
Para além das doidices climáticas, temos enfrentado dificuldades na alimentação. Visitar Portugal é como visitar a casa da vovó: uma imensa variedade de doces, almoços fartos, com muitos cozinhados de porco e muita batata. Tudo muito bom, tudo muito bem, para passar uns dias e com um orçamento reforçado pela economia obtida no planeamento das férias. Mas, morar cá é diferente. Paga-se água, energia, gás, internet, tv e telefone. Paga-se as propinas da Universidade. São compromissos que, quem vem de férias, nem se lembra que existem. Além dos custos há o desgaste quotidiano com a culinária local. Somando-se as nossas frescuras pessoais, tem sido dificil encontrar prazer nesta necessidade básica do ser humano. Luiza se desgastou com o almoço da escola. Quando a Escola da Glória era cá junto, o refeitório funcionava melhor e ela não reclamava tanto da comida. Contudo, este ano a escola entrou em reforma e mudou-se para uma escola enorme. Já vos contei isso no post "Rotinas escolares de quase inverno" (http://digaasnovas.blogspot.pt/2012/11/rotinas-escolares-de-quase-inverno.html) . Foram feitas adaptações no espaço físico, mas o refeitório é o mesmo, com a mesma equipe cozinhando e servindo refeições para 500 crianças e adolescentes. O resultado reflete na qualidade da comida. Luiza vive a reclamar da sopa e pegou um horror a peixe (paaaixe!). Quando vemos no menu abróteas, carapaus, solha, arinca, maruca, douradinhos, lulas e esses bichos esquisitos do Atlântico Norte tenho que fazer almocinho em casa e sair às carreiras para buscá-la na escola e depois devolver para o horário da tarde. E haja andar. Do meu lado, estou que não aguento ver um porco na minha frente. A galinha ao molho foi erradicada da minha cozinha, deusmelivre, não aguento aquilo. O feijão em lata é insuportável, até o cheiro. E quem enfrenta o quotidiano de cozinha sabe que há momentos que não suportamos mais comer o que produzimos. Minha sogra sempre comenta que a comida que ela faz não tem gosto de nada. E o feijão de Nilza é o melhor do mundo. É a rotina que tira o sabor da comida. Imaginem quando se trata de uma criatura como eu, cujo talento culinário restringe-se aos pratos honestos, como a velha e boa lasanha?!
No Brasil, quando entramos nesta roda-viva, a saída é terceirizar o almoço, jantar de vez em quando no Estação Doçura (já provaram o bolo de milho de lá? aquela mulher é uma criminosa!) e, provar o sanduiche de queijo de manteiga ou o bode com pão, ouvindo as conversas dos funcionários de Ferreira Costa lá no Bar de 'seu' Manuel. Porém, em Portugal não dá para fazer da alimentação "rueira" uma rotina. Não é que não exista comida boa, é que o dinheiro da professorinha licenciada, atualmente estudante a tempo inteiro é pouco para financiar o hábito. Comidinha por um preço mais acessível está nas praças de alimentação dos centros de compras, como o Fórum. Mas, a crise econômica que assola a (ex) rica Europa afeta um setor que normalmente é o último a sofrer efeitos dos arrochos econômicos. O primo Clodoaldo me explicava essa semana que, quando ele atuou como consultor financeiro do Banco do Brasil, os clientes procuravam oportunidades de investimentos menos arriscados, recomendavam o setor de alimentação. Pois em Portugal, o setor da restauração (alimentaão fora de casa) sofreu um golpe duríssimo com o aumento dos impostos. Quando cheguei aqui em 2010, pagávamos entre 6% e 10% de imposto no serviço de restauração. Hoje, pagamos 23%!

Até amanhã, fiquem com Deus!