sábado, 26 de janeiro de 2013

O tempo e o vento

Praia da Barra, Aveiro, 19 de Janeiro de 2013
"O tempo e o vento" é um clássico da literatura brasileira, do Érico Veríssimo, pai do Luís Fernando Veríssimo, autor que eu adoro. Composto por 3 volumes, a obra narra a colonização da região Sul do Brasil. Confesso que não lia a obra, por falta de oportunidade. Mas, vi pedaços da minissérie que a Globo apresentou na década de 1980, trazendo-nos inesquecíveis personagens, como o Capitão Rodrigo. Tarcísio Meira perfeito na pele do capitão boa vida, combatente da Guerra do Paraguai. A obra está na minha interminável lista de coisas para fazer quando voltar ao Brasil.
Mas, a citação do título da obra é nada mais que uma lembrança da intempérie que vivemos o final de semana passada. Como já vos disse, este é o terceiro inverno que passamos em Aveiro. E posso afirmar que cada ano é um experiência diferente. No primeiro ano, 2010-2011, morávamos lá na rua Direita, era preciso andar 40 minutos para chegar à escola de Luiza. Aguentei até finais de março, quando uma chuva daquelas nos deixou ensopadas e com a certeza de que era preciso arranjar um endereço mais adequado. Em 2011-2012, Portugal foi atingido por uma seca de inverno, o que piorou ainda mais a condição econômica do país. Os produtores de gado tiveram dispêndio de comprar ração na Espanha. Além de queda, coice. Neste período, vivemos 40 dias sem chuva, um céu azul sem uma nuvem... e o frio de lascar. As temperaturas médias eram 8 a 10 graus. Houve dias de levar Luiza à escola sob 0 graus. Para mim, isso é temperatura de freezer para cerveja. Esse ano, a coisa está diferente: as temperaturas são mais elevadas, entre 10-13 graus, mas a chuva é nossa companheira diária. Ontem, comentava com a Tatiana Barros, Pernambucana de Paranatama (acho), radicada na Mealhada (próximo a Coimbra) que completávamos três semanas com dois dias de sol. Incrivelmente, São Pedro ouviu minhas preces, e hoje, excepcionalmente é um sábado de sol, bem diferente do tempo que tivemos no final de semana passada.
Na sexta-feira, deixei Luiza na escola e fui para o meu "expediente" de biblioteca. Preferi ficar na Mediateca do Centro de Educação, pois não tive coragem de atravessar o pátio da Reitoria em direção à Biblioteca Central com aquele vento todo me empurrando para onde eu não queria ir. Comentamos, eu e o Gerson, um professor mineiro da UnB que está fazendo Pós Doc na UA, e divide o gabinete com Francislê, que a chuva estava muito estranha. Era uma chuva fininha varrida pelo vento, vinda de todos os lados. Até mesmo sob as marquises, estava tudo molhado. Prenúncio do que iria acontecer mais tarde. Quando fui buscar Luiza no final da tarde, nos divertimos com o vento a empurrar nossos guarda chuvas pelo passeio na curva do Hospital. Corríamos sem querer! E o vento virou um bicho solto no meio da rua na madrugada. Os estores (persianas externas) das nossas janelas batiam nos caixilhos, rugia no exaustor da cozinha e da casa de banho. Assobiava no início, e depois parecia o som de camiões bau vazios em alta velocidade pela rua. Em 2010, quando cheguei à Portugal, já na primeira semana, houve um vendaval, que destruiu muita coisa em Tomar. Dessa vez, foi um pouco pior em Aveiro. Era vento e chuva contínua.
Na nossa rotina transplantada, sempre almoçamos fora aos sábados. Depois que eu deixei de comprar feijões enlatados, sábado é o dia de comer feijão no Brasa Rio, um restaurante que serve comida brasileira. Nesse sábado, não fomos. Quando abri a janela para examinar o tempo, vi um senhor sendo empurrado rua abaixo pelo vento. Pouco depois, passou uma coisa branca em voo livre, parecia uma folha de papel cartão branca, mas bem maior. Pensei que era uma publicidade arrancada pelo vento. Qual? eram os grandes folhas de alumínio dos tapumes da reforma do Parque D. Pedro que estava voando pelo  meio da rua como pranchas de surf. Ficamos em casa, curtindo nossa chuva de vento no quente e no seguro. A ventania prosseguiu no domingo, acalmando somente por volta das 16hs. No outro dia, pela manhã no caminho da escola, conferimos os estragos causados pela grande ventania.
Por toda cidade, a segunda feira foi dia de limpeza. Inúmeras árvores desabaram, as proteções de vidro das paragens dos autocarros estilhaçaram-se, placas de sinalização foram arrancadas. Essa foto acima é no Parque, vizinho de onde moramos. Várias árvores centenárias foram arrancadas como se fosse playmobil. A trilha sonora das ruas é o som das motoserras cortando troncos tombados ao chão. Através dos noticiários, soubemos que o temporal assolou todo o país, enquanto mais para dentro da Europa, as nevascas não deram trégua, deixou Paris com cara de Sibéria.
Nunca havia visto nada igual. Só faltou a vaca voando, como no filme Twister! É inverno a não esquecer. Enquanto isso, lá no meu sertão...
As fotografias não são minhas. Estão disponíveis na página do Facebook Aveiro Lovers, de onde tirei as fotos que aqui estão.  
Até amanhã, fiquem com Deus.

Um comentário:

  1. Ainda bem que vocês não foram almoçar fora, pois fica muito perigoso, com tudo voanado pelos ares... Só vi isso em filmes! A bichinha de Luiza deve ter ficado apavorada com essa tempestade de vento... Graças a Deus que agora só faltam cinco meses pra vocês voltarem, estou contando nos dedos. Beijos e saudades.

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