segunda-feira, 7 de maio de 2012

Um mundo de plástico

Disponível em: http://www.solidario.blog.br/?p=4870
Num final de semana destes, fomos ao cinema ver um filme que Luiza estava doida para assistir. E quando ela quer uma coisa, até que tem paciência de esperar, mas a cobrança é intermitente. Mesmo com a previsão de cochilos na sala escura, quentinha e silenciosa - os miúdos portugueses portam-se muito bem nos espaços coletivos, e no cinema, nem parece que estamos em sessão de filme de censura livre - fomos sob chuva fina de uma primavera estranha ver o Lorax. O bichinho é até simpático, amarelinho, peludo e de grandes bigodes. Mas, à partida já estava intrigada com o nome da criatura, pois pareceu-me mais adequado para um laxante. O filme tratava de uma cidade muito bonitinha e limpa, mas que tudo era de plástico. Árvores, casas, jardins, carros, tudo era de plástico. O projeto grandioso de um empresário megalomano, porém baixinho, era perfeito, se não fosse a paixão de um adolescente, disposto a fazer a amada feliz. Para conquistar o coração da menina magricela que pintava árvores, o garoto subverteu a ordem em busca de uma árvore de verdade, orientado pela sua avó. A velhinha sabia das coisas.

Está bem, eu dei uns cochilos, mas deu para entender o filme, muito parecido com O Mundo dos Nem, provavelmente da mesma indústria cinematográfica. Durante a caminhada de volta para casa, discutimos a problemática do consumo de plástico. Conforme já escrevi algures por aqui, na Europa, a coleta seletiva é uma perfeição, e Portugal não foge a regra. Desde pequenos, os meninos são educados na escola sobre a importância de separar por categorias e destinar ao ecoponto correto. Há ecopontos distribuidos pela cidade, que são recolhidos com regularidade. E tudo deve ir separadinho para cada depósito específico: vidro, no ecoponto verde, papel no ecoponto azul, plástico e metal no ecoponto amarelo. Lixo orgânico e outras categorias, nos depósitos específicos. Óleo de cozinha, no oleão. Pilha, no pilhão. Tem até depósitos para roupas usadas em condição de repasse, lixo monstro (móveis e coisas maiores), lixo verde (aparas de árvores e jardins). Eletrodomésticos, vão para o pontoeletrão. Cada coisa no seu lugar. Uma maravilha, para nós, um sonho de consumo.

Infelizmente, a perfeição não existe.

O problema dos lados de cá está no consumo. O modelo de consumo é assombroso, mesmo em tempos de crise, compra-se demais. Se a sustentabilidade assenta-se na prática (e nunca no discurso) dos três Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, a Europa vai muito bem em separar para a reciclagem. Já o primeiro R - Reduzir - é mais dificil, até porque vivemos no mundo das embalagens. Quase tudo que compramos vem adequadamente acondicionado em embalagens plásticas, ainda que tomemos o cuidado de utilizar sacos retornáveis. Em Portugal aprendi rapidinho a utiliza-las pois pagamos de 2 a 5 cêntimos pelo saco para carregar as compras. Parece ser uma quantia insiginificante, mas somando tudo, no final do mês dá para custear o pão de um dia. A crise e o câmbio são dois professores eficientíssimos. Além disso, como bolsa de mãe é sempre espaçosa, cabe uma sacolinha retornável sem problemas. Tenho duas: uma da Wallmart, presente de Ilda,  que veio comigo do Brasil e uma que é em forma de um morango, que a Dayse me deu, logo que cheguei aqui. Fechadinha, cabe na palma da mão. O ruim é a distração na hora de pegar a bolsinha e sacudir dentro da bolsa-de-mãe. Outro dia, não prestei atenção no que pegava e quando cheguei ao banco e abri a bolsa, me deparei com um pano de prato bem dobrado. Neste dia, entre as risadas de Luiza, lembrei-me de uma história: quando dava aula em Canhotinho pelo Progrape/UPE (já trabalhei de professor-caxeiro-viajante na UPE!), a maioria de nossas alunas eram senhoras professoras, quase todas casadas e com família numerosa. Não é nada fácil voltar à estudar, principalmente porque as companheiras da educação básica frequentemente não tem o apoio da família.  Elas gostavam muito de utilizar dicionário, para consultar palavras desconhecidas, um apoio para trafegar em um mundo de novidades. Um dia, entreguei os exames, e os dicionários pularam às mesas. E, dali a pouco estava um risinho reprimido em toda sala. O motivo do riso era um engano: Na hora da pressa para sair,  ainda concluindo o jantar do marido e arranjando a bolsa, a colega deixou o dicionário e trouxe na bolsa um inhame. Eu perguntei-lhe: "será que tu cozinhasse o dicionário pro marido jantar, Maria?" Risada geral. Ela respondeu, sem se abalar: "É, professora, quem sabe se ele comer o dicionário, fique mais sabido." Boas lembranças.

Mas, voltando ao assunto: o que tem me preocupado são aquelas embalagens que não temos como dar à volta. Não dá para sair assim à rua:

Para além da figura, temos os itens que consumimos que enchem nossa vida de plástico. Consultando material sobre o tema, me informei que 40% do que compramos é embalagem que será descartada. Portanto, custa-nos muito e pagamos por cada canudo (palinha, em Portugal) que utilizamos. Para comprovar a razão de se preocupar em vivem num mundo de plástico, fiz um teste: enfrentando a minha síndrome do "joga fora ou passe a diante", deixei de levar as sacas com o plástico para o ecoponto durante uma semana, para ver quanto comsuminos de embalagens. Foi uma agonia, pois a nossa diminuta cozinha/área de serviço não fica nada bem com esses indesejáveis. Somos uma família de duas pessoas - eu e Lulis - e vejam lá o que resultou:

Explicando: não é exatamente o que consumimos em uma samana pois, duas pessoas não consomem uma garrafa de 750 ml azeite neste período, por exemplo. Mas, foi o que acabou-se na ocasião, transformando-se em lixo. Ainda assim, é muita coisa. A nossa preocupação geralmente acaba no ecoponto, pois sabemos que boa parte daquilo vai ser reciclado. Menos mau. Porém, a partir da ideia da preciclagem, ou seja, pensar antes de comprar, poderíamos dispor de alternativas para reduzir a quantidade dessas embalagens também. Um bom exercício para os designs de ecoprodutos, assim, reduziriamos o consumo de embalagens. O ambiente e o nosso bolso agradecem!

Até amanhã, fiquem com Deus.

PS: Obrigada pela contribuição involuntária de Neide Freitas, foi na página dela que arranjei a charge.

2 comentários:

  1. Anninha eu estava pensando exatamente nisso um certo dia aqui, juntando a lixarada de embalagens na maioria plásticas resultante do nosso consumo, e cheguei à mesma conclusão que vc: A gente faz muito lixo! e o pior é que aqui n tem coleta seletiva, ou seja a gente separa e o homenzinho do caminhão sacode tudo no mesmo lugar-dentro do caminhão que compacta tudo junto...ou seja, trabalho perdido. O que estou fazendo agora é separando os plásticos e vidros que os catadores passam pegando, em sacolas que eles já pegam e levam sem abrir os outros sacos com outros tipos de lixo comum mesmo. É a unica coisa que posso fazer. Roupas,são doadas a alguém ou alguma instituição, o que n presta mesmo, é lixo;óleo, raramente tenho pois n costumo fazer fritura,ou quando faço é em teflon e o gasto é menor, n deixando resíduo significativo.
    Infelizmente estamos anos-luz atrás de vcs aí, e isso mto me preocupa, mas n depende mto de nós resolver isso, tem que ter um mínimo de estrutura para por em prática o que a gente sabe ser certo. Quanto às sacolas retornáveis te confesso que sempre esqueço-as penduradas na maçaneta da porta do quarto de guardar, e só lembro delas na hora do caixa, quando já é beeeeeeeem tarde. Tenho várias, que estão começando a se amontoar, acho que vou seguir seu exemplo e por uma permanentemente na bolsa, para evitar as benditas e "reproduzíveis" sacolas de plástico, mas tudo é uma questão de costume, como aqui ainda temos as famigeradas de plástico n estamos dando mta bola para as retornáveis,mas isso muda, com um pouco e estaremos, como antigamente, levando as sacolas de feira, para as compras.
    Bjo, bom ler teus posts, sempre mto instrutivos. Ciao, bjo em Lulis.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Mahria! Saudades de tu!
      A problemática do plástico é uma situação complicada. Lembro-me que em 2001, fiz um trabalho com os meninos do Presbiteriano (na época, eu era minicontrato do Estado, a pior forma de vínculo trabalhista de ensino superior), com os meninos da 6ª série, e a crítica deles era a mesma sua: a gente separa e o caminhão da coleta junta tudo de novo. O problema é que não há um programa de coleta seletiva. As pessoas são educáveis, caso percebam que o seu esforço faz sentido. Como esse ano temos eleição, é ficar de olho vivo para perceber se algum candidato trás alguma proposta possível para uma situação tão caótica. Em última análise, é dinheiro jogado fora, pois, com a coleta desorganizada ou inexistente, os catadores não dão conta, além de ser um trabalho extremamente degradante, que vai estourar no serviço de saúde. Ou seja, a bomba estoura na mão de vocês, profissionais da saúde.
      Está mais do que na hora de fazermos algo concreto para minimizar esse problema.
      Bjinhos!

      Excluir