Lembro-me muito bem da D. Lucy, minha professora da terceira série a explicar-nos a diferença entre hábitos e vícios. E destacava os bom hábitos, principalmente relacionando-os a higiene pessoal. Quem é professor da educação básica, tem filhos ou irmãos pequenos, na faixa de 8 a 11 anos sabem bem que os pequenos não apreciam um bom banho. Até porque as mães, irmãs e cuidadoras em geral sempre decretam a hora mais inconveniente a hora do sagrado banho de cada dia. Na verdade, todo ser humano sem asseio, naturalmente fede. E os pré adolescentes ainda mais, pois tem contra si uma guerra de hormônios. Como eles mesclam hábitos de crianças, a exemplo de correr como doidos durante o recreio da escola, e depois entrarem em sala de aula completamente suados e fedidos, a nhaca é potencializada. Não era à toa que o Prof. Vilela dizia que nós fedíamos como "macacos mortos a tapas." Contudo, na discussão sobre os bons hábitos,eu sempre ficava a pensar se o mau hábito não seria uma variante de vício. Uma vez, exprimi minha dúvida, mas a professora olhou-me como se eu fosse um ovni. Certamente, ela nunca havia pensado naquela hipótese.
Da mesma forma que o hábito faz o monge, os hábitos estranhos, fazem o excêntrico. Nem sempre essas ações podem ser classificadas nem em boas, nem em más: só diz respeito a quem a pratica, que o faz porque assim o apetece. Alguns hábitos podem ser irritantes, mas, não chegam a ser motivos de grandes contendas. Izabel tinha o terrível hábito de por perfume para ir dormir. Segundo ela, era para ter bons sonhos.O problema era o tal perfume. Ela encharcava-se de um tal Piment, que foi muita moda na década de 1980. Na época era chique, hoje é um perfume de supermercado. Apesar disso, ele sempre foi ruim,na minha opinião. De tanto eu encher o saco, ela acabou reduzindo a quantidade, mas, não abandonou o hábito. E eu mudei de quarto. Assim, passamos a ser felizes. Já Ilma cumpria um ritual antes de ir pegar o berço.Conferia todas as portas, para verificar se estavam fechadas. Colocava a metade de um copo de água e bebia. Depois, enchia mais um copo de água e levava para o quarto, somente após bater com os dedos na torneirinha do filtro e esfregar as mãos. Somente após isso tudo, estava pronta para uma boa noite de sono. Tony tinha o hábito estranho de esquecer-se sempre de algo quando saia. Já na calçada, lembrava-se e voltava. Foi assim que me lembro de tê-lo visto pela primeira vez, enquanto eu ia para a Colégio Municipal e ele morava na avenida Caruaru. A mesma hora, lá vem o cara do casaco amarelo. Ao chegar bem embaixo do poste, dava um murro na mão aberta e voltava para casa. Eu achava que ele era meio doido. Mas, depois eu entendi que o esquecimento é uma característica da família.
As esquisitices são mais visíveis nos hábitos alimentares. Outro dia li um post do colega professor Ed Cavalcante em que ele refletia sobre os hábitos estranhos dos amigos e conhecidos relacionados à alimentação. Prometi-me que iria escrever algo parecido, mas passou. Na ultima quinta feira, almocei com uns colegas da faculdade, no intervalo do Seminário das CPAs. O encontro e seus descaminhos, contarei numa outra ocasião, principalmente acerca do impacto que me causou rever o Recife num dia normal. Bom, Gabriela dizia-se amante das batatas fritas, tanto que chegava a come-las mesmo quando estavam geladas. Provei e não gostei,e isso entrou no meu rol de esquisitices gastronômicas. Rocha delicia-se com feijão gelado e Ana Jaira, prefere o arroz recém saído do refrigerador. Eu gostava de comer cenouras cruas. E à noite quando todas se preparavam para dormir, ouvia-se um "croc-croc-croc" na escuridão, e isso inervava as minhas irmãs, e toda noite era uma briga, e elas me colocavam fora do quarto para que eu terminasse o estranho petisco, ou desistisse dele. Irmãs jovens são muito chatas. Um lanche dos mais estranhos que já vi era servido no Mirabeau, antigo bar que tinha naquela ruazinha ao lado de Ferreira Costa. Onde já se viu sanduíche de sopa? Todavia, no aspecto esquisitice gastronômica, o sanduíche de bolo ou de cuscuz de Edna Maria ganha disparado. Tão esquisito quanto o feijão com leite das meninas da Irmã Guilhermina. Uma coisa realmente feia de se ver.
Com o tempo, nos tornamos senhores de hábitos esquisitos. Deve ser coisa da idade. Eu já tenho uma pá de estranhices. Tornou-se um hábito faltar às festas e comemorações. Podem contar comigo para tudo no trabalho, mas, para uma festa, podem ter a certeza que eu escaparei, se puder. Alguns hábitos dos outros nos incomoda, mas, há algumas semanas tenho acordado com um passarinho que habituou-se a ficar no muro,ao lado da janela do meu quarto,logo pelas cinco da manhã. O bichinho canta muito bem e é bem bonitinho, além de ser muito companheiro, pois, no domingo, ele não bate o ponto. Talvez, daqui a mais uns anos possa cultivar o hábito de varrer folhas secas das pintangueiras, nas primeiras horas da manhã. Por enquanto, vou mantendo o meu mau hábito de me deixar ficar na cama só mais um bocadinho.
Até amanhã, fiquem com Deus,
Varrer folhas e cuidar de plantas é um dos meus vícios. Vício é o que você sente falta quando deixa de fazê-lo. Beijos.
ResponderExcluirÉ! o Vício do bem! Beijos, Ilma!
ExcluirPão com pipoca é uma delicia, comi muito quando criança. Vou fazer um revival pra ver se rola. O pior mesmo é o feijão gelado que meu amigo Edgar come nas noitadas. vixi
ResponderExcluirPão com pipoca???? Nunca vi!
ExcluirEm Caetés, minhas alunas do PROGRAPE/UPE comiam pipoca com cocada. Muuito estranho! Beijos, Ed!