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Eu estou bem e espero que não me
julguem hipocondríaca. Meus dias andam agitados, desenvolvendo ações de
investigação, escrevendo, trabalhando. Já realizamos duas sessões de formação
(uma comigo e outra com o Francislê), que correram muito bem, afirmação
cientificamente comprovada de quem está na etapa final da tabulação dos dados,
já com olhos postos na análise dos mesmos. Nos dois últimos finais de semana
tive a feliz oportunidade de trabalhar Metodologia do Ensino Superior na Pós
Graduação em Gestão de Negócios & Pessoas, oferecido pela AESGA. Comigo
estava um grupo de aspirantes à docência muito interessados e participativos.
Depois, falo desta experiência de retorno à sala de aula. Há muito a fazer e
com a colaboração dos meus camaradas, tenho recebido verdadeiras lições de
compromisso com a docência. Trabalhar com prazer é muito bom.
Contudo, estamos em plena temporada
de viroses e outras moléstias da estação mais fria dos trópicos. Aprendi na
vivência no hemisfério norte a não reclamar do tempo. Já não me incomoda tanto
os 14 graus que nos rodeia que faz com que os meus conterrâneos chorem as
pitangas pela chuva fininha e intermitente. O que incomoda é a alta umidade (em
português luso escreve-se com ‘h’. Tenho cada vez mais dúvidas quanto a esse
idioma que nos divide!) e o bolor que se acumula nas moradas, o que causa
sérios problemas respiratórios e multiplicam-se as viroses de todo tipo. Neste
período os médicos parecem ter ensaiado um texto só e tudo por mais diversificados
que sejam os sintomas é logo diagnosticado como virose. Geralmente, toma-se
paracetamol e fica esperando a natureza agir. Se morrer, enterre-o. Assim
caminha a humanidade.
Luiza teve um piripaque virótico há
mais ou menos 15 dias. Estava a dormir na nossa querida cama de Pisa (herança
do velho Osvaldo, pai de Tony, nossa cama está levemente instável. Julgo que
está meio torta, em razão disso a comparação com a famosa Torre Italiana), e
ouvi-a a gemer durante o sono, lá no seu quartinho. Mãe tem um ouvido
apuradíssimo por menores que sejam as queixas. Febre, certamente. Aos 40 graus,
fizemos uma transferência de leitos e eu fiquei com a doente na nossa cama. A
febre veio forte, do nada. Alternou durante toda a segunda feira e parte da
terça. Assim, do nada, como veio, se foi. Consultei a ala da saúde da família
(tanto os Ferreira quanto as Sobral-Bezerra dividem-se entre a educação, a
saúde e a justiça. Assim, fica fácil fazer uma consulta pelo Skype quando a
coisa não é tão séria). Ficamos três dias na cama, aproveitando que a chuvinha
não deu trégua. Na quinta, ela já estava boa. Então, eu cometi um erro
imperdoável.
Estávamos no centro da cidade
resolvendo minhas coisas mais urgentes de internet, pois a doencinha havia
consumido os créditos da conexão móvel. Como Luiza não havia tomado o pequeno
almoço, às 11hs já estava com o maior carão de mau humor. Pediu um lanche e eu
entrei em uma padaria que já havia me causado um grande infortúnio. Lá eu já
havia me deparado com uma pequena larva viva dentro de um salgado. Pois,
acreditem: dei um lanche desse estabelecimento à menina. Resultado: no outro
dia, ela já se queixava de dores na barriga. No sábado pela manhã, saí cedo, não
a vi acordada, deixei-a com o pai. Quando foram me buscar para o almoço, a cara
da menina era duas marcas vermelhas. A coisa só piorou, e, às 0h do sábado
estávamos num pitstop na emergência pediátrica do Monte Sinai. A intoxicação
alimentar causou edemas nas mãos, pés e face. Lulu ficou parecendo uma manga
rosa, coitada. Eu bem sei como isso é perigoso, pois já quase morro com uma
(peste) de uma salsicha. Não aprendi com o meu infortúnio, expus a menina.
Agora, já está tudo bem. O episódio
me recordar dos médicos da minha infância. Fui uma criança doente e pobre, dava
um trabalhão a minha mãe com as sucessivas amigdalites, faringites, otites,
todas as ‘ites’. Coitada de minha mãe
tinha que sair às 4 da manhã para arranjar uma ‘ficha’ no INPS para consultas
no pediatra. E depois, ainda tinha que fazer malabarismos com o minguado
orçamento para comprar os remédios. Gostava do Dr. Jurandir (pai do Dr.
Marcone, médico de Luiza desde sua segunda semana de vida), já havia me
acostumado com a cara séria, de poucos sorrisos. Agora, Deus me perdoe, odiava
o Dr. Esdras. Quando mamãe chegava, perto das 9h da manhã e anunciava que ia me
levar ao médico à tarde, eu perguntava, receosa: “Que médico?” Se fosse o
primeiro, ainda bem, ia pulando como um pardal. Já se fosse o segundo, ia
somente sob ameaça. O problema do médico (já falecido, que Deus o tenha), eram
as mãos geladas. Na hora que ele dizia: “tire a roupinha dela”, me dava vontade
de correr. De inverno a verão, as mãos do homem eram mesmo que gelo e o exame
demorava uma eternidade. O meu pavor aumentou quando aos oito anos, inventei de
filar um capítulo do livro “Horror em Amityville”, que Ilma lia
compulsivamente com os olhões verdes arregalados de terror. Eu tinha esse
hábito de ler um ou outro capítulo dos livros que minhas irmãs estavam a ler,
enquanto elas iam à escola ou ao trabalho. Este hábito me fez leitora, mas
causou desavenças entre nós, pois quando voltavam e o livro estava desmarcado,
nem adiantava disfarçar, elas vinha em cima de mim, furiosas. Sim, então: eu
peguei o livro e li aquele trecho que um dedo frio do capeta cutucava as costas
do Padre. Pense no medo que eu fiquei. Noites a correr do escuro, com medo do
dedo gelado do capeta. Adoeci. E para meu infortúnio, quem era o médico? Mais
que o dedo, ele tinha a mão inteira do capeta que atormentava o exorcista. Para
mim, o Doutor foi logo promovido a agente do capiroto.
Médico não pode ter mão gelada até
porque é um dos poucos profissionais cuja prática permite a licença do toque
nos sítios menos expostos. O paciente já está numa situação complicada, com mão
gelada é tortura! Com mãos de desencarnados, médicos, enfermeiras e afins povoam de mortos-vivos o fértil imaginário
infantil.
Saúde para todos vocês.
Até amanhã, fiquem com Deus.
Engraçado, Anninha: Izabel vive de mãos geladas! Muito bom seu post, médico tem que ter empatia com o paciente, e se for criança mais ainda. Beijos.
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