Já disse aqui uma pá de vezes que um dos aspectos mais difíceis de enfrentar quando nos afastamos da nossa terrinha é a comidinha de casa. Quando o objetivo do afastamento é o turismo, tudo é festa: dá para provar com gosto de caracóis grelhados à sopa de tartaruga. Quando se reúnem dois brasileiros no exterior, sempre calha da conversa de comida. Eu e Luiza andávamos nas ruas aveirenses planeando o que comeríamos quando voltássemos. Uma verdadeira maratona culinária.
Iniciamos o come-come ainda em Recife, na casa do Tony Lucas. Junto com a linda Moniquinha, fizeram uma mesa de milho com pamonha, canjica, milho cozido, queijo de manteiga, queijo de coalho, tudo tão gostoso, tão caprichado como o lindo apartamento em que ele mora. Acolhimento 10 estrelas, cinco é céu nublado perto do Tony Preto. Antes de chegar ao ponto mais elevado do Planalto da Borborema, fizemos um pistop no Rei das Coxinhas, parada obrigatória para quem passa ao pé da Serra das Russas. Além da maravilhosa coxinha de galinha, está disponível uma série de variações, com opções de camarão, bacalhau, carne do sol. A minha preferida é a de charque, com ou sem catupiry (um tipo de queijo fundido muito popular na culinária brasileira). Tony pediu uma cartola (doce típico pernambucano, que leva bananas fritas, queijo de manteiga na chapa, canela e chocolate em pó), uma bomba calórica maravilhosa. Além de um excelente serviço, o Rei das Coxinhas é um patrimônio do Agreste. O proprietário iniciou na década der 1980 vendendo coxinhas e refrigerantes nos autocarros da Jotude, a pior empresa de transporte intermunicipal que já tive o desprazer de ser utente. Hoje, o Rei das Coxinhas são dois restaurantes, funcionando 24 horas, sete dias por semana na BR 232.
Chegamos na quinta feira, já na sexta
havia um convite para o almoço. Os caras nos levaram para o Euclides. Deixem-me
explicar: Os caras é um grupo de amigos que almoçam juntos há vinte anos. Tony
é um dos caras, eu e Luiza sempre fomos de penetra. Carlos, Gundes, Marcos
Missa, Vandinho, Alexandre Canzinza, Mano do Caetano, Alfredo. Eventualmente
vão outros, mas esses são os caras. Vou tantas vezes que já sou quase um cara
também. É um grupo de companheiros, animados que almoçam a discutir futebol e
partidas de dominó. Contam histórias da juventude enquanto toca um CD de
flashback internacionais dos anos 1980 no carro, discutem política, partilham
projetos. Tenho um carinho imenso pelos caras porque desse grupo eu nunca ouvi
uma crítica aos meus caminhos pouco convencionais, além de acolherem Tony nos
seus banzos de cachorro de fazenda. Pois bem, Alexandre encomendou umas
galinhas, pois quando comíamos os frangos minúsculos e raquíticos da Europa
sonhávamos com a nossa galinha de capoeira (“caipira”, como dizem no sudeste
brasileiro, ou “do campo”, como se diz em Portugal). O Euclides fica em um pesque e pague que há no
caminho para Correntes e serve a melhor galinha da região. Mas, tem que ser por
encomenda, pois a cozinha é exclusiva. Serve também um excelente peixe grelhado
com uma salada de alface, tomates e pepinos, que eu não acerto nunca fazer
igual.
Mas, se a ideia é peixe, quem ganha
disparado é a Estação da Tilápia. Somos clientes desde que abriu lá na Santa
Terezinha. Hoje há uma filial em frente ao Pau Pombo, no centro da cidade. O
Peixe “desossado” é maravilhoso. Não sei que bruxaria eles fazem que o peixe é
servido sem nenhuma espinha. O pirão de peixe é um caso a parte: não há igual.
Outro dia, quis comer perua. Fomos ao Bar da Perua, na rodovia 423. Somos
clientes há 20 anos, desde que o bar era uma birosquinha para caminhoneiros,
comandada por “seu” Antonio. Quando começamos a frequentar, Seu Antonio gritava
: “Ô Mosés, ó o salão, Mosés!” Moisés era um menininho de 8 anos, hoje é o
administrador do restaurante, que está bem arrumadinho. Estive lá com Genésia,
na segunda semana de Brasil. Comi tanto que fiquei com vergonha. É preciso
deixar um lugarzinho para o doce de mamão de sobremesa, diferente da Chila portuguesa
por levar açúcar mascavo. Sem igual. Ainda deu tempo de ir conferir o filé à
Parmegiana do Napolitana, o melhor que já provei. Estivemos batendo o cartão neste
tradicional restaurante de Garanhuns, na companhia de Gundes e Ivania, eles são tão evoluídos espiritualmente
que nos traz paz estar perto deles. Casal que eu adoro conviver.
Em casa, teve a feijoada de D. Nilza
e a feijoada de Ilda, as duas empatadas no primeiro lugar. Além do prato
delicioso, a companhia ruidosa da família Ferreira é sempre garantia de boas
risadas. Reencontrei Rosário e Rey, que moram nos Estados Unidos. Conheci
Miguel e Arthur, o primeiro filho de Mana e Julinho, e o segundo, filho de
Danielly e Brunno, Luiza foi dama destes dois casais que já estão com seus
filhotinhos no colo. Lulu dá boa sorte aos matrimônios! Encontrei também Márcia,
a adorável esposa do Henrique, nosso sobrinho, convalescendo de um acidente
automobilístico, um infortúnio que não se explica. Felizmente, ela está bem. Na
outra feijoada, aniversário de Pablo, conheci o apartamento novo de Ilza, que
está muito bem instalada, graças a Deus. Passamos a tarde a conversar sobre
tudo e rir muito. Teve também o xerém com ossobuco na pressão na casa de
Mahria. Comemos na cozinha, sem cerimônia, tudo de casa mesmo: Cândido, Mahria,
Nyelsen, os gatos e nós. Do mesmo jeito, na casa de Clodoaldo. Ana Fez tapiocas
de coco e queijo, quentinhas na hora, que tomamos com café enquanto dávamos
risadas com as histórias do primo. Uma delícia a comida e a conversa. Concluímos
o itinerário na quinta do Tio Joãozinho. Estavam lá as 4 das 7 primas, numa
conversa muito animada na cozinha. No almoço, Tia Linda nos serviu um bode guisado
sem condições. O que comentar do doce de leite da Cooperativa de Miracica? Nada
a declarar!
Em Aveiro, Luiza “inventou” uma
cocada cremosa. Na verdade, é massa de beijinho: leite condensado, manteiga,
coco ralado. Toda vez que ela queria fazer isso eu ficava louvando as delícias
dum coco seco. Quando surgiu a oportunidade comprei um coco no mercadinho da
vila. Preferi atirar o coco inteiro ao chão para abri-lo, não ia arriscar
decepar metade da minha mão com uma faca de cozinha mais cega do que eu. Perdi
a água do coco. Mas antes a água que a minha mão. Passei uma semana comendo a
polpa branca e suculenta, enquanto Tony me olhava atravessado, certo que era
desejo de grávida. Qual o quê? Adoro
frutas, acho que fui passarinho na outra vida.
Agora, Dr. Alcindo me manda ir ao
endocrinologista. Dr. Jerônimo vai arrancar uma tira de couro das minhas costas
porque eu engordei um bocado. Mas, com um itinerário culinário destes, até que
vai valer a pena uns bons puxões de orelha.
Até amanhã, fiquem com Deus.
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