E então, apesar de já estarmos na metade de maio, parece-me que o inverno veio passar a primavera em Portugal. Anda a nevar na Guarda, em Trás-os-Montes e no Minho. Cá nas Beiras, estamos em alerta amarelo: as ressacas atingem a costa portuguesa e o Atlântico norte esborra-se sobre as praias, que a esta altura já deveriam ser domínio dos banhistas. Os espanhois ja chegaram. Diferente do ano passado, devem ter guardado um dinheirinho para uns passeios pela Península Ibérica. Ou o dinherinho só deve ter dado para bater pernas por estas calçadas mais próximas. Na Espanha, a coisa anda muito feia. Cá, vamos levando para o último mês de residência. E tenho percebido que me acostumei com muita coisa. Como diria a patroa das Empreguetes, da novela Cheias de Charme, essa "vivência de Europa" redimensiona o nosso olhar sobre a vida. É por isso que quando vejo professores e acadêmicos enfrentando os processos seletivos do Ciencias sem Fronteiras, dou graças a Deus. Quanto mais pessoas tiverem essa experiência que estamos concluindo, maior a percepção crítica diante da conjuntura social. Concordo com o companheiro Sidclay, professor pernambucano que cursa Doutoramento no Canadá quando ele diz que há muita coisa simples que pode ser feita e que melhora a vida coletiva exponencialmente. Outro dia, Mayda compartilhou um vídeo da entrada dos utentes no metro de Camaragibe (Pernambuco). Sabe a corrida dos touros de Pamplona? Pronto. Troquem os bovinos pela gente destrambelhada da RMR e tens ai o resultado. Não há motivos para tanta correria, pois o trem demora-se um pouco para arrancar da estação. É só má educação mesmo. Da mesma maneira portam-se nas ruas, nas escolas. Falta muito em educação, sobretudo em educação doméstica. Desculpa, por favor, com licença e obrigada, como diz na musiquinha da Xuxa, não mata ninguém. E acostuma-se com isso, é só necessário um pouco de exercício. O respeito pelo outro e por si próprio é uma virtude (cada vez mais escassa), mas que pode se tornar num hábito.
Então, a falar em respeito, indignei-me hoje pela manhã ao aceder ao Facebook e ler comentários preconceituosos de meus conterrâneos em uma fotografia da equipa de enfermagem do SAMU de Garanhuns. A foto é essa ai:
Essas jovens são enfermeiras do SAMU, recem inaugurado em Garanhuns. Em Portugal, seria o INEM. Há muito tempo que a cidade carecia desse tipo de atendimento de emergência, que recaia sobre o Corpo de Bombeiros, que no Brasil, é uma guarnição militar. Contudo, apesar de toda boa vontade que os moços dos Bombeiros tinham em atender as emergências médicas, não é essa a sua atribuição. O SAMU é uma brigada especializada em primeiros socorros, cuja infraestrutura inicial é financiada pelo Governo Federal e mantida pelo poder municipal. Como já disse, o trabalho da equipa que funciona durante 24 horas é atender urgências de saúde, contanto com profissionais especializados para isso, situação que oferecem uma sobrevida considerável a vítima de um sinistro qualquer. Um serviço essencial e um trabalho necessário, de profissionais altamente qualificados. O SAMU não é para qualquer um.
Pois, essa fotografia foi alvo de comentários altamente preconceituosos. Uns fulanos referiram-se a beleza das jovens, outros duvidavam de sua competência justamente por esse fator. Como é possível ser tão leviano ao destilar o lixo interno na rede, quando o serviço da equipa ainda nem começou? Entre esses e outros preconceitos, as Dras. Enfas. certamente farão um excelente trabalho. Até porque, já somos 65% da força de trabalho do Brasil. Conseguimos este feito, pois temos mais tempo de estudo, haja vista que 75% dos estudantes de nível superior são mulheres. Somos professoras com alta qualificação, médicas, juizas, promotoras, delegadas, enfermeiras, cantoras, engenheiras, pesquisadoras, atrizes, empresárias, arquitetas, advogadas, contadoras, motoristas, pintoras, gestoras, e até, pastoras. E somos mães com o firme propósito de criar homens e mulheres para uma sociedade que tenha mais respeito pela pessoa.
Quem é de Garanhuns deve lembrar, antes de abrir a boca para falar mais asneiras, de profissionais como Eliane Vilar, Josevalda Cavalcanti, Débora Bandeira, D. Rosa, Luzinete Laporte, Carla Fabíola, Marinalva Almeida, Neide Ferreira, Selma Melo, Cláudia Motorista, e as que já se foram a exemplo de Ana Nery, Sylvia Galvão, D. Jura e Ivonita Guerra, como mais um milhão de anônimas que trabalham honestamente, todos os dias no Brasil, e de centenas que dedicam-se a construir essa cidade. Não é preciso ser nascida em Garanhuns para ser uma mulher de Simoa Gomes (mais uma mulher!), e, como tal exigimos mais respeito. Ou como diriam os portugueses: respeitinho, ó pá!
Té manhã, fiquem com Deus.
Foi exatamente esta foto que vi num treinamento que fiz com a mãe de uma dessas meninas. Pois bem, se fossem dragões, quem postou essas censuras, diria alegando que as moças seriam uns dragões ou coisas piores... Em suma isso se traduz por inveja pura e simples. Quem fala mal, no mínimo gostaria de estar no lugar delas, daí começam a por terra, falando mal das meninas. Não sabem eles que isso traz à reboque, uma responsabilidade imensa, eficiência e presença de espírito, o que nem todo mundo tem , e pensam que as "Meninas de Simôa" estão lá só prá brincar...A inveja mata, minha irmã , pode crer!Boa sorte prá elas, então!
ResponderExcluirEu penso que além de inveja, Mahria, tem o desrespeito a pessoa. Vi alguns comentários, que à primeira vista podem ser considerados até elogiosos. Mas, depois fiquei pensando: se fosse uma equipa masculina, acho que ninguém iria por em dúvida a capacidade dos profissionais. Sabemos o quanto essas meninas estudaram, se dedicaram e se sacrificaram para ter um trabalho digno. Esses comentários são mesquinhos. E tenho certeza que elas farão um bom trabalho. Beijos e saudades!
ExcluirEstou aguardando seu livro de crônicas!!! serei a primeira a comprar. Parabens. Bjs.
ResponderExcluirNos dedicaremos a organizar um livro até o final de 2013, organizado por sessões, com fotos e algumas coisas inéditas. Beijos e obrigada pela companhia!
ExcluirSabias palavras! Parabéns!!
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