sábado, 25 de junho de 2011

Festas juninas lusitana

Portugal  é um país católico, por isso as festas de santo são bombadas. Penso que essas festividades neste período do ano devem vir de muito antes do cristianismo, pois, após o longo e tenebroso inverno, quando chega a primavera, tudo desabrocha com uma força que dá vontade de sair dançando na rua. Enquanto nós, nordestinos, balançamos o esqueleto no lume da fogueira e ao som do forró, geralmente sob uma garoinha insistente, aqui o sol teima em permanecer no céu até as 21h30min. Isso me enlouquece! acabamos dormindo mais tarde do que o habitual, pois, o corpo precisa do período escuro para descansar.

As festas de junho são festas de santo. A festa de Estarreja (cidade que fica próximo à Aveiro) é de 01 de junho à 03 de julho, batendo os 30 dias de festa de Caruaru. Em Lisboa, a festa de Santo Antonio é concorridíssima, com o concurso das marchas populares, tipo de folguedo que toma o país nesse época, e que nos trás a incrível sensação de "Eu já vi isso em algum lugar".




Apesar do padroeiro da capital portuguresa ser S. Vicente, é no Sto Antonio que as marchas populares tomam as rua e invadem a Praça da Liberdade. Embalados ao som de uma música marcada por taróis e metais, origem das nossas marchinhas de carnaval. O passinho miúdo e rápido leva os brincantes em filas em coreografias bem ensaiadas e extramamente ordeiras. As raparigas com as mãos a cintura, muito elegantes, e os rapazes com os estandartes. As apresentações trazem temas diversos. A concorrência é tão acirrada em Lisboa, que lembra os campeonatos de escola de samba!

Em Aveiro, as marchas populares são promovidas pela Paróquia da Glória, freguesia onde moramos. As barraquinhas foram montadas há quase um mês no parque, e todos os sábados e domingos tem música e comidas típicas. Esqueça as comidas de milho, típicas do São João americano. Aqui, a comida típica é a sardinha assada em braseiros, fêveras (carne de porco) e tremoços. O ar cheira a peixe frito na brasa, uma delícia. O que não é lá muito bom é o preço: meia dose (porção) de sardinha custa 4 euros. Vem com quatro sardinhas. Caríssimo, quando se sabe que ali no Jumbo vende um saco 1kg de sardinhas por 1 euro e pouco. Andamos na pracinha iluminada por gambiarras de pequenas luzes e enfeitada por pórticos de pequenas luzes formando motivos florais, como se fosse natal. No coreto da praça, uma dupla se apresentava a um som horrível. A segunda música que a dupla cantou foi "morango do Nordeste". Eu e Tony trocamos aquele olhar com ar de riso que significa "Vamos embora", mas Luiza insistiu e ficamos revesando, dançando com ela no modo de Zito do Tacho. 

Na véspera de S. João, teve a marcha popular. Marchas de algumas cidades vizinhas compareceram, muito ordeiras, com seus ornamentos coloridos. Um espetáculo muito bom. Passamos todo o tempo achando semelhanças com as quadrilhas estilizadas, com as marchinhas do nosso carnaval. Era uma mistura da Quadrilha Arrastapé com o Bloco da Saudade. 
A marcha que mais apreciamos foi a aveirense "Ventos da Ria", que trazia uma homenagem ao vinho. A música era mais animada, estavam todos muito entusiasmados e bem coreografados. Nessa marcha também percemos algumas particularidades: muitos jovens em meio aos mais idosos, predominantes. Tinha até um bebê! e na banda tinha um senhorzinho tocando bumbo, deficiente visual, guiado pela esposa. Gostei muito. 
No dia de S. João, a paróquia convidou um grupo de marcha de Vera Cruz para uma apresentação na praça. Fizeram um maravilhoso desfile de trajes típicos da região, mostrando a evolução dos trajes dos homens e mulheres trabalhadores e nobres ao longo da história.

Aqui, temos os trajes da Tricana, mulher do povo, orgulhosa de suas meias brancas rendadas e abaixo a Salineira, trabalhadora do sal, produto típico dessa região.

Um bom São João, excelente oportunidade para aprender mais sobre a cultura popular portuguesa. O que entristece é a ausência dos jovens, que valorizam tão pouco a riqueza que tem. Mal sabem eles que a melhor estratégia para enfrentamento da crise é reforçar a auto-estima, valorizar o patrimônio cultural, ter orgulho de ser português. Por meu lado, revejo os meus conceitos e passo a valorizar mais as nossas tradições.

Saudade de hoje: Da quadrilha Arrastapé, da vila do quartel, que por falta de incentivo não abrilhanta mais o São João pernambucano. 

As fotos foram"achadas" na internet. A torradeira não quis cooperar e as fotos noturnas ficaram horríveis.
   
Té manhã, fiquem com Deus
       

2 comentários:

  1. Adorei sua narrativa sobre as festas lusitanas, parece até que eu estava lá. Aqui achamos milho na Praça. D. Pedro II e começamos a trabalheira da pamonha depois do almoço: Maninha, Ilda, Ilza e eu. Fizemos ainda canjica e bolo quindão de macaxeira. Comemos muito, até ficarmos tristes, foi bom e não foi: Faltaram vocês e Vilma e todos os sobrinhos. Não fiz fogueira , pois choveu demais e não quis correr o risco de não pegar; ficou a lenha pro São Pedro. Beijos e saudades de vocês.

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  2. Pensei que esta dose era de sardinha passada no liquidificador.

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