domingo, 3 de setembro de 2017

Comidinhas

Paella, de Las Ramblas, Barcelona

Nem só de avião, trem, ônibus e longas caminhadas se faz uma viagem. A comida é fundamental para que possamos conhecer os sabores de outras culturas. Quando vamos viajar é essencial uma breve pesquisa no cardápio local, para que possamos desfrutar da melhor maneira das delícias de cada lugar. Igualmente, é também preciso que deixemos em casa, bem guardados atrás de alguma porta os preconceitos culinários, pois isso atrapalha um bocado, e restringe as oportunidades de conhecer novos sabores. É claro que bate um medinho, não é nada agradável uma dor de barriga ou um desarranjo intestinal quando estamos na estrada. Além disso tudo, é preciso abrir a mente e o bolso, a não ser que esteja disposto a passar dias a fio movido à McDonalds ou saladinha pronta disponível em qualquer supermercado.

Antes que eu me esqueça que o feijão para o almoço de amanhã está lá na pressão lá no fogão, vamos ao aspecto culinário da nossa visita à Europa, realizada em Julho passado.

Aveiro, my love.

Cachorro quente especial e fritas do Ramona's

Temos um caso de amor com essa cidade da região das Beiras, que nos acolheu tão bem durante três anos. Quando decidimos ir por Portugal, providenciamos  uma dormida estratégica em Aveiro. Como passamos à frente os Ovos Moles (um doce típico da região, famoso em toda Europa, mas que não gostamos), optamos almoçar tardiamente no Ramona's. O cachorro quente especial nos foi apresentado pelo Prof. Ivo, numa sessão de Artes e Palco, um curso que Luiza fazia durante as férias e/ou feriados prolongados. Além da menina se ocupar, aprender uma porção de coisas, o Artes e Palco me ajudou bastante na escrita do projeto e da tese. Numa das sessões, foram almoçar um fast food local, que fabrica as próprias bobajadas que põem no sanduíche. Pedimos um cachorro quente especial e uma porção de fritas. Esse molho rosa é uma delícia! Para acompanhar, a velha Coca Cola, para Luiza, e um suco de laranja com cenoura para mim. Sabor de saudade. Ficamos felizes com o reencontro, percebendo que tudo estava exatamente da mesma forma que conhecemos.
Pequeno almoço português

No outro dia, tomamos nosso cafezinho na pastelaria Tricana de Aveiro: duas meias de leite, um pão com croisant e um bolinho de bacalhau, para Luiza, e uma torrada para mim. A torrada Portuguesa parece ser feito de um pão de forma que lembra pão Recife. São duas fatias bem grossas, esquentadas na chapa com bastante manteiga, posta depois que o pão sai da chapa. Isso faz diferença porque a manteiga não queima e fica uma delícia. 

Salamanca, a surpreendente cidade Medieval

Mixto, popular no café da manhã de Salamanca


Quando passamos da fronteira, o maior desafio é,  além de encontrar o caminho das acomodações e compromissos, pedir a comida nos restaurantes, cafés e lanchonetes. Já na fronteira, Em Ciudade Rodrigo, tivemos nossa primeira prova: felizes, conseguimos ser atendidas num restaurante, onde comemos os nossos Bocadillos de Jamon Ibérico, sanduíches feitos com pães meio baguete, duros que só o cão, e zumos de naranja, que para eu pedir era uma comédia porque sempre trocava as sílabas, além de me lembrar de Pablo, que quando era pequenino dizia "nananjas". Pronto. Quando chegamos, a nossa primeira refeição foi a clássica pizza numa loja da rede Dominós, que há na praça da Catedral. Além de pizza, tinha também alletas de pollo (asinhas de frango), que pareceu-nos bem gostosas. Nesta lanchonete, o sistema do refrigerante era aquele que você compra um copo e enche quantas vezes quiser. Luiza adorou, encheu a cara de Coca-cola. No almoço, há inúmeros pequenos restaurantes na zona antiga da cidade e vale a pena encarar um menu completo, desde que esteja morrendo de fome.
Paella de Salamanca, o primeiro prato do menu completo

O menu completo vem com a entrada, nós pedimos paella, que são esses pratinhos pequenos da foto. Depois vem um prato de frango, carne ou peixe, e depois a sobremesa. Quando comecei a comer a entrada, chamei o menino e disse que não iriamos querer o segundo prato, pois era comida para um batalhão! Trocamos o segundo prato pela sobremesa: um sorvete de coco com baunilha e calda de morango. Meio não identificado, mas bonzinho. Apesar da comida está boa, percebi que Luiza ficou tapiando, separando as ervilhas do prato. Comeu os frutos do mar, menos as vieiras, e um pouco do arroz. Pelas 17 horas, quando saímos do encontro, ela estava com fome. Passamos num café da Rua Mayor e comemos bobagens. Ela quis pizza quadrada (de novo!), eu pedi um waffer com sorvete e calda de caramelho. Bem doce, mas estava bom. 


No café da manhã, costuma-se comer muito pão, com molhos temperados e tomates com ervas. Também servem churros, que são só a massa, sem recheio. Se quiser, pode pedir uma porção de chocolate. Come-se também um sanduiches feitos com um pão estreitinho e com uns círculos brancos dentro, que, na primeira mordida, descobri que eram lulas! Nunca comi nada tão ruim. Depois dessa terrível experiência, comecei a ter cuidado, pois há muitos pães recheados com patês de peixes, e eu preferi não conhecê-los. Gostei do "mixto", com x mesmo, parece um misto do nosso, mas, como leva muita manteiga, é servido no prato, com garfo e faca.  

(O feijão queimou. Joguei fora e vou ter que fazer outro. O pior é lavar a panela, pois hoje, Juju mordeu minha mão e o meu dedo está inchado e quando bate água arde muito. Ainda bem que Tony ainda não chegou e vai dá tempo de dissipar a fumaça. Ele fica zoando comigo quando desastres culinários acontecem).

Madrid, cosmopolita

Cachorro quente de Madri
Quando chegamos em Madrid, já eram pelas 16 horas, quase 17. Quando Luiza deu o terceiro aviso de que estava com fome (nós brincamos com ela, dizendo que quando ela dá o terceiro aviso, vai explodir em 10 segundos), entramos em um restaurantezinho bem bonitinho de uma transversal da Gran Via e fomos discutir a ementa. Eu queria comida de verdade, mas Luiza preferiu (mais um) cachorro quente. A surpresa foi boa: o pão era até macio, e vinha acompanhada com chips de batata, bem gostosas. Já a salsicha... era uma linguiça dessas fininhas, apimentadas que só o cão. Entre risadas e goles de Coca-cola, comemos nossos sanduíches sob o olhar mau humorado da atendente. No outro dia pela manhã, descobrimos a Pans, uma rede nacional de padarias que serve bons cafés, a preços adequados. 
Café da manhã da Pans
Geralmente, comíamos croisantes ou mistos (com x e sem tanta manteiga), café com leite e suco de laranja. No almoço, acabamos comendo besteiras na (caríssima!) lanchonete do Museu do Prado e a o final da tarde, Luiza insistiu em tomar um chá na Starbucks. Fomos àquela que fica enfrente da fonte de Netuno. Ela pediu uma Tevana (é, o nome do chá é esse mesmo) de pêssego, com tanta coisa dentro, que achei que ela não iria gosta muito. Quando provei o meu, que acabou sendo do mesmo por pura preguiça de raciocinar em inglês ou espanhol, constatei que a tal bebida é a mesma coisa do Ice Tea do Pingo Doce. A diferença é o preço que se paga pela menina desenhada no copo. À noite passamos em um Fast food famoso na Espanha. Só fomos porque tinha fila na porta, e pareceu-me que deveríamos experimentar. Foi bonzinho, nada espetacular.

Barcelona, novo amor 


Mercado Boqueria

Barcelona é meu novo amor. Uma cidade apaixonante! Chegamos era por volta das 15h, e a fome era grande. Convenci Luiza que deveríamos comer comida de verdade, pois em Madrid comemos muito fast food. Ela aceitou, desde que arranjássemos um lugar lá mesmo, na Rambla. Aceitei. Andamos poucos metros do nosso Hostel e uma jovem nos abordou oferecendo kebabs turcos no restaurante Luna de Istambul. Como a fome era grande, o cardápio bom, e o preço melhor ainda, entramos e nos sentamos numa mesinha para dois. No restaurante havia uma família terminando a refeição: duas crianças, uma mulher morena e robusta, de véu e um homem jovem com uma barba bem mulçumana. As pessoas nos olhavam, achando meio estranho duas mulheres sozinhas, mas, não mexiam conosco, enquanto conversávamos em português e dávamos risadas com as nossas besteiras. Eu pedi um kekab de alletas (asas de galinha) e Luiza pediu um kebab de cordeiro. Quando chegaram os pratos, ficamos passadas: duas travessas cheias de verduras, uma pequena porção de um arroz arbóreo, e no meu prato eu contei onze asas de galinha bem assadinhas. No de Luiza, vieram quatro bistecas de cordeiro. E ainda veio mais duas porções de pão sírio, bem fininhas. Tudo uma delícia. 
Acima, o meu kebab de asinhas. Abaixo, o kebab de cordeiro de Luiza, já meio comido 

Luiza separou as verduras, mas comeu o tomate assado, com o arroz e a carne, e beliscou o pãozinho. Eu comi as beringelas dela, mas não quis o pimentão assado nem a cebola. Estava uma delícia. No outro dia, depois de muito zanzar pela cidade, almoçamos na Rambla, nos restaurantes específicos para receber turistas, justo naquele calçadão, onde um mês depois os terroristas passaram com uma van, matando as pessoas. Eu pedi uma paella e Luiza quis um espaguete a bolonhesa. Ela sempre faz isso comigo: em Porto Seguro, enquanto eu comia uma maravilhosa moqueca de camarão, ela pediu o espaguete. Felizmente, desta vez, ela comeu tudo, pois já eram mais de três horas e a "nega veia" estava morrendo de fome. 

O espaguete de Luiza


No outro dia, já era hora de ir embora, comemos umas saladinhas de fruta disponíveis no Boqueria e almoçamos sanduíche no aeroporto, pois mesmo que eu quisesse, não consigo almoçar aquelas saladas em potes que vendem nos frigoríficos. Para mim, aquilo não tem gosto de nada e nem enche a barriga. Duas horas depois, estamos morrendo de fome. 

Lisboa, estamos em casa



Pastéis de nata e cafezinho na Brasileira

Pronto. Já no caminho de volta, pegamos um voo de Barcelona para Lisboa, que nos deixou "praticamente em casa" pelas 20 horas. Lisboa é sempre meio temperamental e o tempo havia esfriado um pouquinho. Para variar, chegamos com nosso almoço e a série de besteiras que comemos no aeroporto já bem vencidas. saltamos do metro em Restauradores e antes de subir a escadaria do Hostel, paramos num restaurantezinho do lado da Estação ferroviária do Rossio. Um jovem animado nos atendeu muito bem. Esfomeadas, pedimos uma bifana com batatas para Luiza e um hamburger, para mim. 

Os pratinhos, apesar de bem servidos, caíram bem no nosso saudoso estômago de viajante.Assim, tivemos forças para subir os quatro andares com as malas, até conseguir alcançar o nosso quarto num prédio antigo, que estalava a cada passo no piso de madeira e, depois de um banho no diminuto duche do quarto, cair na cama de casal e dormirmos como anjos. No outro dia, depois de um cafezinho naquela pastelaria na Praça da Figueira, fomos andar - e nos perder - em Lisboa. Acabamos indo ao Chiado, tomar um cafezinho na Brasileira (é obrigatório!) antes de nos embrenharmos na Bertrand, vendo todos os livros e tentando decidir o que levar. Mais tarde, almoçamos no Pateo do Armazém Chiado (um shopping bem legal instalado num velho armazém que já pegou fogo. Tudo em Lisboa, um dia já pegou fogo, e hoje funciona maravilhosamente bem).

Dá para avaliar a saudade que estávamos da comidinha lá de casa? Somente quanto ao ovo, foi que tive que pedir ao cozinheiro angolano para fritar o ovo "frente e verso", se não a gema vinha praticamente crua, à moda portuguesa. À noite, já muito cansadas, preferimos comprar meio frango com batatas e sumo de laranja natural para nosso jantar no quarto. 

Foi uma boa experiência cultural e culinária. Agora estou de dieta, monitorada pela Dra. Elaine Cristina, que está me ensinando a pegar leve para ter uma vida mais saudável. Mas, comi tudo que tinha direito, e quando viajar, comeremos do mesmo jeito, pois faz parte da aprendizagem. Quando voltar, se necessário, ficaremos a pão e água, como todo bom cristão. O meu pão, integral, por favor. 

Fiquem com Deus. 

2 comentários:

  1. Eu amo paella. Não recuso nunca este prato, quando vc fizer em casa, me chama que eu vou. Comi uma em uma das minhas viagens e, de verdade, gostei mais da minha...Mas, não foi na Espanha, também... A comida de Portugal é mto parecida com a nossa, por
    motivos óbvios. Eu adoro novos sabores, e tb como de tudo quando viajo, experimento tudo, mesmo que n goste. O importante é conhecer. Sempre engordo nas viagens e como vc diz, ao voltar tenho que fazer alimentação espartana, mas pelo mundo como tudo. Que outra oportunidade teríamos, se formos ficar de dieta , mesmo nas viagens? Ninguém merece! Amei tuas experiências espanholas, quem sabe um dia possa dar uma chegadinha por lá e provar as delícias de Barcelona.

    ResponderExcluir
  2. Barcelona é mesmo um encanto. Vá lá conferir! Beijos!

    ResponderExcluir