domingo, 24 de maio de 2015

Ajuda

Então, parece-nos que finalmente começou a época das chuvas. Muito atrasado, e nem serão as chuvas necessárias para resolver os problemas das colheitas. Certamente, este ano a espiga de milho será cotada através dos índices da bolsa de valores. Fará jus ao termo "um milhão". Nos restará o consumo das espigas transgênicas, perfeitinha, bem certinhas, sem respeitar mas a época do cultivo e da recolha. Sua origem é duvidosa. Lembro-me que quando Ilza estava grávida de Pablo, deu-lhe na ideia de comer milho cozinho. Isso era na altura de março ou abril. Lembro de mamãe respondendo: "não dou jeito. Esse desejo seu vai ter que esperar até o mês de junho." Para o menino não nascer com cara de espiga, a grávida pediu a Ilma para desenhar uma espiga bem realista. Se fosse hoje em dia, era só tocaiar os carrinhos de milho que circulam o ano inteiro no centro comercial. Antigamente (desculpa, Pablo!) existiam as comidas da estação. Na pós modernidade, se come pamonha em dezembro. Pode ser até bom, mas, perde-se um pouco o glamour. 

Pois, com as primeiras chuvinhas aproxima-se o final de semestre. É a época dos estudantes de engenharia civil começarem a "correr bicho" na escola. A cara meio lunática que eles assumem nesta época me faz pena. Tenho minhas dúvidas sobre a qualidade do que aprendem. Comentei com o coordenador adjunto do curso (que é matemático de formação) que, com um sorriso sincero me explicou que é assim mesmo. Faz parte da formação do engenheiro a pressão absoluta. Eles passam o curso inteiro num MMA com as inúmeras disciplinas de cálculo. Confesso que, talvez, a idade tenha me amolecido o coração. Na época que andei por Direito, eu tinha a sensibilidade de uma viga de concreto. Hoje, até procuro jeitos de ajudar. Minha disciplina é de texto, num curso em que se fala através de números. Já isso é um fator limitante. Com pena das criaturas, que chegam às 13h e vão até depois da 22h, ajeitei o nosso trabalho para verificar o desempenho por grupos. Os mas forte ficaram primeiro. Fizeram a socialização de suas propostas de pesquisa e ajudaram os demais grupos a ter uma ideia prática do que precisam melhorar nas suas proposições. Como bônus, ganharam duas semanas de folga. Já estão dispensados, entre eles, o cunhado Paulo, que felizmente apresentou-se um excelente aluno. Trabalhar em sala de aula com familiares, sejam diretos ou afins, pode ser complicado. Nesta experiência, foi absolutamente relax. Fora umas vezes que ele me ligou para tirar algumas dúvidas sobre referências (a ABNT come o juízo de qualquer um!), Paulo nunca se valeu da condição de chegado para obter alguma vantagem, E, até penso que, pedir alguma ajuda pode ser um sinal de maturidade. 

O pedido de ajuda passa por um processo de avaliação. Em determinada situação, verificamos que não vamos dar conta da encomenda. Então, descemos do nosso pedestal de infalíveis e invencíveis e pedimos ajuda àqueles que julgamos que tem condições de nos auxiliar. Desta forma, a ajuda é  o reconhecimento das próprias fragilidades e o exercício da humildade. Obviamente, que acredito que "Deus dá o frio conforme o cobertor", mas também acredito na santa interferência de Nossa Senhora da Ajuda. Quinta-feira passada, já por volta das 20 horas,  Luiza estava angustiada com uma tarefa de ciências que deveria entregar na manhã seguinte. Pediu-me um auxílio para as duas sínteses de textos complementares e as vinte e cinco questões sobre rochas. Com desculpas ao trocadilho, a professora "arrochou com fé" na tarefa. Mas, nós não somos de "pedir penico". O desafio existe para que peguemos o bicho pelo pescoço, e com a ajudinha sagrada da mamãe, que procurava nos livros as respostas (muitas, surpreendeu perceber que eu ainda sabia, do tempo em que estudou Geologia na UPE com o professor e pastor Jaziel, em mil novecentos e bolinha!), e passava para a menina os trechos de leitura para que construísse suas respostas quase monossilábicas. 

Então, para pedir ajuda é preciso reconhecer as próprias insuficiências. E para ajudar é preciso ter boa vontade e disponibilidade. É sair do conforto da obrigação restrita e a assumir alguma responsabilidade em mais um resultado. E mesmo desinteressado e sem intenções terceiras e quartas, comprometer-se com o feedback. Até porque a verdadeira ajuda deve ser prestada sem intenção de retorno. Há pessoas que têm essa vocação para socorrer os apuros alheios. São aquelas criaturas a quem não nos envergonhamos em pedir uma forcinha. Pedimos ajuda por saber que elas estarão disponíveis para colaborar, nas menores e nas maiores coisas. E correr grandes riscos, pois nem sempre o suplicante tem o mesmo critério de bondade para pedir ajuda. Oportunistas existem de palmo em palmo, e pessoas que ajudam podem ser exploradas por estes espíritos de porco. É bem assim, mas, é o risco de estar vivo. Tem uma história que contam sobre D. Hélder Câmara. Todos os dias, uma mulherzinha ia esmolar na Igreja das Fronteiras. E o Dom de Deus, sempre ajudava. Certa vez, alguém alertou-o: "D. Hélder, essa mulher é viciada em pedir ajuda. Mesmo não precisando, ela pede." O religioso refletiu um bocadinho e respondeu: "Vou continuar a ajudar. Essa pobre já perdeu tudo, inclusive a dignidade. Importa mais o que vai em meu coração enquanto ajudo."

Não cheguei a este ponto, pois, precisarei viver muitas vidas para aprender a ser 1% desse homem iluminado por Deus. Talvez eu esteja no rastro de Ilma e Rita, duas das pessoas com que convivo mais disponíveis para uma ajuda, um conselho, uma conversa. A medida e do meu modo vou aprendendo e ajudando, passando à diante o auxílio que já me prestaram. É um jeito de dizer "muito obrigada!"

Até amanhã, fiquem com Deus.

PS: Despertou-me esse tema a música de Beto Guedes. Fica como um carinho de domingo. 


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