domingo, 18 de agosto de 2013

Digam-lhe que fui ali: Porto Seguro, Bahia

A barra do Porto e um lindo saveiro
Então, nestes dias cinzentos de inverno tropical, arrumamos a malinha azul e fomos visitar o lugar onde chegaram os Portugueses naqueles idos do Século XVI. A nossa expedição não tinha nada de histórica. No inverno europeu, eu havia submetido um artigo no CIDEB, um Congresso de Educação que ocorre todo ano naquelas paragens. Para ser sincera, e contar a história inteira, já era a segunda tentativa de participar desse encontro. Em 2012, o artigo não foi classificado. Mudei de temática e submeti novamente, crente que não aceitariam. Depois de algumas prorrogações no prazo de análise, chega a notícia que o artigo foi aceito, mas, que seria apresentado em forma de pôster, como todos os demais. Por um lado, fiquei feliz, pois a publicação é essencial para a validação da investigação do doutoramento. Além disso, o artigo abordava os primeiros resultados dos testes com o software ArguQuest, e a publicação faz dupla com outra realizada uma semana antes no Challengers 2013, na Universidade do Minho. Em duas semanas, software apresentado em dois continentes, é um bom indicador. Por outro lado, estávamos no final do 23º FIG, no mês de nosso retorno. Ou seja, as finanças estavam completamente contra a essa expedição. Apelei para o navalhadas (como chamo meu cartão de crédito) e providenciamos as passagens, hospedagem e inscrição em poucos dias. No último sábado do FIG, partimos para o Recife, dando uma carona a Wellington que voaria de volta ao Amapá na manhã seguinte.

Boa Viagem deserta, sob o choque dos ataques de tubarões
Ficamos em um hotelzinho muito simpático em Boa Viagem, nas imediações da Padre Carapuceiro. Após o pequeno almoço, que desbancou o célebre desjejum da Pousada do Caju, de João Pessoa, fomos à praia. Fazia exatamente oito dias de um ataque fatal de tubarão a uma banhista. A jovem faleceu após várias intervenções cirúrgicas. A praia de Boa Viagem estava sob o efeito do ataque, os banhistas prudentemente com água pelas canelas, ou nem isso. Se o quebrar das ondas passasse dos joelhos, um barraqueiro começava a gesticular vigorosamente alertando para o risco de ataques. Do jeito que esses bichos estão, daqui há dias vamos encontra-los a atravessar a avenida Beira-Mar ou na via exclusiva de ciclistas. E como sempre, reaviva-se o debate acerca do que fazer para conter os animais, senhores do mar. Por mim, eles podem ficar em seus domínios: prefiro ficar à sombra dos guarda-sóis na areia fofinha, olhando o vai-e-vem dos vendedores e das juventude bronzeada. Em menos de duas horas, Luiza começou a aborrecer para voltarmos ao hotel. Como não podia entrar na água morninha da praia, o jeito era mergulhar na piscina. Voltamos, e foi difícil tirá-la de lá, até a hora de fazer o check-out e partirmos para a casa da minha irmã Vilma, quem não víamos há 3 anos.  Entre conversas infinitas e  o adeus do Papa Francisco na JMJ, foi uma tarde agradabilíssima. Petronildo é sempre uma companhia divertida. Deu para matar as saudades. Às 21 horas, quando Tony já chegava em Garanhuns, partimos para o Aeroporto Guararapes. E aí começou a via crucis que é chegar em Porto Seguro, litoral sul da Bahia.
Luiza, na dificil vida de "sem teto"
Quando fomos marcar as passagens, havia disponível três companhias. A Gol, é impossível, pois ir ao litoral sul da Bahia é quase o preço de ir a Lisboa, pela TAP. A TAM tinha voos simpáticos com boa tarifa, mas, somente na ida. Na volta, saía de Porto Seguro, parava em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Aracaju, até aterrar em Recife, com duas trocas de aeronave. Sem chance, essa coisa de conhecer os céus do Brasil, ninguém merece. Optamos pela Azul, cuja ida era sacrificada, mas a volta era melhorzinha e o preço era bom. Pegamos o voo para Salvador, com parada em Campina Grande às 23 e um pouquinho. Luiza dormiu todo o trajeto e nem viu a parada na Paraíba. Depois, seguimos viagem para Salvador. Chegamos lá na terra de Cristina Alfaya pelas 3 horas da manhã. E então, deu-se a desgraça: a conexão para Porto Seguro só sairia à 5h50 min. Depois de um lanche sonolento e caro, o jeito foi procurar um lugar para Luiza dormir. A INFRAERO é tão amiga que os braços das cadeiras são fixos, para impedir que deitemos nas cadeiras. O jeito foi forrar o "forrinho de assistir" no chão e deitar a menina no meu colo, que dormiu de sono solto, enquanto eu, com os pés dormentes, lia um livro sobre a escravidão no Brasil. Bem adequado. Chegamos estremunhadas em Porto Seguro às 6h30 de uma manhã indecisa entre a chuva e o sol.
Lulis,em uma sessão de piscina
O primeiro choque da cidade turística, cujos atrativos são o "descobrimento" do Brasil e suas belas praias, é a tarifa do táxi. Sem taxímetro, ficamos à mercê do motorista. Ficamos menos que cinco minutos no táxi para chegarmos à Pousada e o homenzinho escuro tascou: 20 reais! Paguei sem reclamar. Mas, quando entramos na Pousada, Luiza, entre dormindo e acordada, sentenciou: "mãe, isso aqui vai ser caro. 20 reais?!" Pois, que jeito? Depois do pequeno almoço, fomos dormir para somente às 12hs darmos um jeito de chegar ao local do congresso e fazermos o credenciamento. O centro de convenções ficava num hotel lá do outro lado do mundo. Depois de encontrarmos uma agência da CEF e arranjarmos algum dinheiro, almoçamos pasteis (opção de Luiza, ela estava cansadíssima e para alegrar, tive que fazer algumas concessões. Pegamos um táxi na Avenida Getúlio Vargas e fomos ao Centro de Convenções. O taxista, um senhorzinho idoso, perguntou-nos de onde éramos, pois Luiza ainda andava com sotaque meio lusitano. Quando disse que era de Garanhuns, o homem abriu um sorriso e perguntou se conhecíamos Frexeiras. Por coincidência, o homem nascera e se criara em São João e ainda tinha uma irmã morando em Frexeiras, a terra da Santa de Zé Edson. Em razão disso, ganhamos um desconto na tarifa.
O poster
Fizemos o credenciamento, e me espantei pela quantidade de mulheres com crachás arrastando crianças pela mão. Diferente de um congresso que não fui em Campina Grande pois exigiram que eu inscrevesse a criança com apenas 3 anos de idade, aqui, carregar os pequenos pelas conferências é comum. Antes de começar a conferência de abertura, zanzamos pelos stands e compramos lembrancinhas e livros. Depois, ouvimos a palestra meio repetida do Cristóvão Buarque. Daí, Luiza já estava cheia, e voltamos para a Pousada. Ainda houve tempo para uma sessão de piscina sob o sol do final de tarde. No outro dia, chamamos o taxista nosso conterrâneo e voltamos ao Centro de Convenções ainda cedo, pois pela manha apresentaríamos o nosso pôster. Ainda assistimos a conferência do prof. Edmar, apresentando o sistema LIVOX, uma experiência maravilhosa para possibilitar a comunicação de crianças PNE através de um software instalado em um tablete. Depois, fomos ao túnel do conhecimento, expor nosso trabalho. Fizemos alguns contatos com universidades do Sul do Brasil, que se interessaram na proposta do ArguQuest. Compromisso cumprido, ao meio dia, saímos do Centro de Convenções e fomos conhecer os pontos históricos: Memorial dos descobrimentos, marco dos descobrimentos, Passarela do álcool. Almoçamos num restaurante indicado pelo taxista que nos conduziu em um city tour de graça, por ter se encantado com Luiza e o seu sotaque luso-brasileiro. Eu optei por uma deliciosa moqueca de camarão. Comi com lágrimas nos olhos, a me lembrar de Sérgio Sousa, amigo das antigas de Tony, que muito cedo nos deixou. Luiza pediu um espaguete à bolonhesa. Coisa de matuto à beira mar. A conta foi salgada, mas, no segundo dia, nada nos espantava mais. Voltamos à Pousada, e após um breve descanso, mais uma sessão de piscina. Já à noitinha fomos zanzar na pracinha onde há uma feira e festa noturna permanente. Tudo muito organizado e animado. Somente o vento frio incomodava um pouco. À noite, choveu muito.
Réplica da caravela dos "descobrimentos".
A moqueca de camarão... delícia!
´
macaxeira frita... fazia uma era que eu não comia! Luiza preferiu pizza!

Negas!

No outro dia, já era o nosso retorno. Saímos cedinho da pousada em busca de cartões postais para a coleção de Luiza, cada vez mais diversificada. Na volta check-out da pousada e a promessa de voltarmos na viagem do final do ano. Mas, não sabemos se vai ser possível, pois o Tony não pode se ausentar por semanas da Procuradoria do Município, onde leva sua vida de advogado. Fica só a certeza que voltaremos para conhecer melhor e desfrutar deste lindo lugar e da agradável - e divertida - companhia dos baianos.
casinhas lindas de Porto Seguro. A amarelinha, era a casa de Ti Imo,que gosta de cores fortes!

Luiza gostou muito dessas. Lembramos de Évora!

Exceto o avião de hélice que pegamos de Porto para Salvador e a demora da escala em Aracaju, com o ar do avião desligado, o fedor de macaco no interior da aeronave e um sujeito, cuja campanhia do telemóvel era um cachorro a ganir, o retorno foi menos cansativo que a ida. Fica a experiência de ter voado um teco-teco legítimo, cujo som era de um imenso secador de cabelos. Não deixa de ser pitoresco!
Até a próxima viagem.
Até amanhã, fiquem com Deus.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog!! se quiser conhecer o meu
    http://candidatbj.blogspot.com.br/
    Beijos!!

    ResponderExcluir