomou o inglês no Speak! e mantém-se muito bem na escola. Para este mês, experimentamos aderir ao programa de lanches saudáveis ofertado no Restaurante Leve Sabor, mantido no Colégio XV. Funciona assim: no início do mês, os meninos levam uma guia com o cardápio de lanches do mês inteiro. Pagamos na tesouraria o valor estipulado, e os pequenos não precisam levar lanche de casa. O que eu mais apreciei foi o sossego. Acabou-se aquela agonia de ter que providenciar lanche de última hora ou deixar pela conta da menina, dando dinheirinho para ela comprar lanche na escola. O cardápio pareceu-me bom, balanceado, planejado por uma nutricionista criativa. O problema é que nem sempre a merenda agrada a menina, que volta com uma fome capaz de comer a casa. Ou se não, come o lanche dos colegas. Outro dia, era tapioca. Luiza odeia tapioca de qualquer espécie. Ela pegou o suco e disse para o colega comprar um pãozinho para ela. Dei-lhe uma bronca e mandei o dinheiro para que devolvesse ao menino. Não quero filha minha arregando recurso de rapaz, mesmo que ele tenha apenas 10 anos de idade. É de pequenino que se torce o pepino. No Fórum da Sustentabilidade, o Colégio recebeu meninos da rede pública para uma discussão sobre ambiente. E no final do encontro, como bons anfitriões, ofereceram um lanche coletivo no restaurante. Luiza foi confraternizar com os pequenos, e disse que o cachorro quente estava ótimo. É famoso o cachorro quente da tia Betania, já vi Iara Helena e Geo Agib comentando, saudosas, desse sanduíche.  Com a acidez que lhe é peculiar, a minha menina decretou: "Estava bom porque não foi a nutricionista que fez. A comida da nutricionista é muito sem graça." Apesar do meu sossego, a adesão ao lanche não deu muito certo. Mês que vem, retornamos à boia fria arranjada em casa mesmo. 

Ontem, por um acaso, nos encontramos, eu, Izabel e Mahria, no Salão da Kátia. É o salão mais cult de Garanhuns, já que a nossa cabelereira é professora de português da rede pública (uma das melhores que conheço), além de ser supercriativa e ter uma conversa agradabilíssima e divertida. Estava lá também nossa amiga Antonia, ex-secretária do Diocesano. Uma criatura maravilhosa. Além de dar um real de tesoura no cabelo, atualizamos as conversas. Mahria, satisfeitíssima, disse-nos que o filho mais novo está trabalhando num restaurante. Mais um que a comida leva. Ela, nutricionista. A filha do meio, gastrônoma cheia de estilo. E agora, o menino menor (é um rapaz imenso e forte!), se profissionaliza entre o mundo dos computadores e da alimentação. Fiquei muito satisfeita, pois, é muito bom ter a oportunidade de trabalhar com o que gosta. A vida mais perdida é aquela empregada em ganhar dinheiro às custas de muita contrariedade. É certo que em todo serviço temos dissabores. Mas, se você gosta da atividade, suporta-se melhor. A mãe do jovem, toda satisfeita, dizia que ele estava todo moído porque ralou não-sei-quantos cocos. É um rapaz forte, aproveita para malhar os braços. Todo começo é assim: ninguém começa como sous chef de cousine. A diferença é que no caso de Nyelsen, "ralar" é um verbo aplicado ao pé da letra: ele trabalha numa loja de tapiocas. 

Em 2008, Lula (o Luís Inácio) declarou que a comida típica de sua terra era a tapioca. Foi o suficiente para a imprensa brasileira voltar sua atenção à iguaria nordestina. A iguaria de origem indígena, feita com a fécula da mandioca, ganhou status de alimento de baixa caloria. O que aditiva a tapioca é o recheio. E nisso, o povo tem inventado: se salgada, a tapioca pode levar queijos, bacon, calabresa, carne do sol, charque. Se doce, entram doce de leite, nutella, chocolate, geleias diversas. Uma bagaceira. Eu, como fundamentalista da tapioca, prefiro a básica: massa branca e fininha, recheada com coco seco ralado. E só. No máximo, um pouco de manteiga de garrafa. A variedade de recheios surpreende até o mais inovador dos comensais. Na orla de Pajuçara (Maceió, Alagoas) os turistas disputam as mesinhas à beira mar para degustar as tapiocas mais styler. E elas são imensas, equivalem a um almoço. Sempre me prometo que na próxima vez, comerei meia tapioca, dividindo com alguém. Mas, quando chega lá, o cheiro da massa quentinha não permite que mantenha-se a jura. E sempre voltamos para casa com tapiocas embrulhadas para viagem. E sempre jogamos as tapiocas no lixo no outro dia, pois, como caldo de cana, tapioca só serve para comer na hora que é feita. Requentada é um castigo. Há também tapiocas maravilhosas no Alto da Sé, em Olinda. Coma apenas uma, e aproveite para comer as cocadas de coco verde. São maravilhosas. Por trás do Mercado Modelo, em Salvador, as tapiocas rivalizam com os carurus e acarajés. Não comi porque já havia devorado um acarajé tamanho GG e se processava uma revolução no meu estômago, enquanto Luiza tapava o nariz, incomodada com o intenso cheiro de dendê. Em Natal, a pequena orla de Ponta Negra cheira a amido de mandioca, assadas em pequenos tacho luzidios, brilhosos de tão limpos.   Em João Pessoa, a rapioca da Toca do Caju é um manjar. As jovens tapioqueiras, em trajes típicos, atendem os clientes em 3 idiomas. É a globalização da tapioca.  

Apesar de ser muito simples de fazer, esse prato típico do interior de Pernambuco tem seus segredos. Outro dia, inventei de fazer tapioca. Pedi a Tony que trouxesse a massa e o coco da feira. Tudo fresquinho na hora. Perto das 18 horas, após consultar o YouTube para tirar as dúvidas, armei-me com os utensílios de cozinha e iniciei os trabalhos. O primeiro desafio foi abrir o coco. Só percebi que não sabia expor a polpa branca e leitosa quando estava com o fruto na mão. Na surdina, fui-me ao quintal e lancei o coco ao chão. Aquilo lá seria capaz de matar um elefante. Juju fugiu desesperada para algum canto, crente que chegava o armagedon. Abri o coco, e o segundo desafio era ralar a polpa. Crente que estava arrasando, coloquei o material no liquidificador, que rapidamente tornou-se uma massa meio escura, por conta da membrana que separa a casca da polpa. Reservei. Fui à massa. Como mostrou-me a mulher no YouTube, peneirei a massa e pus sal. Só que a quantidade de sal que coloquei era adequado a um cuscuz. Somente depois é que percebi que goma toma sal de forma exagerada. Deve-se colocar só uma pitadinha. Pois, então, a primeira não deu certo. Joguei no lixo. A segunda, não deu certo. Nem a terceira. No quarto fracasso, desisti. Liguei para Tony, pedindo-lhe que passasse na padaria do Rildo e comprasse as tapiocas perfeitas, as mesmas que se come no apartamento de Ilza, cheirosas e quentinhas. Tapioca não é para qualquer um. E aprendi com a minha colega Rosa Antunes: "o que eu posso comprar feito, não faço." Dias depois, Ana Cláudia veio perguntar-me se eu não iria utilizar aquela massa de fazer bolo. Tony, equivocado, havia comprado a massa errada. Mas, não penso mais em fazer tapiocas. Isso não é para qualquer um.

Até amanhã, fiquem com Deus.

   

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