domingo, 30 de novembro de 2014

Intimidade na rede

Nem vou dizer. Ou melhor, digo-vos: nossa casa está um verdadeiro pandemônio. Quem acompanha este espaço já sabe que há sete anos moramos numa obra inacabada. Nossa história não foge a regra de tantas histórias de tantos casais trabalhadores de classe média-bem-média: entramos na casa tão logo apresentou condições mínimas para habitação. Tudo para fugir do aluguel, que, diga-se de passagem, em Garanhuns é um verdadeiro absurdo. Se o povo brasileiro perdeu a noção de valores, em Garanhuns temos uma bolha imobiliária inflada às custas de muita procura e um grande monopólio. Por isso, além de morarmos na periferia, não conseguimos concluir a construção para fazer uma inauguração. E, com a conclusão do doutoramento, a nossa prioridade 001 se tornou a reforma da obra inacabada, bem típico da administração pública brasileira. Para não expor a nossa intimidade só mostrarei a devastação do processo quando a reforma estiver concluída. Até porque tudo passa rápido depois que passa. Por enquanto é só improviso, muita despesa e muita, muita poeira. Faz parte. O meu mantra das últimas e das próximas semanas é: "Vai ficar bom".

Se me abstenho de expor o pandemônio domiciliar na rede, fico a pensar o que faz uma pessoa expor sua vida pessoal, ou melhor, sua intimidade na rede. Há uns dias, conversávamos sobre o tema durante o café da manhã, pois Tony está com algumas causas dessa natureza. Preservado o segredo de justiça e a ética jurídica, vou contar assim-assim: Trata-se de uma "catorzinha", como diria Agualusa. A menina, ganhou um telefone daqueles que só faltam lavar os pratos (isso eles não irão fazer nunca, pois lavar pratos é um karma humano, para a maioria das famílias). Pois, a alminha de Jesus, muito bem apanhada de corpo, foi lá no banheiro de fez uma série de fotos sensuais pelo espelho (exibindo as partes, mesmo), e não satisfeita, passou pelo bluetooth para a amiguinha conferir-lhe as belezas. A amiguinha por sua vez, segundo a mesma "sem querer", mandou para o amiguinho, que generosamente partilhou com a torcida do Flamengo. Resultado: a confusão está na justiça porque a miserável é menor e pela Lei brasileira, isso é crime. Então, na nossa discussão familiar (Luiza participou da conversa) chegamos a conclusão que o mal não é a tecnologia. As redes sem fio são excelentes, os telefones estão, a cada dia, mais potentes e com aplicativos mais interessantes, mas, é preciso ter o mínimo de inteligência para utilizá-los. Não é à toa que aquela apresentadora da TV brasileira, muita famosa pela defesa da moral e dos bons costumes, postou uma foto de calçolas no instagram. Segundo ela, não sabia que a foto seria publicada. Oras, se você não sabe como a coisa funciona, por que vai cutucar, logo de calçolas? Leia o manual, minha filha, preferencialmente, bem vestida! 

Deixando a galhofa de lado, isso é sério. Quem tem filhos pré-adolescentes, adolescentes, ou adultos jovens, ou é um adulto em fase de recomeço, precisa ter muito cuidado nas interfaces entre a tecnologia e os relacionamentos. Para os mais novinhos, os papais precisam perder as reservas e chegar junto para orientar. Se vai namorar (é impossível impedir, nem pensem nisso. Nós também fizemos nossos absurdos), talvez seja uma boa entrar num acordo com a parelha, depois de escolher bem direitinho: além de usar o preservativo, é preciso desligar o telefone, pois o sexo seguro de  hoje, vai além da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Refere-se também a preservação da autoimagem. Logicamente, esses exibicionismos não é uma novidade. Já trabalhei em uma loja de revelação de fotografias, na época do filme analógico e vi muita coisa bizarra. Era, já naquele tempo, muito fácil bater cópias clandestinas para divulgar a intimidade alheia além do relato oral. Contudo, nada se compara com a facilidade que hoje em dia a comunicação em tempo real dissemina informações e conteúdos, e neste meio, vão as imagens íntimas. E nem adianta recorrer à justiça, pois, na maioria dos casos, onde há o consentimento das partes, o STF (Supremo Tribunal Federal) já estabeleceu que não é matéria para danos morais. Por outro lado, se a criatura envolvida for menor, ou não tiver conhecimento da gravação, o rolo é grande. É importante ter a clareza de que uma vez na rede, não há como controlar a partilha da imagem/vídeo. Portanto, o ideal é deixar o narcisismo de lado e desligar os eletrônicos na hora do rala-e-rola. Certas brincadeiras podem causar sérios danos à imagem pessoal e social, além de causar danos emocionais, talvez irreversíveis.

Portanto, não sorriam. Estamos sendo filmados.
Até amanhã,
fiquem com Deus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário