O inverno ainda não começou, mas o tempo está consideravelmente mais "fresco". Cá, quando vamos comprar uma água ou um sumo, o atendente sempre nos pergunta: "Natural ou fressssca?" (puxam bem no "s" que nos soa com um sonoro X!) Ou seja, fresco é sinônimo de gelado, assim como vai se tornando o tempo e minhas mãos espectrais, cada vez mais brancas desenhadas com linhas finas azuis. Domingo passado, inventamos de ir ao Porto, só para almoçar e olhar a Ponte D. Luís I. Saímos de Aveiro quase ao meio dia, com 20 graus, solzinho delicioso, céu azul, perfeito. Passamos o maior frio da vida em Vila Nova de Gaia, às 16hs, numa conexão de ventos entre o Pólo Norte e o Rio Douro. Estes dias, estive com minha querida amiga Genésia, que veio com o Anselmo ver o filho (É bom ter orientador feliz) e trazer a Tia Terezinha para uma passeio em Portugal e Espanha. Mahria (minha irmã), de malas prontas para Paris-Londres, me perguntou como estava o tempo. Disse-lhe que estava "um friozinho". Genésia achou que eu estava doida, ou com o termômetro queimado! Também, minha amiga agora divide o tempo entre Garanhuns e a granja em Petrolândia, sertão pernambucano. Na verdade, esse frio acaba acostumando. Eu só sinto agonia quando a temperatura está em um dígito ou quando chove, apesar de que com a chuva, o frio diminui. Ainda é novembro, nos espera janeiro e fevereiro, provavelmente o nosso último nesta temporada.
A nova Escola da Glória |
As temperaturas vão baixando, e enquanto nós, tropicais, estamos desejando o aquecedor e o edredom, a vida segue normalmente, no trabalho e na escola. Não há férias de inverno. Este período é de pleno ano letivo, que se estende até junho. Portanto, durante todo o inverno, as crianças estão na escola. E é a escola de Luiza que regula a minha vida, com horários para acordar, para preparar refeições, para apanhar a menina na escola, para dormir. Tony está conosco e rapidamente se enquadra na nossa rotina de estudante. Muita gente pensa que estou de férias há dois anos, nem imaginam o quanto nosso tempo é contado, medido e cronometrado. Meu querido amigo Paulo Falcão me perguntou no intervalo da formação da Zé Loureiro como é a minha vida aqui, e já falei sobre isso algures. Neste ano letivo, algumas coisas mudaram.
A escola de Luiza entrou em reforma e foi provisoriamente transferida para a Escola João Afonso. Apesar dessa escola ser um grande educandário, tomou-se providências para que a instalação da Escola da Glória tivesse uma administração quase autonoma em relação a João Afonso. Já no mês de maio, fomos informados que a escola antiga, que fica bem na outra rua do prédio onde moramos (para onde mudamos por causa da escola, vocês lembram que eu contei isso em abril de 2011), entraria em reforma. Uma investigação atestou que a qualidade do ar das salas não são favoráveis a aprendizagem dos miúdos, devido a um índice aumentado de gás carbônico, por conta dos aquecedores e da concentração de pessoas em espaços reduzidos. Foi uma confusão, pois os pais tinham muitos receios em relação a instalação dos pequenos na escola dos "grandes", do 5º ano ao 12º. Exageros a parte, até que eles tinha razão das preocupações, pois os pequeninos de 1º ano (6-7 anos) teriam que dividir o espaço com garotos adolescentes de (14-15 anos). A solução encontrada foi construir uma área protegida com alambrados, entrada exclusiva para os meninos e funcionários com treinamento específico para lidar com as crianças e com os pais.
Salas de aula |
O areial. O prédio azul ao fundo é a Escola João Afonso. |
Ficou mais distante de casa, em relação a escola anterior. Agora, acordamos às 07h40 (a função soneca dispara duas vezes. É para manter a minha fama de mau!), tomamos o pequeno almoço vendo o Pheneas & Ferb, terminamos de nos arrumar com Luiza assitindo o Cuzco (A nova Escola do Imperador), e eu brigando com ela, pois quando começa o Cuzco é sinal que estamos atrasadas. Lanche na bolsa, garrafinha de água, casacões e sombrinhas em punho, vamos pela rua do Conservatório (R. Arthur Navarra), atravessamos na primeira passadeira para espiar a reforma do Parque. Seguimos pela calçada arborizada, vemos os carros funerários a esperar os cliente sem pressa no IML, passamos pela conturbada rotunda do Hospital, que sempre tem um cheiro de guisado a esta hora da manhã. Mais uma passadeira, já estamos na alameda da Escola e em poucos minutos no portão da Escola da Glória, num cardume de pais atrasados e crianças apressadas para mais um dia na escola, que inicia às 9h e estende-se até as 17h45 (diz-se "um quarto para a ssssseis", com som de X também!). Dois dias na semana, Luiza vem almoçar em casa, procuramos evitar o peixe (pronuncia-se "paixe". É uma graça!), que ela odeia. De tortura, basta a sopa de alho francês, que as funcionárias insistem que os miúdos tomem antes do prato principal. Dois dias, Luiza sai às 16h45, pois conseguimos dar a volta no Xadrês, que ela abomina.
É um grupo interessante. Chineses, indianos, brasileiros e portugueses se dizem "bom dia" em português e inglês. Alguns nos cumprimentam, outros apenas nos olham. Quando há algum problema, o grupo de pais se torna mais coeso, na defesa da melhoria do espaço, do cardápio da cantina, único espaço partilhado com os adolescentes, mas, tudo na paz. São as atividades dos miúdos que regulam nossa vida, que impõe um ritmo para uma rotina comum numa terra estrangeira.
Até amanhã, fiquem com Deus.
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