quarta-feira, 18 de abril de 2012

O futebol

Tudo que eu queria dizer sobre o futebol, Chico Buarque já disse na canção "O futebol". Mas, eu sou insistente e reclamo o direito de falar desta que é a paixão mundial. Para comprovar esse fato, basta uma bolinha qualquer e um tempinho livre e garotos comuns ou senhores de idade se transformam em astros da bola. Basta conferir o público nos jogos dos mundiais nos estádios ou a audiência dos jogos transmitidos em horários nada convencionais pelas artes dos fusos horários. Além disso, como diz o ditado: "De técnico,  médico e louco, todos têm um pouco". Todos sabem de futebol, ainda que nunca tenham jogado nem um minuto de uma partida.

Aprendi a gostar de futebol assistindo na tv com a minha mãe. Nós trombávamos na linguagem, pois ela era do tempo do "marechal de campo" e do "ponta de lança". Mas, me ensinou direitinho a reconhecer o impedimento, diferença ente penalti e falta. Graças a minha velha, entre muitas outras coisas, não só fico olhando a (suposta) beleza dos jogadores de futebol. Gosto da história do jogo, dos lances polêmicos e das comemorações atrevidas. Gosto de camisa de time. Gosto de ouvir a conversa dos caras sobre o futebol. Adoro xingar o juiz de ladrão, só não falo da mãe dele. Vá que eu tenha um filho juiz de futebol? 

Quando trabalhava em Caruaru com garotos de 5ª e 6ª série (atuais 6º e 7º ano do Ensino Fundamental, no Brasil. Em Portugal é do 2º ciclo da Educação Básica) penei para chamar atenção dos meninos nas aulas de Geografia. Como duelar com a expectativa do jogo que seria na quarta à noite e contra os comentários sobre o jogo no dia seguinte, meus dias de aula? O jeito foi utilizar o Futebol para me aproximar dos meninos e poder trabalhar o conteúdo da disciplina. A partir das cidades-sede dos times (equipas, para os lusos) estudávamos as regiões do Brasil, suas vocações econômicas e quadro natural. Os mascotes dos times ajudaram bastante no estudo da fauna. Disto daí para a flora, clima e relevo, era um pulinho. Nada melhor que ensinar fuso-horário em ano de Mundial de Futebol. Eu até me apropriava do discurso do marido: repetia para os meninos o que ouvia Tony falar com os amigos, e os pequenos ficavam crentes que eu era a professora "mais entendida" de futebol. Era uma "futegrafia" interessante e produtiva. Entrando na deles, evitava de apartar briga entre corinthianos e sãopaulinos. Trabalhávamos animados, embalados pelo futebol.

Lá em casa, somos torcedoras do Sport Club do Recife, herança genética de nosso pai. Para a imensa ironia do destino, minha mãe morou seus últimos tempos sendo vizinha de Bacalhau. Cheguei a pensar que daria confusão entre a nação feminina rubro-negra e o representante-mor do Santa Cruz vizinhos de quintal. Deram um exemplo de civilidade. Quando se encontravam em meio a rotina doméstica, cumprimentavam-se polidamente. Ela o tratava por "seu" Bacalhau. Pena que a civilidade não chegue nos estádios, sobretudo às temíveis torcidas organizadas. Por mais que Iasmin defenda a Torcida Jovem do Sport, é fato que esta não é diferente das outras: há bandidos uniformizados e gente doida que aproveita da vibração do jogo e da paixão pelo time para cometer crimes contra a integridade física.

Não é por medo que nunca fui a campo. Mentira. Fui uma vez, um joguinho entre o Sport e a AGA, no estádio do Sete de Setembro, em Garanhuns. O Sport perdeu e eu ganhei a fama de pé frio. A outra oportunidade foi um jogo do Sport e Palmeiras, também em Garanhuns, no mesmo estádio, que o Marcos, então Goleiro (guarda redes) do Palmeiras disse que era um pasto. Para esse jogo, que foi no dia 23 de novembro de 2003, eu quase fui. Insisti, fiz birra e confusão para ir, mas na hora de calçar o sapato, não havia sapato que entrasse nos meus pés inchados de grávida de 9 meses. Tony foi sozinho e agradecido ao sapato por eu não tê-lo acompanhado. Luiza nasceu no dia seguinte.   

Nesta temporada lusitana, tenho tentado acompanhar o futebol europeu, mas é dificil. Primeiro é que são muitos campeonados simultaneos: é tanta copa, tanta liga que não dá para saber que time está ganhando o quê. Além disso, os narradores de futebol daqui são terríveis, dá até saudades da chatisse do Galvão Bueno. Eles conversam o tempo inteiro, parece que não sabem os nomes dos sujeitos que estão no campo e não imprimem emoção ao jogo. Pela narração não há diferença entre "a bola foi-se pela linha do lado" e o "golo". Eu, que só assisto sem ver (o jogo rolando na tv e eu fazendo outra coisa), quando levanto a cabeça o placar já mudou e eu nem senti. Mas, não posso deixar de reconhecer que me surpreendi quando me deparei com este time ai:

  
Diga aí se não é o genérico do nosso Leão da Ilha?
Só erraram na cor! É... talvez algum dia, eles amadureçam. Nem precisa conferir. O Sport Recife é de 1905 e o Sporting é de 1906. Entre Pernambuco e Portugal sobram semelhanças, e esta pode não ser mera coincidência. Digamos que foi um ctrl c + ctrl v do início do século passado.

Mas, o melhor do futebol são as provocações saudáveis aos torcedores (adeptos) dos times adversários, coisa que não costumo ver cá em Portugal. Como naquela noite quando vínhamos de Palmeira dos Índios, ouvindo o jogo pelo rádio. Sport e Santa Cruz nos últimos minutos quando chegavamos à rotunda da Boa Vista, entrada de Garanhuns. Bem na hora do Carlinhos Bala cobrar o penalti para o Santinha, uma interferência tira o sinal do rádio. Um silêncio de suspese se segue... Desesperado, César Bota Boi, o condutor do veículo, dá murros no rádio para trazê-lo de volta à vida... O rádio ressucita bem a tempo do falecido  Adilson Couto gritar: "Peeeeeeeeeeerdeu o penalti, o Carlinhos Bala"!  A vã em festa, balançava pela cidade, quase meia-noite e  após um cansativo dia de trabalho, renovamos nossas forças para abusar César Brasil, o único sofredor-torcedor (adepto de pouca sorte) do Santa Cruz presente no carro. Magias do futebol!

Saudades de hoje: do pio do gavião das transmissões de futebol da Rádio Jornal e do trabalho do  Adilson Couto, o narrador de futebol que fazia o jogo parecer infinitamente melhor do que podia ser.

Até amanhã, fiquem com Deus.

  

    

      

10 comentários:

  1. Primeiramente Saudações Rubro-Negras!

    Quando Dou Aula (Estagio ou Substituição de Geografia) Também Uso o Futebol Pra Conquistar os Meninos, as Meninas São Mais Flexiveis Quado Chegar Um Professor Novo (Na Idade e Na Escola), Quando desando a Falar de Futebol Num Ganho Alunos, Ganho Amigos! Certa Vez Dando Aula na 5º Serie da Escola de Aplicação da UPE/Garanhuns, Os Alunos Me Apelidaram de "Kaká" e Até Hoje Quando Me Veem na Rua Gritam Pelo Nome de Jogador do Real Madrid, Creio Que Nem Saibam o Meu Nome! kkk
    Também Tenho Uma Inveja Sadia, Se Assim Podemos Chamar, Do Seu Jeito de Escrever, Pois Sofro Pra Escrever Algumas Linhas Para Um Artigo ou Até Monografia (Esta Que Já Me Livrei).
    Leio Todos o Seus Posts!
    Quando Crescer Quero Ser Que Nem Você! kkk

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    1. Pois, Danilo, o futbol nos ajuda mesmo destas horas de decisões didáticas, principalmente se trabalhamos com os guris da educação básica. Você é sempre muito generoso com os comentários. Obrigada pelos elogios! :))

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  2. Blz., muito boa sua reflexão sobre o futebol, parabéns.

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    1. Olha ai, gente!
      Não é todo blog que é comentado por um Agente FIFA! Valeu, Roberto, Obrigada! :))

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  3. Não faço diferente entre uma ou outra torcida, todas são a mesma coisa.. Apenas me refiro a banir as torcidas, os marginais organizados, vão continuar fazendo arruaça com ou sem.. Mas a grande maioria aquela q faz a festa nos estádios, que se comprometo com a função, que visita creches, asilos, faz campanha de doação de sangue, acho que essa é a torcida organizada q ninguém mostra.. Adorei o post Anninha, vovó era sabida mesmo.. hehehsh, vou usar o futebol como metodo de me aproximar dos meus alunos tbm.. hehahsehahse..

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    1. É, Iasmin, gente ruim há em todo lado, inclusive na Igreja. E temos que reconhecer, os marginais são mesmo organizados, mesmo quandoa tuam isoladamente! Beijinhos!

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  4. Eu gosto da frase ëntre as coisas menos importantes, o futebol é a mais importante"...
    Olha, ter um leão no escudo é algo muito comum em times ingleses e franceses (deve ser a herança medieval), então não é por acaso que o Sporting Lisboa tenha um... Nem o sport de Recife (fundado, inclusive com nome em inglês).
    Quanto aos campeonatos, é fácil de acompanhar. Cada país tem normalmente um campeonato e uma copa (com algumas exceções) e existem duas copas continentais... eu consigo acompanhar daqui, imagina aí, hahahaha

    Belo post, parabéns!!

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    1. Olá, Sid! Depois do teu comentário, percebi que a presença inglesa no Brasil está para além de ser berço do futebol. É reflexo de uma época. Fiquei pensando que já seria possível propor uma disciplina de mestrado "Historiografia (ou sociologia) do Futebol pernambucano"! A única exigência seria ter 3 professores, um de cada grande time... assim a "coisa" ficaria menos tendenciosa!
      Abraços! :)))

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  5. Profª Anna Cecilia,

    Esse post deu saudade das aulas da senhora na faculdade, no curso de administração em empreendimentos turísticos. Naquele fatídico jogo de sport x palmeiras em Garanhuns tive tanta raiva, mais tanta raiva que fui bater no hospital com uma crise renal. Muito bom o texto e relatou exatamente toda uma paixão que existe no futebol.

    Abraços e Saudações Rubro-Negras

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    1. Wow, saudades imensas dessa turma de Adm/turismo! Andamos um bocado pelo estado de Pernambuco... Beijos à todos!

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