Então, dezembro chegou e com ele as suas correrias características. Outro dia, a colega Virgínia dizia que odeia dezembro porque parece que o mundo vai se acabar. É todo mundo correndo para fechar as turmas, fechar as contas e fazer mais contas. De uns tempos para cá, também ando a olhar para dezembro com olhos de estafa.
Outro domingo fomos ver a versão nova de Victor Frankstein. Luiza foi meio a contragosto, mas, acabou se interessando pela fita, pois além de ter um bom apelo, o corcunda é vivido por aquele menino que fez o Harry Potter. E até que o tempo passou e o menininho tornou-se um homem bonito. Toda criatura sabe da história de Frankstein: a autora romanceou o sonho do homem de ser Deus, aventurando-se a criar um ser humano. Essas ambições emergem da crença ilimitada na ciência como solução para todos os problemas. Mas, será que tudo estar ao alcance das mãos e a ciência humana é capaz de tudo?
Num indefinido final de semana (acho que foi em meados de Outubro), fomos a Recife para pegar um pouco de sol. Impressionante, que justo naquele final de semana, eu estava morta de gripe, mas, a reserva já estava feita, e Luiza estava doida por um passeio. Fui assim mesmo. Ou morria ou sarava de vez. Fomos bater o ponto na Saraiva do Shopping Recife, e num momento de distração, acabei fazendo uma assinatura de revistas de papel. Nada mais em decadência do que a mídia impressa brasileira, principalmente no setor de magazines mensais. Já faz meses que penso em cancelar, mas, acabo dando mais uma chance ao próximo número. E num desses, a revista Superinteressante (uma seleta simplificada de literatura científica) trouxe uma matéria enorme sobre os avanços da robótica e da automação. Lembrei-me logo de uma conversa que tivemos na Coordenação de Administração Hospitalar: na época estava enfrentando o dilema de dispensar a nossa empregada doméstica para fugir dos encargos trabalhistas da nova legislação brasileira, coisa que fiz em julho. Então, tomava uns conselhos com os colegas quanto ao desenvolvimento de estratégias para enfrentar a batalha do serviço doméstico: sugeriram-me uma diarista (que não arranjei), uma pessoa para passar roupas uma vez por semana (que não encontrei) e automação da casa (que ainda não tive dinheiro para fazer), mas que foi a ideia que melhor me pareceu. O companheiro Ornilo contribuiu socializando que o seu sobrinho adquiriu um robô que varre a casa. Você programa e o bicho fica lá varrendo, enquanto você cuida de sua vida. Achei ótimo. pois creio firmemente que o sujeito que inventou a máquina de lavar roupas deveria ganhar o prêmio nobel da paz. Mas, antes de ter bala na agulha para adquirir a tal máquina de varrição, temos outras prioridades, de forma que continuo com a minha velha e boa vassoura analógica.
Pois bem, a matéria da revista propagava os avanços da robótica. Segundo a reportagem da Super, a tecnologia já avançou tanto no campo da I.A. (Inteligência Artificial, me lembra aquele filme horrendo de Spilberg) que os computadores já começam a desenvolver a consciência. Ou seja, conforme a revista, as máquinas já conseguem se autorreferenciar no mundo e perceber o seu lugar, através de um teste simples. Esse resultado tem assombrado o pessoal que desenvolve sistemas, que alertam sobre o perigo das máquinas se libertarem do domínio humano, e voltar-se contra o criador, ou seja, nós. Outro dia, aliás outra madrugada estava assistindo um pedaço de um filme da década de 1970 em que o computador endoidava e colocava um depósito monstruoso na conta do sujeito. Confesso que já até sonhei com este tipo de falha operacional, da mesma forma que as crianças sonham acordadas em passarem a noite presas em supermercados.
De qualquer forma, independente de qualquer bug no sistema, acredito que a tecnologia avance mais a cada dia, contudo, reservando algumas lacunas de permanência. É como o caso do enxadeco. No meu projeto de redução da dependência da mão-de-obra contratada, seja ela contínua ou eventual, fui na loja do Cid e comprei um enxadeco. A ideia é que assim que o matinho começasse a crescer no quintal, seria decepado pela Super Anna. Tony concordou em revesar o serviço de super-herói comigo, dando provas de sua infinita solidariedade. Na loja só vendia a lâmina do enxadeco e o vendedor nos recomendou comprar o cabo no beco do fumo. Chegando lá, encontramos o cabo, mas não ninguém sabia acunha-lo no enxadeco. Depois de uma via crucis entre o beco da antiga Telpe, a CEAGA, e a novamente na loja de Cid, acabamos nos esquecendo, pois encunhar enxadecos é um serviço altamente especializado, cujo profissional não existe. Enquanto isso, o mato cresceu no quintal e acabei contratando um faxineirinho para resolver o problema.
Mesmo com tanta tecnologia dando sopa, há determinados serviços que são mesmo feitos à moda antiga, comprovando que aqui vivemos em vários tempos históricos sobrepostos e imbricados, conectados na hi-wi ao mesmo tempo que lutamos com enxadecos desacunhados.
Até amanhã, fiquem com Deus.
PS: O texto começou a ser escrito na primeira quinzena de dezembro, mas, o computador pifou. Então, nestes dias estive num árido deserto sem máquina, somente olhando as novas na tela de um celular, cujas letrinhas quase terminam de me cegar. Até que no último dia de 2015, o veterano do exército vermelho retornou à ativa. Fiquei muito feliz quando o meu computador voltou. Já estava com olhos compridos para uma velha máquina de escrever!
Num indefinido final de semana (acho que foi em meados de Outubro), fomos a Recife para pegar um pouco de sol. Impressionante, que justo naquele final de semana, eu estava morta de gripe, mas, a reserva já estava feita, e Luiza estava doida por um passeio. Fui assim mesmo. Ou morria ou sarava de vez. Fomos bater o ponto na Saraiva do Shopping Recife, e num momento de distração, acabei fazendo uma assinatura de revistas de papel. Nada mais em decadência do que a mídia impressa brasileira, principalmente no setor de magazines mensais. Já faz meses que penso em cancelar, mas, acabo dando mais uma chance ao próximo número. E num desses, a revista Superinteressante (uma seleta simplificada de literatura científica) trouxe uma matéria enorme sobre os avanços da robótica e da automação. Lembrei-me logo de uma conversa que tivemos na Coordenação de Administração Hospitalar: na época estava enfrentando o dilema de dispensar a nossa empregada doméstica para fugir dos encargos trabalhistas da nova legislação brasileira, coisa que fiz em julho. Então, tomava uns conselhos com os colegas quanto ao desenvolvimento de estratégias para enfrentar a batalha do serviço doméstico: sugeriram-me uma diarista (que não arranjei), uma pessoa para passar roupas uma vez por semana (que não encontrei) e automação da casa (que ainda não tive dinheiro para fazer), mas que foi a ideia que melhor me pareceu. O companheiro Ornilo contribuiu socializando que o seu sobrinho adquiriu um robô que varre a casa. Você programa e o bicho fica lá varrendo, enquanto você cuida de sua vida. Achei ótimo. pois creio firmemente que o sujeito que inventou a máquina de lavar roupas deveria ganhar o prêmio nobel da paz. Mas, antes de ter bala na agulha para adquirir a tal máquina de varrição, temos outras prioridades, de forma que continuo com a minha velha e boa vassoura analógica.
Pois bem, a matéria da revista propagava os avanços da robótica. Segundo a reportagem da Super, a tecnologia já avançou tanto no campo da I.A. (Inteligência Artificial, me lembra aquele filme horrendo de Spilberg) que os computadores já começam a desenvolver a consciência. Ou seja, conforme a revista, as máquinas já conseguem se autorreferenciar no mundo e perceber o seu lugar, através de um teste simples. Esse resultado tem assombrado o pessoal que desenvolve sistemas, que alertam sobre o perigo das máquinas se libertarem do domínio humano, e voltar-se contra o criador, ou seja, nós. Outro dia, aliás outra madrugada estava assistindo um pedaço de um filme da década de 1970 em que o computador endoidava e colocava um depósito monstruoso na conta do sujeito. Confesso que já até sonhei com este tipo de falha operacional, da mesma forma que as crianças sonham acordadas em passarem a noite presas em supermercados.
De qualquer forma, independente de qualquer bug no sistema, acredito que a tecnologia avance mais a cada dia, contudo, reservando algumas lacunas de permanência. É como o caso do enxadeco. No meu projeto de redução da dependência da mão-de-obra contratada, seja ela contínua ou eventual, fui na loja do Cid e comprei um enxadeco. A ideia é que assim que o matinho começasse a crescer no quintal, seria decepado pela Super Anna. Tony concordou em revesar o serviço de super-herói comigo, dando provas de sua infinita solidariedade. Na loja só vendia a lâmina do enxadeco e o vendedor nos recomendou comprar o cabo no beco do fumo. Chegando lá, encontramos o cabo, mas não ninguém sabia acunha-lo no enxadeco. Depois de uma via crucis entre o beco da antiga Telpe, a CEAGA, e a novamente na loja de Cid, acabamos nos esquecendo, pois encunhar enxadecos é um serviço altamente especializado, cujo profissional não existe. Enquanto isso, o mato cresceu no quintal e acabei contratando um faxineirinho para resolver o problema.
Mesmo com tanta tecnologia dando sopa, há determinados serviços que são mesmo feitos à moda antiga, comprovando que aqui vivemos em vários tempos históricos sobrepostos e imbricados, conectados na hi-wi ao mesmo tempo que lutamos com enxadecos desacunhados.
Até amanhã, fiquem com Deus.
PS: O texto começou a ser escrito na primeira quinzena de dezembro, mas, o computador pifou. Então, nestes dias estive num árido deserto sem máquina, somente olhando as novas na tela de um celular, cujas letrinhas quase terminam de me cegar. Até que no último dia de 2015, o veterano do exército vermelho retornou à ativa. Fiquei muito feliz quando o meu computador voltou. Já estava com olhos compridos para uma velha máquina de escrever!
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