sábado, 16 de março de 2013

Puzzle

Como sabem, os anos letivos de Brasil e Portugal são diferentes. Enquanto nos trópicos labutamos  de fevereiro à dezembro, em Portugal funcionamos de setembro à junho. Em comum, as férias de verão dos respectivos hemisférios. E é justo. O com um inverno tão longo, as pessoas acostumam-se a levar vida normal enquanto chove. Até porque em Aveiro, o inverno é uma estação que se divide em duas partes: com chuva e com muita chuva. Tivemos uma semana de sol e isso me deixa muito mal acostumada. Não há céu mais lindo do que em Portugal nestes dias. Ainda sobre o ano letivo, já vos disse das férias de natal e de páscoa. No Natal, há um recesso de duas semanas, e retoma-se vida normal já nos primeiros dias do ano. Na páscoa, os meninos passam quinze dias de folga. Esse período é aproveitado pelas escolas para avaliar o trabalho antes de iniciar o terceiro e último período. Assim, há tempo para rever o planejamento e interferir para melhorar o rendimento dos meninos. Cá não há a máxima de que "em time que está ganhando, não se mexe". Mesmo que os miúdos estejam bem, é necessário melhorar o desempenho. No primeiro ciclo português é apenas um professor para as turminhas, começa com o grupo no primeiro ano e acompanha-os até o quarto ano. Neste intervalo de páscoa, passam a primeira semana trabalhando em conjunto, partilhando problemas e buscando soluções em conjunto. Penso que é mais eficiente que o samba do criolo doido que é o primeiro ciclo nas escolas particulares brasileiras. Colocam "professores especialistas" (bem entre aspas mesmo, pois um professor com formação em Geografia trabalhando educação artística é longe de ser especialista) pois acredita-se que o professor multitarefas não dar conta do conteúdo. E sacrificam a dimensão sócio-afetiva e dispensa a experiência dos professores que acompanhavam os miúdos por um maior tempo. Essa experiência na educação portuguesa tem sido muito positiva. Estou a falar com conhecimento de causa, acompanhando os progressos da minha pequena.
 
Portanto, hoje iniciam-se as férias de páscoa e a criança só retornará a sua rotina escolar no dia 1º de Abril (e não é mentira!). Estou entrando num período de mãe em tempo integral, e ainda assim, vou ter que me virar para andar com a tese. Entre brincadeiras e passeios é preciso um tempinho para ler e escrever. Esta semana estive de conversa com o "Senhor Doutor Meu Orientador", e com aquele jeitinho dele, me fez a pergunta fatal: "Ó Anna, agora, qual o seu sentimento quanto a conclusão desta primeira versão da tese? O que é que você pretende e o que é que você percebe que na realidade vai ser possível fazer?" Muitas perguntas difíceis de responder. Vou me arrastando. Levei a semana passada inteira a codificar dados, calcular percentuais e construir gráficos, tabelas e quadros. A porção mais quantitativa está feita e, durante esta semana cuidei em montar o corpo do texto. Agora é encher aquele 'esqueleto' de conteúdo. A maior felicidade destes dias de hamster (é, eu pareço um hamster na gaiola, das 9h às 17h, e frequentemente no terceiro turno) é a companhia dos companheiros de trabalho, seja através da comunidade ancorada no Facebook, ou através do Skype. Ornilo, Marcone, Clodoaldo, Thayze e Wanessa têm me feito companhia nas tardes (manhãs, para eles) das sextas-feiras, que como os dias de sol, já começam a me fazer falta. O levantamento dos dados a partir da interação dos professores  na Comunidade de Práticas da Online da AESGA (CoP Online AESGA) demonstram o quanto tenho a parceria dos meus colegas professores e funcionarios das Coordenações. É por isso que chamo o que produzo de "a tese". Não posso dizer "minha tese". É um produto coletivo. É nisso que tenho trabalhado. 
 
Quando viemos morar do lado de cá, descobri uma paixão: os puzzles. Conhecidos popularmente como quebra-cabeças no nordeste do Brasil, esses joguinhos são adoráveis. Nos períodos de frio ou de quebradeira econômica, um puzzle vai muito bem. Para mim não é um passatempo, pois, o tempo tem uma dinâmica ambigua. Se por um lado é exíguo para tanta coisa, por outro, demora a chegar julho para voltarmos para o nosso lugar, para o meu amor. O puzzle é um modo construtivo de ocupar aquele tempo em que o motor de produção bateu e precisa fazer uma outra coisa para não ficar doida. Luiza teve a ideia de comprar a primeira caixa com esses pequenos desafios. Ao puzzle da Monster High, de 200 peças. A este seguiram Minie e Kim Possible. Neste meio, eu adquiri um puzzle da Afrodite, de Sandro Boticelli. Montamos todos, eu e ela,  na parceria que caracteriza a nossa convivência. Colamos a representação da obra italiana num papel grosso e levamos para Mahria, cuja segunda pátria é a Itália. Deve ter virado um quadro. 
 



Animadas com nossos progressos, criamos coragem e compramos um puzzle de 500 peças, retratando o Mosteiro dos Jerônimos. Esta cosntrução é um dos sítios mais lindos que visitamos em Portugal. É simplesmente perfeito. Contudo, o puzzle é mesmo para quebrar a cabeça. Compramos o danado em maio ou junho de 2012. Sei que foi antes de irmos ao Brasil. E começamos animadas, pelas peças mais fáceis. O problema é que enquanto a gravura evolui, se torma cada vez mais complicado encontrar a peça certa. Sabendo que todas as peças tem o seu lugar exato, insisti muito para encaixar pedaços dessa torre principal que eu tinha ABSOLUTA CERTEZA

que era naquele sítio, mas que ficava torto, com buracos. Um pouco mais de paciência me ensinou que não adianta forçar a peça. O princípio do puzzle é a atenção ao conjunto e às formas ideais. Cada pecinha tem seu papel na construção do resultado final, por menor que seja, por mais igual as demais que aparente. É preciso encontrar o retalho que componha perfeitamente a figura. Já estamos no meio de março e o bendito do puzzle se encontra assim:
 
Esse jardinzinho é complicado pois a fotografia é meio desfocada no primeiro plano. E o céu? Dificil, pois as peças são todas azuis, com pequenas variações nos matizes. Sendo bem generosa comigo mesmo, a imagem incompleta do Mosteiro dos Jerônimos é a resposta que gostaria de ter dado ao Francislê. Na verdade, desconversei e murmurei um hesitante "finais de maio". Seja no puzzle ou na tese, estou mais ou menos no mesmo nível: em ambos buscando as peças que se encaixem melhor para fazer justiça - no puzzle, à beleza da obra. Na tese, à construção da ideia, fundamentada na aprendizagem nossa de cada dia. Ou como diria 'seu' Paulo Freire, na permanente incompletude do ser humano.
 
Até amanhã,
Fiquem com Deus.
 

4 comentários:

  1. Também curto puzzles com meus sobrinhos aqui.

    Imagine o tempo que estamos levando com um de 3.000 peças de uma paisagem no fundo do mar.

    Abraço e bons estudos!

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    1. Eu estou enrolada com um puzzle de 500 peças, imagine!
      É uma alegria a tua companhia, Marcone. Beijos!

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  2. uma tese nunca é uma obra só nossa. Sem colaborações em experimentos e discussões com companheiros de laboratório nao conseguimos concluir! Boa sorte...

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  3. uma tese nunca é uma obra só nossa. Sem colaborações em experimentos e discussões com companheiros de laboratório nao conseguimos concluir! Boa sorte...

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