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Num final de semana destes, fomos ao cinema ver um filme que Luiza estava doida para assistir. E quando ela quer uma coisa, até que tem paciência de esperar, mas a cobrança é intermitente. Mesmo com a previsão de cochilos na sala escura, quentinha e silenciosa - os miúdos portugueses portam-se muito bem nos espaços coletivos, e no cinema, nem parece que estamos em sessão de filme de censura livre - fomos sob chuva fina de uma primavera estranha ver o Lorax. O bichinho é até simpático, amarelinho, peludo e de grandes bigodes. Mas, à partida já estava intrigada com o nome da criatura, pois pareceu-me mais adequado para um laxante. O filme tratava de uma cidade muito bonitinha e limpa, mas que tudo era de plástico. Árvores, casas, jardins, carros, tudo era de plástico. O projeto grandioso de um empresário megalomano, porém baixinho, era perfeito, se não fosse a paixão de um adolescente, disposto a fazer a amada feliz. Para conquistar o coração da menina magricela que pintava árvores, o garoto subverteu a ordem em busca de uma árvore de verdade, orientado pela sua avó. A velhinha sabia das coisas.
Está bem, eu dei uns cochilos, mas deu para entender o filme, muito parecido com O Mundo dos Nem, provavelmente da mesma indústria cinematográfica. Durante a caminhada de volta para casa, discutimos a problemática do consumo de plástico. Conforme já escrevi algures por aqui, na Europa, a coleta seletiva é uma perfeição, e Portugal não foge a regra. Desde pequenos, os meninos são educados na escola sobre a importância de separar por categorias e destinar ao ecoponto correto. Há ecopontos distribuidos pela cidade, que são recolhidos com regularidade. E tudo deve ir separadinho para cada depósito específico: vidro, no ecoponto verde, papel no ecoponto azul, plástico e metal no ecoponto amarelo. Lixo orgânico e outras categorias, nos depósitos específicos. Óleo de cozinha, no oleão. Pilha, no pilhão. Tem até depósitos para roupas usadas em condição de repasse, lixo monstro (móveis e coisas maiores), lixo verde (aparas de árvores e jardins). Eletrodomésticos, vão para o pontoeletrão. Cada coisa no seu lugar. Uma maravilha, para nós, um sonho de consumo.
Infelizmente, a perfeição não existe.
O problema dos lados de cá está no consumo. O modelo de consumo é assombroso, mesmo em tempos de crise, compra-se demais. Se a sustentabilidade assenta-se na prática (e nunca no discurso) dos três Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, a Europa vai muito bem em separar para a reciclagem. Já o primeiro R - Reduzir - é mais dificil, até porque vivemos no mundo das embalagens. Quase tudo que compramos vem adequadamente acondicionado em embalagens plásticas, ainda que tomemos o cuidado de utilizar sacos retornáveis. Em Portugal aprendi rapidinho a utiliza-las pois pagamos de 2 a 5 cêntimos pelo saco para carregar as compras. Parece ser uma quantia insiginificante, mas somando tudo, no final do mês dá para custear o pão de um dia. A crise e o câmbio são dois professores eficientíssimos. Além disso, como bolsa de mãe é sempre espaçosa, cabe uma sacolinha retornável sem problemas. Tenho duas: uma da Wallmart, presente de Ilda, que veio comigo do Brasil e uma que é em forma de um morango, que a Dayse me deu, logo que cheguei aqui. Fechadinha, cabe na palma da mão. O ruim é a distração na hora de pegar a bolsinha e sacudir dentro da bolsa-de-mãe. Outro dia, não prestei atenção no que pegava e quando cheguei ao banco e abri a bolsa, me deparei com um pano de prato bem dobrado. Neste dia, entre as risadas de Luiza, lembrei-me de uma história: quando dava aula em Canhotinho pelo Progrape/UPE (já trabalhei de professor-caxeiro-viajante na UPE!), a maioria de nossas alunas eram senhoras professoras, quase todas casadas e com família numerosa. Não é nada fácil voltar à estudar, principalmente porque as companheiras da educação básica frequentemente não tem o apoio da família. Elas gostavam muito de utilizar dicionário, para consultar palavras desconhecidas, um apoio para trafegar em um mundo de novidades. Um dia, entreguei os exames, e os dicionários pularam às mesas. E, dali a pouco estava um risinho reprimido em toda sala. O motivo do riso era um engano: Na hora da pressa para sair, ainda concluindo o jantar do marido e arranjando a bolsa, a colega deixou o dicionário e trouxe na bolsa um inhame. Eu perguntei-lhe: "será que tu cozinhasse o dicionário pro marido jantar, Maria?" Risada geral. Ela respondeu, sem se abalar: "É, professora, quem sabe se ele comer o dicionário, fique mais sabido." Boas lembranças.
Mas, voltando ao assunto: o que tem me preocupado são aquelas embalagens que não temos como dar à volta. Não dá para sair assim à rua:
Para além da figura, temos os itens que consumimos que enchem nossa vida de plástico. Consultando material sobre o tema, me informei que 40% do que compramos é embalagem que será descartada. Portanto, custa-nos muito e pagamos por cada canudo (palinha, em Portugal) que utilizamos. Para comprovar a razão de se preocupar em vivem num mundo de plástico, fiz um teste: enfrentando a minha síndrome do "joga fora ou passe a diante", deixei de levar as sacas com o plástico para o ecoponto durante uma semana, para ver quanto comsuminos de embalagens. Foi uma agonia, pois a nossa diminuta cozinha/área de serviço não fica nada bem com esses indesejáveis. Somos uma família de duas pessoas - eu e Lulis - e vejam lá o que resultou:
Explicando: não é exatamente o que consumimos em uma samana pois, duas pessoas não consomem uma garrafa de 750 ml azeite neste período, por exemplo. Mas, foi o que acabou-se na ocasião, transformando-se em lixo. Ainda assim, é muita coisa. A nossa preocupação geralmente acaba no ecoponto, pois sabemos que boa parte daquilo vai ser reciclado. Menos mau. Porém, a partir da ideia da preciclagem, ou seja, pensar antes de comprar, poderíamos dispor de alternativas para reduzir a quantidade dessas embalagens também. Um bom exercício para os designs de ecoprodutos, assim, reduziriamos o consumo de embalagens. O ambiente e o nosso bolso agradecem!
Até amanhã, fiquem com Deus.
PS: Obrigada pela contribuição involuntária de Neide Freitas, foi na página dela que arranjei a charge.
Mas, voltando ao assunto: o que tem me preocupado são aquelas embalagens que não temos como dar à volta. Não dá para sair assim à rua:
Para além da figura, temos os itens que consumimos que enchem nossa vida de plástico. Consultando material sobre o tema, me informei que 40% do que compramos é embalagem que será descartada. Portanto, custa-nos muito e pagamos por cada canudo (palinha, em Portugal) que utilizamos. Para comprovar a razão de se preocupar em vivem num mundo de plástico, fiz um teste: enfrentando a minha síndrome do "joga fora ou passe a diante", deixei de levar as sacas com o plástico para o ecoponto durante uma semana, para ver quanto comsuminos de embalagens. Foi uma agonia, pois a nossa diminuta cozinha/área de serviço não fica nada bem com esses indesejáveis. Somos uma família de duas pessoas - eu e Lulis - e vejam lá o que resultou:
Explicando: não é exatamente o que consumimos em uma samana pois, duas pessoas não consomem uma garrafa de 750 ml azeite neste período, por exemplo. Mas, foi o que acabou-se na ocasião, transformando-se em lixo. Ainda assim, é muita coisa. A nossa preocupação geralmente acaba no ecoponto, pois sabemos que boa parte daquilo vai ser reciclado. Menos mau. Porém, a partir da ideia da preciclagem, ou seja, pensar antes de comprar, poderíamos dispor de alternativas para reduzir a quantidade dessas embalagens também. Um bom exercício para os designs de ecoprodutos, assim, reduziriamos o consumo de embalagens. O ambiente e o nosso bolso agradecem!
Até amanhã, fiquem com Deus.
PS: Obrigada pela contribuição involuntária de Neide Freitas, foi na página dela que arranjei a charge.
Anninha eu estava pensando exatamente nisso um certo dia aqui, juntando a lixarada de embalagens na maioria plásticas resultante do nosso consumo, e cheguei à mesma conclusão que vc: A gente faz muito lixo! e o pior é que aqui n tem coleta seletiva, ou seja a gente separa e o homenzinho do caminhão sacode tudo no mesmo lugar-dentro do caminhão que compacta tudo junto...ou seja, trabalho perdido. O que estou fazendo agora é separando os plásticos e vidros que os catadores passam pegando, em sacolas que eles já pegam e levam sem abrir os outros sacos com outros tipos de lixo comum mesmo. É a unica coisa que posso fazer. Roupas,são doadas a alguém ou alguma instituição, o que n presta mesmo, é lixo;óleo, raramente tenho pois n costumo fazer fritura,ou quando faço é em teflon e o gasto é menor, n deixando resíduo significativo.
ResponderExcluirInfelizmente estamos anos-luz atrás de vcs aí, e isso mto me preocupa, mas n depende mto de nós resolver isso, tem que ter um mínimo de estrutura para por em prática o que a gente sabe ser certo. Quanto às sacolas retornáveis te confesso que sempre esqueço-as penduradas na maçaneta da porta do quarto de guardar, e só lembro delas na hora do caixa, quando já é beeeeeeeem tarde. Tenho várias, que estão começando a se amontoar, acho que vou seguir seu exemplo e por uma permanentemente na bolsa, para evitar as benditas e "reproduzíveis" sacolas de plástico, mas tudo é uma questão de costume, como aqui ainda temos as famigeradas de plástico n estamos dando mta bola para as retornáveis,mas isso muda, com um pouco e estaremos, como antigamente, levando as sacolas de feira, para as compras.
Bjo, bom ler teus posts, sempre mto instrutivos. Ciao, bjo em Lulis.
Oi, Mahria! Saudades de tu!
ExcluirA problemática do plástico é uma situação complicada. Lembro-me que em 2001, fiz um trabalho com os meninos do Presbiteriano (na época, eu era minicontrato do Estado, a pior forma de vínculo trabalhista de ensino superior), com os meninos da 6ª série, e a crítica deles era a mesma sua: a gente separa e o caminhão da coleta junta tudo de novo. O problema é que não há um programa de coleta seletiva. As pessoas são educáveis, caso percebam que o seu esforço faz sentido. Como esse ano temos eleição, é ficar de olho vivo para perceber se algum candidato trás alguma proposta possível para uma situação tão caótica. Em última análise, é dinheiro jogado fora, pois, com a coleta desorganizada ou inexistente, os catadores não dão conta, além de ser um trabalho extremamente degradante, que vai estourar no serviço de saúde. Ou seja, a bomba estoura na mão de vocês, profissionais da saúde.
Está mais do que na hora de fazermos algo concreto para minimizar esse problema.
Bjinhos!