Maestro João Carlos Martins |
Na primeira sexta-feira do Festival,
liguei o rádio pela manhã. Enquanto lia os e-mails e dava uma vista d’olhos na
fofoqueira eletrônica, acompanhava o programa Nos Bastidores do Festival, pela
FM Sete Colinas. Para Jonas Lira e Ana Jaira, a excelência na prestação da
informação é uma rotina. Neste programa sabemos de tudo que ocorrerá em todos
os pólos. Foi através do rádio, mídia
tradicionalíssima que pode contribuir beneficamente (ou não) com a construção
de um comportamento mais apurado no consumo de bens culturais, que soube das
novas sobre a Lona do Circo. Como já vos disse no post "O circo", gostamos muito de
circo, pois é um espaço lúdico de diversão, leve e simples, como a infância.
Neste ano o circo mudou de endereço: até o ano passado (que não estávamos por
aqui), a lona era armada no Parque Euclides Dourado, junto do pavilhão da
dança, da tenda do forró e tenda eletrônica, além dos espaços institucionais de
exposição e entretenimento. Como era muita coisa e tudo junto, o Parque dos
Eucaliptos, mesmo com seus 5 hectares de área urbana, ficou pequeno, e o circo
mudou-se para o terreno que fica atrás do Hotel Tavares Correia. E a proposta
também renovou-se, e o circo agora é o espaço da inclusão. A Fundarpe
esmerou-se em oferecer um espaço mais amplo e inclusivo, com atendimento
específico para portadores de necessidades especiais. Ofereceu espetáculos com
acompanhamento em Libras (Língua brasileira de sinais) e linhas sonoras para invisuais.
Aos idosos e portadores de especificidades mentais, foram reservados assentos
especiais, com prioridade máxima no atendimento. Uma perfeição. Além disso, com
o espaço exclusivo, foi possível oferecer duas sessões do mesmo espetáculo, a
primeira às 14hs e a segunda às 16h30min, totalizando uma capacidade de 2.400
espectadores. Os bilhetes, distribuídos a partir das 12h foram (e são até
domingo) concorridíssimos. Detalhe: tudo absolutamente de graça (ou de borla,
como diriam em Portugal!).
Então às 14h, peguei Luiza e Ellen, a
melhor amiga, e fomos ao circo. Era a
segunda oportunidade da Luiza, e a primeira da Ellen. São lindos os olhos de
uma criança quando entram debaixo do pano! No FIG, sob a lona do circo, eu
também era estreante. A iluminação difusa focava um picadeiro com cara de
palco. Sob a luz azul, aguardamos o início do espetáculo na maravilhosa companhia
de Edith Piaff. Aprendemos e nos divertimos com o ótimo espetáculo “Quatro”, da
Companhia Brincantes, do Recife. Sob a direção de José Manuel e direção circense
de Borica, acompanhamos quatro momentos da festa pernambucana: Carnaval, São
João, Danças afrobrasileiras e Natal. Misturando números tradicionais circenses
com dança e música, o espetáculo apresentou soluções cênicas inovadoras, como o
maracatu nação em pernas de pau. Tudo lindo, um ambiente de sonho. Saímos do
circo com os olhos cheios de Pernambuco. Um encanto, esse espetáculo.
Se no circo aprendemos que a
colaboração e o sentido de equipe é que faz o espetáculo, ontem na Catedral Matriz
de Santo Antonio, tivemos oportunidade de assistir um concerto repleto de
lições. O Programa Virtuosi trás música clássica e de câmara para o Festival,
sempre com casa cheia. Quem diz que não há publico para música erudita no
Brasil é porque nunca viu a Matriz de Santo Antonio em dia de concerto. Difícil
é chegar na hora do concerto e conseguir algum lugar para sentar-se. E ontem, foi um dia especial: a Orquestra
Jovem de Pernambuco foi regida pelo Maestro João Carlos Martins. Para falar a
verdade, eu nem sabia que o Maestro da Superação viria a Garanhuns. Para minha sorte,
Helly postou em sua página no Facebook o convite, e eu, logicamente arrastei
Luiza para a Igreja. Tony foi ver o jogo do Sport, viria depois do certame,
para nos buscar. Cada um com o seu clássico. Chegamos cedo para arranjar um bom
lugar, e participamos da missa. O Padre Thiago falava sobre a humildade, a
partir da leitura do Profeta Izaias, sermão adequado para nos lembrar da
fragilidade da nossa existência. Terminada a missa, começou a chegar gente. E
quem estava na missa, ficou. Formou-se um mar de gente para assistir o concerto
com o maestro, conhecido no mundo inteiro como intérprete de Bach, e, por uma
série de infortúnios desenvolveu uma doença chamada contratura de Dupuytren,
que promove a morte dos músculos da mão, e consequentemente, a perda dos
movimentos. Doença pior para um pianista, não há. Talvez a surdez, como
Bethoven. Para não abandonar a música, o pianista tornou-se maestro e ainda
arrisca uns batuques no teclado. O mundo conheceu João Carlos Martins pela
magia de suas duas mãos, e o Brasil reconheceu o maestro pela sua força de
vontade. Mais que um maestro, é um exemplo de que as limitações físicas existem
e podem ser superadas. O concerto foi ótimo: a Catedral, cheirando a nova pela
pintura restaurada, tem 700 lugares. Nesta noite, 1500 pessoas se espremeram
nos corredores, no chão, até no passeio sob a chuva fininha, espiando pelas
janelas ou pelo telão instalado na frente da igreja, interditando o meio da rua.
As pessoas precisavam ver e ouvir a paixão ao vivo. Chorei quando o maestro
sentou-se ao piano e tocou “Luiza”, para mim, obviamente, a obra prima do
Maestro soberano Antonio Carlos Jobim. Não foi à toa que a minha Luiza
reconheceu a sua canção nos primeiros acordes.
Coordenado pelo Maestro Rafael Garcia,
um chileno radicado no Recife, há 8 anos o projeto Virtuosi tem dado uma
contribuição ímpar na educação informal da população garanhuense e visitantes.
A plateia é composta por pessoas de todas as idades e classes sociais. Não
importa como está vestido ou os valores que supostamente tenha na conta bancária. Independente de religião ou da ausência dela, todos
que chegam à Matriz e aboletam-se diante do Cristo Crucificado para ouvir a boa
música são bem-vindos. Ao som de
violinos, piano e violoncelos, a Igreja cumpre fielmente o seu papel de casa de
Deus. Tenho certeza que Jesus também aplaudiu.
Até amanhã, fiquem com Deus.
Bravo Anninha! foi pra isso que eu te dei mamadeira! me orgulho de vc!
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