domingo, 15 de julho de 2012

FIG - Parte 1: Cultura Popular

Há 22 anos, no mês de Julho, Garanhuns se transforma em uma cidade cosmopolita. Já no mês anterior, enquanto o nordeste do Brasil se delicia com as festas juninas, percebe-se a expectativa quanto à definição da grade de programação deste que é o principal evento da nossa cidade. Começou pequeno, lá por trás do Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcante, e ao longo de duas décadas vem se modernizando e crescendo. Hoje, já tem uma  identidade própria, cuja característica principal é a diversidade, o usual no Pernambuco multicultural. Não é um evento de forró ou feira de gado, como muitos artistas de renome nacional e internacional pensam quando são contratados. É um festival que contempla várias línguagens artísticas como as artes plásticas, o desing, a música – popular, clássica, instrumental, pop, eletrônica, e, lógico, forró. Durante o FIG se discute literatura, fotografia, pintura, cinema. Gentes de todas as tribos, estudantes, profissionais da comunicação, professores de todos os níveis de ensino, das redes públicas (municipal, estadual e federal), bem como da rede particular, se encontram em formações nas Oficinas Culturais do Festival de Inverno, patrocinadas pelo Governo do Estado, Secretaria de Educação e Fundarpe. Acontecem intervenções também nas comunidades, como o Alto do Magano (ponto mais elevado de Garanhuns, 1.092m acima do nível do mar de excelente paisagem quando a neblina não cai sobre a colina mais famosa desta, que como Roma também é a cidade das sete colinas), na Comunidade Quilombola Castainho, abordo de caminhões intinerantes de cultura, privilegiando o visitante e o citadino a conhecer melhor essas localidades mais afastadas, que recebem tão bem o visitante, na cordialidade patente do matuto da periferia urbana. É, eu também sou matuta de periferia legítima! 
Durante 10 dias, há cultura acontecendo em toda cidade. A descentralização do FIG viabilizou o acesso a essa efervecência cultural, e desde o meio dia até às 3 ou 4h da manhã do outro dia, há eventos oficiais acontecendo, além das idéias fantásticas dos meninos, arrastando a festança para raiar o dia. Ontem soube que no primeiro sábado do FIG (no caso, ontem) acontece o Forró da Funerária, promovido por um grupo de jovens universitários (entre eles o meu sobrinho Pablo. Olhe, não é porque é filho da minha irmã, mas o sujeito é uma figura. E ainda tem gente que abre a boca para dizer a asneira de que a juventude de hoje não tem nada na cabeça. Mas, isso é assunto para outro post). O evento tem este nome porque acontece no Bar do Borges, esquina com a Funerária Areias, próximo ao posto modelo. Diversão extra-oficial que emenda as jornadas durante o FIG. Haja fôlego para tudo isso. Novo é novo!
Este ano o evento homenageia Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Justíssima a homenagem. Faço minhas as palavras de Arthur Moreira Lima, regente da Orquestra Sinfônica Brasileira, ao comentar sobre Elomar: para mim, Luiz Gonzaga tem a mesma riqueza musical de Bethovem, cada um no seu “sertão”. Não fui na quinta-feira, na abertura do evento dedicou-se a homenagear o maior poeta da música nordestina, pois Luiza estava indócil. Nestes dias, não adianta nem insistir, pois é garantia de aborrecimento. Pelo visto, foi muito bom. No outro dia pela manhã, tínhamos compromissos aborrecidos no Banco. E é neste horário de movimento de uma cidade pólo de 23 municípios que a cultura popular pernambucana tem a sua apoteose no FIG, enchendo as ruas da cidade de cores com os cortejos de Maracatu Nação ao som contagiante das alfaias, nos desfiles de bonecos gigantes e orquestras de frevo num transplante das ladeiras de Olinda no Carnaval. Frequentemente, precisamos atravessar a via e nos misturamos com as penugens indígenas dos trajes Caboclinhos e suas flautas de madeira, prontos para virar erê nos afoxés. E os blocos líricos e suas cantigas dos carnavais saudosos? Acompanhamos sob a chuva fininha do meio-dia os mascarados e suas orquestras de cordas de tantas semelhanças com as marchas portuguesas rumo aos compromissos do dia, rotina em preto e branco convertida em technicolor pelos trajos bordados e imensas cabeleiras de celofane dos caboclos de lança dos Maracatus Rurais, vindos da zona da mata norte de Pernambuco. Quem se incomoda com o trânsito travado? Com o estacionamento inexistente? Com os sustos pelo ribombar dos trabucos dos Bacamarteiros de Caruaru, reminiscências históricas da Guerra do Paraguai? É um espetáculo de cores e sons, da mais legítima expressão cultural pernambucana, que colore “o meio-dia para a tarde”, que alterna o céu cinza de inverno com um sol quente de “inverão” (inverno+verão, segundo Phineas e Pherb!). É comum encontrar no café da esquina um grupo de passistas dos Elefantes de Olinda, ou uma Diana do Pastoril do Gonzaga de Garanhuns. Quem sabe, se der sorte, consegue topar com a Selma do Coco que, de tapioqueira do Alto da Sé, se viu em turneé pela Europa, reinando absoluta sob a Torre Eifel. Outro dia vi a Lia, cirandeira negra, alta e linda, uma Grace Jones praieira, eterna rainha de Itamaracá, emprestando ares de mar ao interior montanhoso. 
As apresentações do palco da cultura popular torna acessível a quem quiser conhecer a mais legítima riqueza do pobre, nossos saberes e tradições. É como somos, um bocadinho de cada um, de cada lugar.    
Nestes dias estaremos aqui mais vezes, pois, estou com os olhos cheios de tanta beleza, desta gente linda, anônimo e artista, cada um contribuindo paraque esse evento seja a nossa melhor vitrine (montra) cultural.
Até amanhã, fiquem com Deus.

3 comentários:

  1. Qualquer um que queira postar um comentario, por mais entendido e eclético que possa ser, será nada mais, que um nada....Parabéns minha amiga, excelente texto.

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  2. Adorei, como sempre, seu texto! Mesmo quem nunca veio ao festival, lendo suas linhas consegue ser transportado para o cenário perfeitamente descrito por você. Parabéns pelo dom de escrever!

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  3. Queria ir ao FIG, faz um tempão que nao vou!

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