Pronto. Então o imenso mês de novembro aproxima-se do fim. É nessa época que todos os professores dos trópicos estão no final de suas forças. Não há quem esteja à pleno vapor, principalmente no encerramento do segundo semestre. E para fechar o ano são necessárias mais algumas lutas: elaborar, aplicar e corrigir provas e trabalhos, inserir notas e frequências em sistemas pouco cooperativos, explicar para os estudantes que precisam refazer o percurso uma vez que há cópias de texto da internet em seus trabalhos, que eles insistem e juram de pés juntos que é um texto autoral. É cansativo para todos, e, independente do nível, só muda o endereço: para os professores as férias torna-se uma questão de sobrevivência.
Já estamos acostumados e constatamos que a partir do mês de outubro aumentam os casos de doenças. Não trabalho em Departamento Pessoal, mas, nessa época quando damos pela falta do colega, vem sempre a resposta: "fulaninho está doente". No outro dia, encontramos fulaninho arrastando-se pelos corredores, mais morto do que vivo, dando conta do calendário letivo, mesmo sem ter se recuperado completamente. Eu mesma, andei sumida destas por conta dessa síndrome de final de ano. Uma tontura pela manhã, um enjoo. Fraqueza e dor de cabeça quase que diária. A colega Izabel, a nossa quase médica, me aconselhou a procurar um otorrinolaringologista (adoro escrever essa palavra que mal consigo pronunciar). Foi tiro certeiro: agora, já cuido em recuperar-me de uma crise de labirintite feroz. E como me disse o médico, é preciso apender a conviver com a doença, que é de caráter hereditário e exige modificações no estilo de vida. Assim, engrossou a lista de profissionais da saúde que me mandam fazer exercícios físicos regulares. E neste caso específico, acabou-se a minha "cafezagem". Reduzi o cafezinho a uma porção ínfima por dia e nos primeiros dias sofri com a crise de abstinência. E nesta lista também estão o chocolate, a coca-cola e os refrigerantes em geral (que deixei definitivamente de comprar para trazer para casa), o excesso de sal e açúcar. Estou quase um monge budista, mas sei o quanto a doença maltrata. E o exame, nunca mais outra vez. Saí do consultório da Dra. Rosa Virgínia parecendo que tinha tomado uma garrafa de 51. Para piorar a minha situação, Tony havia viajado e eu tive que ir buscar Lulu na escola, manobrando o Fox como se fosse um caminhão de 6 eixos. Só Jesus na causa. Agora, vamos cuidar, que a vida é curta e não podemos encurtá-la mais ainda.
E neste cenário tem ainda projetos de curso para renovar, aulas para ministrar, trabalhos para corrigir, bancas para participar. Temos fé que tudo encontrará seu termo, mas o percurso é um perrengue. Outro dia, corremos para casa na hora do almoço. Com o horário de verão, Tony só consegue assistir o Globo Esporte se correr relativamente bem e não encontrar lentidão no trânsito. Neste bendito dia, havia anunciado uma matéria sobre as melhores defesas de Danilo Fernandes, o excelente goleiro do Sport. Pois bem, a correria foi tão grande que deu tempo para almoçar antes da tal matéria. Na hora, o rapaz sentou-se confortavelmente à frente da televisão,enquanto eu e Luiza rumamos cada uma para seu quarto. Daí a pouco, Juju, o nosso cão, começa a tossir e engasgar na garagem. Em desespero, a pobre daushund dá a volta para o lado da casa. E continua tossindo e engasgando. Tony, sem querer perder a tão esperada reportagem começa a nos chamar da sala: "Luiza, a cachorra está morrendo!" E Luiza, nada. "Aninha, a cachorra engasgou!" E eu, nem ouvi. Daí a pouco a cachorra passa pela porta da sala de volta para morrer na garagem. Tony ver pelo vidro que a pobre canídea já vai se arrastando pela parede, nas últimas, sufocada. Então, ele decide salvar o animal. Pega a cachorra pelo meio e sacode. Nada. Quando a pobre já estava emborcando, ele aperta-lhe a barriga e, enfim, uma massa que lhe promovia o engasgo é devolvida em alta velocidade. Salvamento de cão concluído, ele corre de volta para a televisão, à tempo de receber o "Boa tarde" do apresentador. Tudo isso aconteceu e eu só soube quando ele mesmo chegou à porta do quarto, indignado, contando que a cachorra quase morre e nós, irresponsáveis, nem nos mexemos para salvá-la. De quebra, ainda perdeu a reportagem sobre o magnífico goleiro. Sorte de Juju, que o anjo da guarda dela estivesse tentando assistir o Globo Esporte.
Agora falando sério: há coisas que são assim. Mesmo que planejemos tudo nos mínimos detalhes, o inesperado acontece e levam nossos planejamentos para outro rumo. É o caldo da vida, que conduz os acontecimentos de acordo com a maré da existência. O negócio é tentar manter-se à tona, com cuidado para não emborcar.
Até amanhã, fiquem com Deus.
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