domingo, 5 de junho de 2016

A Tocha

Então, eu andava procurando um motivo para voltar a escrever no Diga as novas. Na realidade, não havia abandonado: dei um tempo. E muita gente me questionou porque havia "parado". Na realidade, dei um tempo para me adaptar às mudanças que ocorreram em nossa vida, mas que atingiu em cheio o meu cotidiano. Somente para não gerar especulações, não perdi o emprego, não estou grávida. Também não acabou-se o casamento nem estou com doença grave. Adiantando, minha vida, como a de milhões de brasileiros, mudou por causa da situação econômica e social do país. É preciso um esforço para adaptar-se, e, felizmente, tudo já começa a entrar nos eixos, de forma que já estou aqui novamente, enfrentando a tela branca para preenche-la com as más traçadas linhas. Sobre isso, volto a falar depois, agora é hora da Tocha Olímpica, evento que me fez retornar ao dashboard do Diga as novas.

Pronto. Então, depois de muito esperar, chegou o ano de 2016, quando se realizarão os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Estamos animados à medida, pois, nesse país ninguém mais se encanta com "pão e circo". Já somos crescidinhos para saber que eventos esportivos não podem ser utilizados como cortina de fumaça para desviar as atenções dos problemas sociais e econômicos que enfrentamos. Mas também, vamos combinar: os Jogos Olímpicos é um evento mundial, que se fundamenta na história da humanidade. Além disso, quem nunca sonhou em seu um atleta, mesmo que seja a cada quatro anos? Me lembro muito bem da minha primeira Olimpíada, a de Moscou. Quem não se emocionou com o Ursinho Misha, não tem coração. Impulsionadas pela beleza dos jogos, eu e Vilma passávamos a tarde a nos pendurar nos galhos do pé de seriguela, crentes que eramos as romenas da ginástica olímpica, enquanto mamãe ficava lá debaixo dizendo que nós iríamos cair e quebrar o braço. O último jogo de futebol que me fez chorar foi em 1988, em Seul. Aquele time era bom, não era como o do "7 a 1".  Pois bem, esses jogos que sempre assistimos nos horários mais absurdos, serão realizados no Brasil. Creio que não teremos um grande resultado, mas é uma honra recebe-los.

Pois bem, como parte da mobilização para os jogos, a Tocha Olímpica vem percorrendo 329 cidades brasileiras, e Garanhuns entrou no roteiro. É toda uma infraestrutura montada pelos patrocinadores para cada uma dessas sessões de revezamento. Mediante inscrição ou indicação do município, foram escolhidas personalidades do esporte, cultura e educação para participar do revezamento. Cá na nossa cidade, tivemos o prazer de acompanhar Narclébio Rezende, Carlos Tevano e Gonzaga de Garanhuns. Obviamente tinham outros importantes contribuintes para a solidificação do esporte e da cultura local, mas este três foram os meus prediletos, e que eu e Tony corremos atrás para vê-los carregar a Tocha.

Narclébio é nosso aluno lá em Engenharia Civil. Aliás, é monitor da disciplina de Cálculo, e ajudou muito no afastamento de Giane, para tratamento de saúde. É um estudante trabalhoso, com uma trajetória de aprendizagem complicada, mas é uma excelente pessoa. Além disso, tem uma contribuição efetiva no desenvolvimento do basquete na região. Eu, que o conheci criança como Binho, fiquei muito feliz pela oportunidade que ele teve em conduzir a Tocha. No final, fomos lá no Colégio Santa Sofia, tietar o aluno.  

Carlos Tevano, Garanhuns e região conhece muito bem. Obviamente, explica-se proximidade, pois os dois filhos mais velhos de Tevano (Pablo e Iasmin) são meus sobrinhos. Nós, durante alguns anos andamos pelos tatamis garanhuenses, desde os tempos de Heleno Judô clube, até os primórdios no SESC. Aliás, já fui muito puxada, arrastada e esfregada em tatamis pelo mestre. Apanhava que era uma beleza. Quem tomou um chocolate (lapadas com a faixa marrom) no campeonato de "Vivo-morto", entenderá o que estou falando. Tevano é um grande educador: até mesmo os meninos mais birrentos falam com ele de mãos para atrás, cabeça baixa, na base do "sim senhor, professor". Até Mariana,  que era toda delicadinha e cheia de não me toques, quando viajava para os acampamentos praieiros com ele, voltava comento pau e pedra.  Conhecemos bem as lutas, as incertezas, as dificuldade de passar da faixa marrom para a preta, naqueles anos de 1990-2000. Não é como hoje. Naquela época, nas competições chamavam-no de "Matuto". E ele jogou muito adversário forte e seus patrocinadores endinheirados de hipon. Não teve oportunidade de ir a uma Olimpíada, mas, como ele mesmo diz, no revezamento da Tocha, a Olimpíada veio até ele. No pequeno trecho de 200 metros, quando Tevano passava carregando a Tocha, as pessoas diziam: "É Tevano! Esse merece!" Foi um reconhecimento público a quem vive do esporte.  

Seu Gonzaga não é nenhum atleta. É  um velhinho simpático, que trabalhou à fio nas Casas GG. Cordelista, poeta popular e líder de um grupo de reizado, Gonzaga de Garanhuns já recebeu várias comendas, entre elas a Medalha Professor Paulo Freire, em reconhecimento pelo trabalho para solidificação e divulgação da cultura popular. Representando o povo de sua terra, Seu Gonzaga acendeu a lamparina olímpica na Praça Mestre Dominguinhos, passando por um corredor formado pela guarda nacional e pelos companheiros do grupo folclórico. Um encerramento digno das melhores cerimônias. 

Por mais incrível que pareça, o Revezamento da Tocha ainda recebeu críticas. Algumas pessoas ficaram aborrecidas com a interrupção do trânsito (muitas, nunca dirigiram um carro!). A interdição ocorreu das 7h às 16h, até porque o evento é tão rápido que se não se programar direito, a tocha passa e você nem vê. Para ter uma ideia, nós fomos ver Narclébio na saída no Chez Pascal, e depois pegamos o carro às carreiras para ver Tevano na frente de Ferreira Costa. Quase que não dava tempo, porque para estacionar foi uma luta. Tá certo que Garanhuns é uma cidade pequena, e tudo era descida (e descendo todo santo ajuda!) mas a para acompanhar a tocha, é preciso mesmo ser atleta, ou meio maluco como "Seu" Mané Cabeludo, que acompanhou todo o percurso vestido de leão do Sport, com uma buzina na mão tocando o "cazá-cazá". E quando ele tocava, parte da galera reclamava: "lanterna, lanterna!", lembrando que o Sport vai mal das pernas neste início de campeonato brasileiro. Tem nada não. Tocha, lanterna, é tudo da mesma família.

Espero que permaneçam comigo por muito outros posts.
Fiquem com Deus.   



3 comentários:

  1. Eita, Anninha! Adorei seu post. Não fui receber a tocha, mas lendo seu texto é como se eu estivesse lá. Beijos. Ah, e que bom que você voltou a escrever, já estava com saudades.

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  2. Eu estava na cidade com Mytsi e resolvi ver Tevano conduzir a Tocha em seu 200 m q eu nem sabia que eram esse tanto só. Fiquei com Andressa , a garota da salada de frutas. Sim achei justíssimo que ele a levasse os outros nem conheço tanto, acredito que tenham cada um os seus atributos. Quanto às Olimpíadas , n vou negar que gosto
    dos jogos principalmente das provas de natação, e que foi depois de uma Olimpíada e Paraolimpíada que resolvi que queria aprender a nadar, e consegui. Não entro no mérito de ter ou n propriedade de sermos sede dos jogos, até pq este asunto já deu. Quanto a interdição da cidade, claro que era impossível passarem a Tocha e o transito ao mesmo tempo...Eu só questionei pq não foi fechado o comércio no dia, porém se fosse fechado eu n teria saido de casa para resolver problemas bancários e não veria a passagem do artefato, mas enfim...A Tocha chegou, passou, vimos,aplaudimos e esperemos os jogos. N creio que tenhamos excelente desempenho nas provas, n temos estrutura prá isso, mas valeu, valeu a honra de conduzir o símbolo, a escolha dos condutores, a festa, as pessoas na rua. Eu gostei. Bom que vc está de volta Anninha, sempre leio seus "alfarrábios" e estava comentando esta semana que vc n tinha escrito mais, pensei que teria fechado o blog e me prometi dar uma zapiada para ver mas vc se adiantou. Benvenuta, allora!

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  3. Concordo, Mahria. Acho que vamos pagar pelo preço de não termo uma política de desenvolvimento de esportes. Mas, creio que até com os vexames se aprende um bocadinho. Vamos lá, tudo vai correr bem.
    Obrigada, gente, pelos olhos atentos e pela companhia carinhosa.
    Beijos

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