domingo, 25 de janeiro de 2015

Simples assim

Pronto, então, as férias já acabaram. Pelo menos para mim, já. Ando tentando arrumar minha rotina da maneira mais lúcida o possível. Já não tenho mais ambição de fazer trezentas coisas ao mesmo tempo, até porque, quem faz muitas coisas ao mesmo tempo acaba por não fazê-las bem. E quando conseguem obter algum sucesso no que faz, nem tem tempo para refletir a respeito do que foi realizado. Ando assim, meio Lenine: "Enquanto o mundo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço hora, vou na valsa... A vida é tão rara." 

Luiza ainda tem uma semana de férias, e o desafio agora é lidar com a ansiedade da menina que irá mudar de nível de ensino na escola, de prédio e pela agonia dela, parece até que vai mudar de planeta. Quando ela começa a estressar, eu lembro-a que já enfrentou tantos desafios, com mudanças muito mais drásticas. Estas, ela tirará de letra. E acaba-se o drama. Às vezes, acho que minha filha é muito experiente aos onze anos. E isto pode ter seu lado ruim. Mas, como somos da filosofia "metade do copo cheio", vamos vivendo. Demos uma pausa na reforma da casa, por um motivo bastante significativo: o dinheiro acabou-se. Geralmente, numa obra devemos operar com uma margem de erro sempre para mais, pois, nunca o orçado será o custo do executado. Quando comento isso com os meus alunos de Engenharia Civil, eles fazem cara de descrédito: é a distorção do conhecimento científico que constroem na academia. Contudo, já temos experiência e sabemos que construção é um passo para frente e dez mil contas a pagar. No próximo mês, entramos na etapa do acabamento em gesso da área reformada e procederemos a pintura. Ficará bom. Pelo menos já podemos curtir a ampliação do espaço, pois, após morar três anos num T0 (lê-se Tê-Zero) em Aveiro,  por questões circunstanciais, me cansei de aperto. Hoje queremos mais espaço para receber mais gente, para caber mais felicidade. E hoje coube um pouco mais.

Desde sempre, aos domingos, almoçávamos na casa de mamãe. Ela fazia uma galinha ao molho, um arrozinho básico e um feijão verde ótimo. A receita da farofa gordinha, feita com farinha de mandioca, cebola, água e sal,  perdeu-se com ela. Quando mamãe foi embora, nenhuma de nós aprendeu a fazer a tal farofa. E dela, chego até a sentir o gosto. Coisa simples, de matuto. Mas, sem igual. Então, depois que Deus convocou minha velha, tentamos manter a tradição, do encontro semanal. Até que por algum tempo funcionou, mas, foram rareando, por várias situações. Quem mantém a frequência é Ilma, que sempre tem clientes para comer a galinha preta (à cabidela) do domingo. Pronto, depois que começamos a reforma, as coisas ficaram bem complicadas, pois não há quem sobreviva entre concreto e cimento. Então hoje, mesmo com a obra inacabada, decidimos marcar o encontro para o almocinho. Vieram Izabel e Mariana, Ilma e Antonio e Ilza. Faltaram Maninha e Cândido, que já tinham compromissos, e Ilda que anda ocupadíssima, com prazos curtos para seus escritos. 

É sempre muito divertido. Minhas irmãs são meio doidas, alegres, animadas. Sempre tem uma história nova para contar. Mesmo as experiências mais difíceis são relatadas com gosto de comédia. Ilza nos contou que, concluída a última aplicação da série de quatro sessões que compõem o tratamento de radiação (que eu não sei o nome), parecia que uma cáfila inteira havia sapateado em cima dela. Izabel explicou-nos que os efeitos colaterais do tratamento são mesmo complicados, embora só venham manifestar-se na última sessão. Enquanto contava com muita graça as agruras do tratamento, folheava os livros do ano passado de Luiza, pesquisando material para trabalhar com os meninos que serão sua nova turminha neste ano. Mesmo enfrentando um tratamento difícil, não se abate. E, talvez, guardadas as devidas proporções da história de vida de cada uma, nós somos assim: não tem essa de fazer corpo mole, e nem ficar com lamentações. Se o desafio é tal, só nos resta enfrentar, fazer o que é possível. E cada uma, toca a vida a sua maneira. E nos apoiamos mutuamente nas dificuldades.

Talvez seja o tempo que passei fora que me faz atribuir tanta importância a estes encontros. Gosto de acordar cedo aos domingos para cozinhar, embora essa tarefa não seja propriamente a minha especialidade. Mas, com o tempo a gente vai aprendendo. Gosto de ter meu companheiro na cozinha, assumindo uma parte do serviço, recolhendo pratos, passando um café. Gosto da simplicidade que cercam esses momentos, em que até as seriguelas da feira, que  Luiza trouxe quando mandei-a ao mercadinho comprar maçãs para a salada, fazem sucesso. Gosto da galhofa do cafezinho para Ilza e do cafezão para Ilma. É bom ser do time dos "sem frescura", dos descomplicados. Mas isso é uma grande aprendizagem, e me arrisco a dizer, não é para qualquer um. E como diria Erasmo Carlos, "se o simples fosse fácil, já teriam inventado um outro parabéns a você."

Até amanhã, fiquem com Deus.

PS: Foi assim: Mandei a menina comprar maçãs para a salada pedação. Ela voltou com um saco de seriguelas e sem as maçãs. Muito parecido. Não nos estressamos com isso, mandamos ver nas seriguelas e ficou tudo em paz!    

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