Então, na última terça-feira, quando fui à sala de refeições de um simpático hotelzinho à beira mar da capital cearense, tomei meu café com notícia de queda de avião. Para quem ainda ontem havia desembarcado de uma aeronave do mesmo tipo, ficamos, eu e os demais hóspedes desconhecidos, nos olhando, entre desconfiados e aliviados, pois não foi a nossa vez. O transporte aéreo, um A320 que espatifara-se mais cedo nos alpes franceses são comuns nos céus do Brasil, fazendo curtos percursos, ligando as capitais e regiões metropolitanas, nos livrando da estopada de ter que enfrentar 10, 12 horas de estradas péssimas. Além de rápido, o avião é um transporte mais seguro... A depender de quem vem lá.
Uma coisa é certa: é muita gente louca solta no mundo. O que moveu aquela criatura a tramar a vida de 149 pessoas não me compete discutir. Mas, no outro dia pela manhã, quando corria pelos corredores vazios do Aeroporto Pinto Martins, pois conseguira encaixe num voo mais cedo, o que me renderia uma hora em Recife, possibilitando, por pura sorte, arranjar um transporte para chegar a Garanhuns (morar no interior não é fácil), não reprimi a prece ao senhor que me livrasse do mal, e de qualquer doido que aparecesse no meu caminho. Só fiz sentar na poltrona, junto a duas jovens buliçosas, e o avião correu pela pista. Pronto. Já não era mais possível voltar atrás, e se o doido tivesse embarcado antes de mim, não iria estar aqui, no privilégio de escrever estas mal traçadas linhas.
Se formos pensar um bocadinho, ninguém conhece ninguém, e por isso mesmo, nossas vidas vivem por um fio. Na última terça, cheguei ao Campus do Pici com o coração na boca, pois o taxista que conduziu me do hotel à Universidade tinha uma conversa bem esquisita. O sujeito falava baixinho, calmo, manso. A uma certa altura, achou bom me apresentar a área barra pesada da cidade, explicando pormenorizadamente sobre a guerra do tráfico. Enquanto ele contava as peripécias das gangues, eu me encolhia no bando traseiro. Era fácil me matar e me jogar na maré. Quilômetros à diante, o sujeito, que já havia perguntado de onde eu era, sacou o telefone do bolso e num sinal vermelho, selecionou as fotos do sujeito que matara a jovem degolada em Angelim, na semana anterior. Com muito custo, consegui convencer a criatura que não me interessava ver a cara do feminicida (é, no Brasil existe essa categoria). Aliviada, paguei a corrida na frente do bloco 848 da UFC, dando graças a Deus a permissão de cuidar dos documentos que trazia apertados na pasta debaixo do braço.
Na nossa região há um ditado popular que diz: Para morrer, basta estar vivo. Nunca vi tão certo. E como, apesar da vida difícil, não tenho pressa para desencarnar, vou pedindo a Deus que projeta das doenças, dos vícios, das balas perdidas ou de ser alvo fácil. E ultimamente, tenho pedido ao Altíssimo que se não for abusar muito, desvie os loucos furiosos dos nossos caminhos, pois, como diria Chicó, cavalo bento, cachorro bento, tudo isso, eu já vi. E Lenine arremata muito bem com a melodia, já no final da canção:
Os Anjos, os Exterminadores
Os Velhos jogando bilharO Vaticano, a CIA
O Boy que controla radar
Anarquista, Mercenários, quem é?
Quem é e quem fabrica notícia
Quem crê na reencarnação
Os Clandestinos, os Ilegais
Os Gays, os Chefes da Nação
Ninguém faz idéia
De quem vem lá...
A música é boa, portanto, segue o vídeo.
Pois é isso. Ninguém conhece ninguém, e há quem disfarce a própria loucura com muita competência.
Take care!
Até amanhã, fiquem com Deus, na paz!
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