sexta-feira, 1 de março de 2013

Mulheres perfeitas

Tenho cá comigo um costume que é quase um defeito: vivo a assitir pedaços de filme. Nem adianta me programar para acampar na frente da tv na hora que o filme vai começar, acabo esquecendo. Mesmo com a tecnologia de gravar os programas que deseja assitir na box, eu nunca carrego no botão vermelho que tem escrito abaixo "rec". Gosto mesmo é da aventura de procurar alguma coisa nos não sei quantos canais, a hora que eu puder me sentar lá. E com isso, frequentemente, assisto pedaços de filmes. Por sorte, na próxima vez que passar, eu vejo o pedaço que perdi por ter zapeado o controlo lá para frente, até chegar nos canais ucranianos e húngaros, só pela graça de ouvi-los falar. Penso que só essa semana, no canal 51 passou "Casa das doidas" ('Bird Cage' ou 'Gaiola das loucas', no Brasil) umas 100 vezes. E todas as vezes eu paro para ver aquela cena que o Agador Spartacus vai avisar que o jantar está servido. Minha amiga Simone Brito vai ter um troço, mas a queda que o sujeito leva é uma cena memorável do cinema americano. Não sou cinéfila, nem conheço muito da sétima arte. Apenas vejo o que tenho oportunidade e deixo cá o reconhecimento que os norte americanos são imbatíveis quando o assunto é cinema. Fazem muito bem feito.

Numa dessas vezes que Luiza esteve doente, liguei a TV para esperar a febre baixar e acertei no filme "Mulheres Perfeitas" (Stepford wifes"). O filme é do  Frank Oz, com Nicole Kidman e Matthew Broderick. Ela, uma das mulheres mais lindas do cinema. Acho que ser tão linda deve doer, não é possível. Ele, todos nós conhecemos do filme "Curtindo a vida adoidado" (1986), um clássico da Sessão da tarde. O outro clássico do horário com o mesmo ator é "O feitiço de Áquila" (1985), um filme lindo, de um amor impossível de um casal enfeitiçado, vivido por Michelle Pfiffer e Rutger Hauer. Esse ator era lindíssimo à época... Mas o tempo passa para todos, até para Michelle Pfifer! O filme título dessas mal traçadas linhas chama atenção pela beleza das cores das esposas perfeitas da cidade de Stepford, uma localidade afastada do interior norte americano, onde a mocinha, vivida por Nicole Kidman vai morar com o marido. Assisti um pedaço do filme e depois acabei adormecendo. Semanas depois, num sábado à tarde, passei por um canal não identificado e lá estava o filme mais uma vez. Parei para assistir. A história é boa e nos conduz a reflexão de alguns aspectos interessantes dessa nossa vida de mulher.

Afinal, o que é ser uma mulher perfeita? É dominar a arte de administrar a casa, cuidar dos filhos? é ter uma profissão que atribua um bom status social e permita ganhar dinheiro, para  e gastá-lo controladamente? É permanecer milagrosamente no peso ideal, usar saltos 15, passar lápis de olho sem borrar, ter o cabelo calmo? É ser uma filha atenciosa, ser uma irmã companheira e disponível para ficar com os sobrinhos? É ser competente na mesa e na cama? A mulher perfeita é boa amiga, boa esposa/namorada/ficante, e cada uma com desenhos específicos do cargo?  Se é tudo isso, quando é que sobra tempo para  essa criatura ser apenas uma pessoa?

São muitas perguntas e inúmeras respostas. Há muitas mulheres que se orgulham de atender ou se desdobrar para corresponder a todos essas especificações, inventadas provavelmente por uma mulher fracassada e um homem mal amado. E o pior é que algumas acreditam que são supermulheres, donas do pedaço, dominadoras do universo. Essa semana aprendi mais um conceito similar aos demais: Mulheres Alfa. Se acham. Vocês sabem: quem se acha, se perde.  Outro dia discutíamos que o mundo é muito mais exigente com as mulheres. Muitas de nós, por pura inocência, caíram no conto do vigário do feminismo: ninguém leu que abaixo da legenda LIBERE-SE E SEJA INDEPENDENTE , tinha escrito em letras miúdas "e carregue o mundo nas costas". Desde então, assumimos todas as resposabilidades, desde às naturalmente atribuídas, como amamentar as nossas crias, até o dever de evitá-las. E o mais irônico da situação é quando a coisa não corre tão bem quanto o (não) planejado e a moça pronuncia o célebre "tô grávida", o gajo ainda olha de soslaio, avaliando as possibilidades de correr da responsabilidade.

Portanto, penso que a mulher perfeita, quando não apanha da vida, apanha do marido/parceiro/namorado. Essa mulher (supostamente) perfeita irá passar um ou dois dias a ligar para o emprego e dizer que está com virose. Depois, quando as marcas no corpo puderem ser cobertas com generosas camadas de um bom pancake (ainda existe?), justificam o agressor, dizendo aos colegas de trabalho para lá de desconfiados que foi "o guarda roupas que caiu sobre mim", ou "cai no banheiro e bati o rosto no lavatório". Eu sou absolutamente contra a mulher perfeita. As mulheres não são onipresentes, oniscientes, nem onipotentes. Isso é competência de Deus, e foi Ele que nos fez imperfeitos. Sou a favor do reconhecimento a limitação feminina que é intrínseca ao ser humano enquanto espécie. Admiro e apoio aquelas que pedem ajuda, quem se permitem errar, pois ao reconhecer, aprende-se mais.

Mulheres perfeitas são manipuladas pela opinião alheia. Se lhe classificarem como perfeita, desconfie: vão lhe atribuir mais encargos. E nesses casos o NÃO é a palavra mais bonita de se pronunciar. Não se enquadre, não se permita dominar. Seja do jeito que é: com seus defeitos, como todo ser humano, buscando ser melhor a cada dia, mas sem a neurose de mostrar-se ao mundo como infalível. E no próximo 8 de março, não me convidem para queimar sutiãs. Conforme Paulo Farinha, um bom sutiã invariavelmente custará mais que 15 euros, 10 nas promoções de início de ano. E dinheiro não dá em árvore.    

Escrevi o texto pensando em Genésia Neri, Eliane Vilar, Ilma Cristina, Neide Ferreira, Rosana Ferreira e Edna Maria, que não são mulheres perfeitas, mas são mulheres arretadas.                

Até amanhã, fiquem com Deus.
  



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