A tecnologia tem o poder de criar necessidades que antes não tínhamos. Não sei como víviamos antes dos telemóveis. Mesmo não sendo tão jovem, tenho a vaga lembrança de que marcávamos uma hora para o interlocutor estar em casa para atender ao telefone fixo. E lembro-me muito bem que há mais ou menos vinte ou vinte cinco anos atrás, quem tinha um telefone residencial era chique. Havia até um mercado negro para venda de linhas telefónicas! Felizmente, o mundo muda e com ele, mudam as nossas necessidades de comunicação em tempo real. Reclamamos muito, e com razão da qualidade dos serviços móveis no Brasil, e o reflexo disto foi a recente decisão da ANATEL (agência reguladora de telefonia no Brasil) de cancelar as licenças de vendas de novas linhas móveis das principais operadoras em atividades em todo território nacional. Mas, como tudo, antes de resolver o problema do consumidor refém de péssimos serviços, foi liberada a venda em ocasião do dia dos pais (no Brasil comemora-se a data no segundo domingo de Agosto. Em Portugal, comemora-se em Fevereiro), atendendo mais às necessidades do comércio de prendas e lembrancinhas para os papais. Coisas do Brasil.
Estou a falar em comunicação porque estou sem comunicação. O telemóvel da TIM está mais uma vez sem sinal, e o da Vivo, como sempre sem créditos. Os créditos da internet Claro acabaram, pois Luiza contraiu uma virose, e, a nossa margem que já estava a 82%, consumiu-seem joguinhos de Barbie e Sonic enquanto ela ficava de repouso na cama. Tardes de chuva e de virose consomem internet como ninguém. O jeito será ir postar este texto em um cybercafé ou utilizando a rede da AESGA. Em Garanhuns há uma rede de acesso livre, disponível em alguns espaços públicos da cidade. É uma boa opção, assim não precisamos pagar pelo acesso. Os serviços de internet no Brasil são péssimos: lentos e caros. Em Portugal, usamos o serviço mais popular, temos acesso livre e rápido, telefone fixo e TV paga por 45 euros. Esse preço é praticamente o que pagamos para ter esta rede de acesso limitado. Falta muito para nós, mas, temos a esperança de melhorar.
Este ano, temos eleições. Diz-se “ano de política” naqueles anos em que ocorrer pleito eleitoral. É tão certo quanto o El Niño (trata-se de um fenômeno climático. Causa o aquecimento das águas do Pacífico, que interfere nas dinâmicas das massas de ar e no regime de chuvas do Brasil. É o principal fator de ocorrência das secas cíclicas no Nordeste do Brasil. Saudades da Geografia!!) Alternando com La Niña, temos sempre seca no nordeste e enchente no sul, e o Brasil vai revezando a desgraça. Como somos uma República presidencialista, temos eleições para Presidente da República, Governador dos Estados e Senadores num ano, e dois anos depois, temos as eleições municipais, para eleger Prefeitos e Vereadores. Não vou me alongar explicando sistemas de governo, até porque creio que vocês sabem. Só devo ressaltar que o mal maior que assola este que é o país mais rico do mundo é a corrupção. Todo sistema tem suas distorções, mas, quando da excepção se faz a regra e a corrupção é perceptível independente do âmbito analisado, torna-se um cancro social, cuja mestástase fomenta a desigualdade, a pobreza e a ignorância. A impunidade é a mãe da corrupção. O sujeito tem consciência que está errado, que está a fazer mal para os outros e indiretamente a si mesmo, mas prefere as vantagens momentaneas em detrimento do bem coletivo. Conhecido popularmente como “jeitinho brasileiro”, o mau costume de querer levar vantagemem tudo alimenta os tentáculos de um círculo vicioso, enraizado há séculos na nossa história.
Mal incurável? Talvez. Como otimista inveterada, tenho observado algumas melhoras. Os ranços do coronelismo ainda são perceptíveis nas relações que querem ser democráticas, principalmente quando se trata de eleições municipais das pequenas aldeiotas do interior do nordeste, pois, quanto menor o sítio, mais próximas são as relações, mais confuso é o processo. Permanece o compadrio, os “ajeitados”, as vinganças. Como diria meu querido amigo Adilson Araújo, meu primeiro – e único! - adversário político nos idos tempos do movimento estudantil na UPE, é a sobrevivência da “política safadista”. Nestes cantos o candidato em campanha paga a cachaça, dá dinheiro e promete emprego. Eleito, domina com mão de ferro, interferindo até na vida pessoal dos cidadãos. Caso a primeira-dama tenha pretensões adminstrativas e “cabelo nas ventas”, a sua atuação vai além da caridade ou da pose para as fotos oficiais. Manda e desmanda, interfere em tudo, inclusive naquilo em que não tem nem uma vaga noção. Cegos pelo poder acreditam que sabem de tudo, enquanto vivem tateando pelo mundo.
No ano 2000, “ano de política”, tive oportunidade de trabalhar como docente em diversas cidades do interior de Pernambuco. O curso objetivava formar professores em nível superior, com vistas a cumprir a meta da década da educação, estabelecido na LDB (Lei de Diretrizes e Bases). Assim, a UPE ofereceu em vários municípios do inteiror um curso de Pedagogia de curta duração. Foi através do PROGRAPE que abandonei de vez a Educação Básica, me mudando de mala e cuia para o Nível Superior. No início do Séculome transformei em um caxeiro viajante da educação, percorrendo de um lado a outro este estado que é do mesmo tamanho de Portugal. Trabalhei em Iati, Caetés, Palmeirina, Canhotinho, Lajedo. Fui à Palmares, São José da Coroa Grande e Maragogi (AL).Isto, em “ano de política”. Enquanto eu viajava a trabalho, às vezes retornando somente no final de semana, as más línguas já colocavam gosto ruim na nossa relação, chegaram a dizer na minha cara sem a menor cerimônia que o nosso casamento não duraria nem um ano. A maldade sempre erra porque é burra.
Pronto, foi nesse programa que aportei em Palmeirina, uma cidade muito jeitosinha, de lindas paisagens e ótimas pessoas. Mas, a política da época era de costumes bem arraigados. No primeiro dia, subi a ladeirinha que levava à escola sob o sol causticante do meio-dia. Lembro-me que fui pela calçada (passeio) da direita para quem sobe, pois passei pela lateral do centro de abastecimento, onde descarregavam as cargas de bananas, e era uma segunda, dia de feira na cidade. Terminado o horário de trabalho no final da tarde, desci para a pensão onde me hospedava para um banho e um jantar antes de conhecer a turma da noite. Lembro-me que chuviscava e que desci pela calçada da direita para quem desce, oposta a que utilizara no início da tarde. À noite, não me lembro, estava muito cansada para isso.
Mas, qual a relevância de em qual calçada havia passado para ir à escola?
No final da aula da terça feira, uma porção de professorinhas me esperou na saída com ar de riso. Uma delas me abordou, perguntando à queima roupa: “Professora, que calçada a senhora passou para chegas à escola?” Achei graça, e perguntei que não lembrava. Ela explicou, com galhofa: “É porque aqui quem anda pela calçada da direita é a favor da reeleição do prefeito. Quem anda pela calçada da esquerda, é contra o prefeito!” Entre nossos risos, respondi: “É a favor do Prefeito quem anda na calçada da direita, para quem sobe ou para quem desce?” Mesmo sem ser eleitora do município, deveria ter atenção à calçada em que andar? A partir deste dia, quando andava com elas, descia me equilibrando nas guias ou me arriscando na via, disputando espaço com os veículos e animais, em meio às sonoras gargalhadas das divertidas professoras do interior. Adoro este povo.
Felizmente, nos últimos anos, o processo democrático tem amadurecido a mesma proporção que a legislação eleitoral endurece. Assim, velhos (maus) costumes, ranços do coronelismo vão sendo enquadrados pela lei, embora o próprio cidadão necessite adquirir confiança para assumir seus posicionamentos políticos, sem temer retaliações. O Brasil deixa aos poucos de ser terra de ninguém. Estamos mudando para melhor. Devagar, é certo. Mas, são mudanças significativas.
Penso que como este é um “ano de política”, retornaremos ao assunto.
Até amanhã, fiquem com Deus.
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