domingo, 11 de setembro de 2016

O futebol: Brasil x Uruguai

Arena Pernambuco, eliminatórias da Copa do Mundo, 25 de Março de 2016

Já fazia tempo que Tony tentava uma oportunidade de irmos juntos ao futebol. Eu sempre assisti aos jogos com a minha mãe, pela televisão. Foi ela que me ensinou as regras básicas de impedimento, escanteio e lateral. Com minha velha, aprendi que goleiro que fica batendo bola é catimbeiro, que jogador muito famoso é mascarado e que o Sport sempre perde quando jogo pelo empate. Coisas do futebol pernambucano, que como rubro-negra de duas linhagens, tento heroica e bravamente ensinar a minha filha, mas os tempos são outros. A geração sete-a-um tem um desinteresse latente pelo futebol. De qualquer forma, juntamos três peças de roupas e uma camisa do Sport para cada um e nos fomos à Arena Pernambuco ver a desgastada seleção brasileira jogar contra o Uruguai pelas eliminatórias de Copa de 2018. Já se comenta por uma boca só que se o Brasil for eliminado agora é um favor que faz: assim, não custará nossa cota de esperanças, e olhem que nesses tempos bicudos, esperança que não nos falte.

Pronto. Então, tudo começa muito antes do apito inicial. Para comprar os ingressos, ficamos ligados nos programas esportivos da rádio jornal. Logo após o carnaval, anunciaram o início da  bilhetagem eletrônica. Tudo se resolve através do site da FIFA, o torcedor adquire os ingressos e paga através do cartão de crédito. Confirmado o débito, a organizadora encaminha-nos um e-mail com o voucher, que deverá ser impresso e trocado nos pontos autorizados nos dias que antecedem a partida. Parece simples, mas, é uma via crucis, pelo menos a parte de comprar os ingressos no site. A página da FIFA é pouco amigável e quando conseguimos aceder ao sítio onde se marcavam os assentos, só tinha os ingressos mais caros e os mais distantes. Obviamente, optamos pelos ingressos do 3º piso, que são mais baratos. Era apenas a primeira e óbvia lição de que o futebol atual exclui as massas: é preciso ter alguma condição financeira para ter acesso ao campo. Lamentável, pois o povo faz falta no espetáculo.

Ingressos comprados, fomos em busca de hospedagem. Como o jogo estava marcado para as 17 horas, pensamos que seria possível participar e voltar. Mas, um conluio entre a CBF e a Rede Globo impede que os jogos das eliminatórias se realizem em um horário humanamente possível. Os direitos de transmissão da vênus platinada estabelecem que o jogo deve começar as 21h45. Agora, me digam: já foram a Arena Pernambuco para saber mais ou menos a que horas um torcedor comum que saiu do estádio à 0h00 chegará à sua humilde residência? A sorte é que marcaram o jogo para a sexta-feira santa, de modo que no sábado, aleluia, dava para dormir mais um bocadinho. Então, com o arrocho financeiro comum a todo início de ano,  hospedagem tinha que ser mais acessível. Encontramos na Pousada Casuarinas, com uma excelente localização, limpa, segura e com um excelente atendimento. Além de ter uma decoração efusiva, tem um jardim interno lindíssimo e muitos gatos andando por toda parte.

Asinhas criminosas do Yoki Galetos
Tudo certo, na quinta-feira, já dia santo, fomos embora para o Recife. Invariavelmente, Luiza vai dormindo o caminho inteiro. Desta vez, só paramos na Ilha do Retiro para trocar os ingressos e depois almoçamos no Yoki Galetos, que serve uma asinha de frango empanada impossível. Seja com uma coca-cola geladíssima ou uma cerveja, as asinhas são o que há de melhor no mercado. Tony já tinha ido lá, e desde então, só vivia falando nas tais asinhas. Não perdemos a oportunidade: o ambiente é simples, amplo, bem frequentado e tem vista para o trânsito maluco da Abdias de Carvalho. 

Na sexta-feira, era o dia do jogo. Planejamos uma breve caminhada na praia de Boa Viagem (que só serve mesmo para caminhar e ver pessoas, por causa dos tubarões), um almocinho, um descanso. Depois, poderíamos ver a exposição O Corpo Humano, no Shopping Riomar, onde também pegaríamos o transporte para a Arena. Deu quase tudo certo. Luiza levantou-se cedo, e tomou café conosco. Ultimamente nas viagens, o café da manhã em família tem sido um problema. Coisas da adolescência, para as quais é preciso ter uma paciência de Jó. Fizemos a caminhada na praia, que por sinal, estava tudo muito bonito, bem cuidado e limpo. Pena que o esmero que se tem com Boa Viagem não é replicado por toda a cidade.


Mais tarde, o tempo atropelou-se e quando chegamos ao shopping Riomar já passavam das 17 horas. Não foi possível ver a exposição, pois precisamos entrar na fila do transfer. O Shopping ofertava o transporte de ida e volta para Arena, que fica no município vizinho, São Lourenço da Mata. Tony, conhecedor dos problemas de saída dos estádios considerou que seria melhor aderirmos a este programa, pagando 30 reais por pessoa. Como era ida e volta, e não ia ter que ficar naquela agonia de estacionar e nem de se perder da região metropolitana do recife após a uma da manhã, valia a pena. O problema é que as empresas brasileiras sentem muita dificuldade em se organizar para ofertar o serviço que vendem. E entre a teoria e a prática, lá se vai um imenso abismo. Quando chegamos ao shopping, somente um guichê vendia as entradas do transfer. Orientados pela primeira atendente, pagamos o estacionamento, e fomos em busca das tais passagens. Na fila, Tony foi informado que o pagamento do estacionamento só valia até a 1h30 da manhã. Saquei o papelinho da carteira, e conferi: o horário dizia que era até as 18h30 do dia 26. Seguiu-se uma discussão porque a segunda atendente tornou-se irredutível: se não tirasse o veículo até as 1h30, entraria no rotativo do estacionamento. Tony sacudiu o recibo na cara dela e tudo foi resolvido quando ele disse a jovem, calmamente, que se não fosse cumprido o que estava impresso no recibo, era uma excelente questão judicial. Nada como ter um advogado na família. Depois, a confusão foi na compra dos tais transfers. Os ônibus já estavam saindo para a Arena, e a fila só crescia. Um dado momento, disseram que não tinha mais passagem. Depois, disseram que dispunham, mas só de ida. A volta, que se virassem. Então, começou o burburinho e os consumidores aborrecidos brigavam pelos seus direitos. A esta altura, já haviam chegado Tony Lucas, Marcos Cardoso e os dois filhos. Estávamos esperando Vando, pois Tony é que estava com os ingressos dele. Pelas 18h30, o companheiro chegou com a filha. Passou pela fila das passagens, alegando ser deficiente físico (que realmente é), e comprou os bilhetes do ônibus, sem qualquer dificuldade.

Embarcados e contentes, já era noite fechada quando saímos do Recife.          

A Arena (dos Problemas) Pernambuco vista de longe, à noite é um encanto. O problema é que o nosso motorista parece que era novato, e não conhecia o caminho. Passamos bem na portinha do estádio e o veículo não parou. Não entendemos muito bem, mas queríamos saber onde o transporte iria ficar estacionado, portanto, não pedimos para descer. O problema é que o doido do motorista enganou-se e foi lá para o final do mundo, procurando um retorno. Depois de muitas voltas e muita “zoação” dos passageiros, principalmente quando passamos de volta novamente na frente da Arena. Marcos Cardoso profetizava que seria a única coisa que veríamos da Arena: o gramadinho que tem na frente. Finalmente, paramos lá em Deus-me-livre e descemos em busca do portão de acesso à nossa área.

Vejam bem: quem tem medo de altura ou problemas cardíacos, nem se aventure. Nossos ingressos eram numa seção que ficava no cocuruto da Arena. A primeira batalha foi arranjar alguma coisa para comer: o ambiente chega a ser monumental, com papel no banheiro e tudo mais. Contudo, as lanchonetes são uma humilhação com alto custo. Atendidos por balconistas suados e mal-humorados, comemos o pior pãozinho com presunto do mundo e um copo descartável de sukita meio quente (pensem na temperatura ambiente do Recife). Eu, Luiza e Tony, pagamos 45,00 por esse lanchinho desgraçado.  Compensa encontrar tanta gente conhecida comendo a mesma porcaria, vários amigos (e colegas) de Tony vieram nos cumprimentar no nosso batizado futebolístico.

A subida da rampa (lembrem-se que nossas cadeiras ficavam na parte mais alta do estádio) foi compensada pela linda visão do campo: sabem aquela carinha que a menininha que vai carregada pelo pai faz ao ver o campo, na propaganda do Sport TV? É verdade. Contudo, eu tinha um universo de degraus pela frente para chegar ao meu canto, e quando o alcancei, pensei que ia morrer, suando por todos os poros, morta de cansada. Ninguém precisa dizer que estou gorda, eu sei muito bem, sem precisar de espelho, basta galgar degrau por degrau na Arena. Além de tudo, tem a altura, eu fiquei pregada no assento, sem coragem de me mexer. Só me levantei para o hino, e, me sacudi um pouco nos gols. Mas, foi só. A impressão é que vamos capotar para frente a qualquer momento.


O jogo? Foi empate. Parecia até que seria fácil no início, mas aquele Soares (o que morde) é muito bom. Uma partida de futebol no campo é uma experiência intensa. Apesar de ser quase uma torcida só – havia poucos uruguaios e um punhado de argentinos – o som e o movimento é uma maré de gente. O uníssono da torcida é uma experiência não só auditiva, mas sim, visual. Já estou inscrita para uma porção assistir uma porção de jogos, basta que chegue a oportunidade e o departamento financeiro libere os recursos.

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