domingo, 1 de setembro de 2013

Coisinhas irritantes

Pronto, então já estamos em setembro. Ano passado quando entrou setembro, eu fiquei meio agoniada, pois tive que juntar as coisas, colocar a menina debaixo do braço e atravessar o Atlântico para o segundo tempo da formação. Apenas um ano atrás andava na corda bamba da escrita da tese. Hoje, aguardo no estaleiro a avalanche de correções que estão por vir. Felizmente, cá no meu canto, ainda ando em busca da rotina cotidiana. Gradativamente, as coisas vão se arrumando. Já temos uma colaboradora nova para o horário da noite, e não preciso mais sacrificar Luiza nos meus compromissos profissionais. Mais do que nós, as crianças precisam de sua rotina bem definida. É preciso ter hora para acordar, hora para comer, hora para tomar banho. Precisa de ajuda nas tarefas da escola e nas atividades extracurriculares. Crianças exigem muita atenção, mas tê-las em nossas vidas é criar prioridades e organizar as atividades, dando espaço aos cuidados com a saúde, o lazer e o estudo. Há tempo para tudo, e como diria o senhor doutor meu orientador: "Quem  tem menos tempo é quem mais faz."

Porém, mesmo com todo otimismo, não vivemos num mar de rosas. Da mesma forma que para morrer basta estar vivo, para se aborrecer basta abrir os olhos, mesmo ainda deitado na cama. As coisinhas irritantes fazem parte da nossa vida e o melhor é aprender a conviver com elas, ora desconsiderando, ora dando risada das adversidades. Outro dia, Thayze partilhou algo que falava em resiliência, ou seja, a capacidade que os humanos têm de enfrentar os problemas e superar os obstáculos, suportando pressões das situações adversas.. É um conceito oriundo da física, aplicável à resistência que os corpos tem para suportar os atritos. Perfeitamente aplicável a algumas situações que vivenciamos em casa, na rua, na vida. Parafraseando a sabedoria popular: para aborrecer-se, basta estar vivo. E não há garantias do que se apresenta após a morte. Vai que a vizinhança de cemitério não seja tão pacífica assim? Como diria o Velho Osvaldo (meu sogro), até hoje ninguém voltou lá do outro lado para dizer se é bom. Melhor assim. Prefiro o mistério da incerteza post mortem do que antecipação do conhecimento prático do outro lado da vida. Se eu for, é porque me levaram. De livre e espontanea vontade, não irei, de jeito nenhum!  

Mesmo querendo ficar o maior tempo possível, para viver a vida da melhor maneira, há uma série de coisinhas pequenas que nos tiram do sério. Logo no início da nossa vida conjugal, certa manhã Tony quase tinha uma síncope ao pequeno almoço só porque a manteiga estava gelada. Aquilo me assustou e o pequeno lapso doméstico acabou entrando para o nosso anedotário matrimonial. Felizmente, o microondas interferiu beneficamente, e não há mais riscos de conflitos às primeiras horas do dia. Na esfera doméstica, poucas coisas me tiram do sério. Não me incomodo com toalha molhada sobre a cama, nem com roupa fora do lugar. Essas pequenas desordens não podem abalar a paz doméstica. Mas, vamos combinar: passar o dia mandando Ana Luiza calçar as sandálias é uma provação. E pior que estou plenamente consciente que trata-se da lei do retorno, pois, aqui se faz, aqui se paga. Mamãe só faltava colar as sandálias em meus pés nos tempos frios. Pois, provo do meu próprio veneno. Agora, na fase de pré-adolescente, as palavras mais constantes no vocabulário da minha menina são: "peraí!", "já vou", "tô indo". Quando estou com paciência, vou lá perto e anuncio: "vou contar até três e se você não for, leva umas chapuletadas." Antes de chegar no três, ela corre. Ser mãe é tomar medidas impopulares. Caso não esteja com paciência, meto o grito. E a danada sai a correr, assustada, protegendo com as mãos as partes baixas do corpo. E quem nunca deu um grito num menino, que atire a primeira pedra.

O caminho de casa para a escola ou para o trabalho é um pequeno celeiro de coisinhas irritantes. Impressionante o desconhecimento dos condutores dos veículos de qualquer tipo sobre a existência de uma pequena alavanca que há ao lado esquerdo do volante do automóvel. Aquilo lá serve para sinalizar para que lado o sujeito vai entrar. E não precisa ficar inseguro sobre os mistérios que definem esquerda-e-direita. Se vai virar o volante para cima, os dois dedos menores da mão esquerda empurram a pequena alavanca para cima. Isso é SETA PARA A DIREITA. No contrário, é SETA PARA A ESQUERDA. Entendeu? não é difícil, não precisa fazer força, não doi nada. E isso facilita a vida de todos, sejam condutores ou pedestres (em Portugal se diz "peões"). Trânsito é um campo fértil para coisinhas irritantes, que nos consome a paciência. Contudo, no caso de conflito, o melhor é respirar fundo e arranjar mais paciência. Permite-se até mandar o outro à merda, mas, por favor, mentalmente. Não há nada pior do que gente (supostamente) educada perdendo a linha e comportando-se como farofeiro em plena via pública. Além do bate-boca, pode ocorrer uma grande tragédia por uma besteira insignificante. Conforme Lenine: "ninguém faz ideia de quem vem lá".

O mundo do trabalho é o ambiente onde as coisinhas irritantes multiplicam-se com a velocidade de porquinhos da índia, ou como as taxas de juros em caso de atraso do pagamento. E, notadamente, as faculdades e universidades tem a segunda  maior concentração de gente louca por metro quadrado. Os hospitais ainda superam neste requisito. É muito fácil tem um ou mais colegas surtados. O ruim é quando todos surtam de uma só vez, transformando a escola (hospital ou qualquer outra organização onde se conjuguem gente, poder, prestígio e status) em um sanatório geral. Impressionante a força que têm as pequenas coisinhas irritantes quando somadas por anos a fio, e, polidamente empurradas para baixo dos tapetes da boa educação. Relevamos muitas coisas em nome da boa convivência, ou para, ao menos, suportar a existência do outro no mesmo mundo em que vivemos. Afinal, o mundo é um só e se tivéssemos maior consciência desse simples fato, nos comportaríamos melhor para uma convivência sustentável.    

De minha parte, vou tentando conduzir da melhor forma. Quando os fatos acontecem, reflito sobre a coisinha irritante que o despoletou. Ultimamente, tenho adotado um sistema invisível de pesos e medidas para qualificar a coisinha irritante, e perceber se realmente vale a pena sair do sério, descer dos saltos e rodar a baiana. Afinal de contas, tudo nessa vida é passageiro, menos o cobrador e o motorista!

Take it easy, povo!
E quando for fazer suas orações, independente de sua religião, orem pela Clide Vaneide, nossa companheira de trabalho, que enfrenta uma batalha pelo reestabelecimento da sua saúde. Nestas situações fronteiriças é que conseguimos perceber que as coisinhas irritantes são tão insignificantes que não serão nem lembradas dentro de anos, dias, horas e até mesmo, de alguns minutos.

Até amanhã, fiquem com Deus.

2 comentários:

  1. Anna!

    - Meu filho, que muitos consideram sem juízo, diz que em Garanhuns os veículos chegam com defeito de fabricação (a seta não funciona!!!).

    - Espero sinceramente que a doença inesperada de Clide Vaneide sirva para que a gente reflita se vale à pena se estressar com bobagens. Aliás, outro dia recebi a seguinte frase: "1) Não se preocupe com bobagens. 2) Tudo é bobagem!"

    Estou fazendo as minhas orações por ela e por nós!

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    1. É isso mesmo, Virgínia. Renova-se o meu sentimento da necessidade de aprender com a experiência alheia, e espero em Deus que a companheira se recupere e que marquemos aquele cafezinho na hora do recreio da meninada do Agobar. Beijos!

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